Ontem fui assistir ao segundo dia de Grant´s True Tales. Para quem desconhece, trata-se de um evento único onde os
convidados tomam controlo do palco do Cinema
São Jorge, em Lisboa, para contarem as suas histórias. Momentos mágicos,
caricatos, divertidos e pensativos que fazem com que o público viva um misto de
sensações.
Ontem, vi Joaquim de Almeida chorar ao recordar
o momento da morte da sua mãe. O actor disse, e bem, que é um momento que se
espera mas, por mais que se espere, nunca se está verdadeiramente preparado
para ele. Ouvi Simone de Oliveira partilhar um momento único vivido em palco
com Nicolau Breyner. Já para não falar do maldito telefone que nunca mais
tocava.
Também me deliciei com o momento de partilha de
Pedro Boucherie Mendes, que contou ao auditório a história do nascimento do seu
primeiro filho, que supostamente tinha um edema e o intestino a nascer para
fora. O que me ri com os médicos dos dois nomes e do problema que era
estacionar perto da maternidade Alfredo da Costa. Já para não falar das situações dos
casais e das decisões delas que são deles também.
Dalila Carmo subiu ao palco para falar das suas viagens. E encantou todos ao recordar os momentos vividos na pensão Sarita, no Intendente, onde a casa-de-banho comum não tinha porta. Já nos Estados Unidos, viveu um mês na casa de um antigo palhaço russo que tinha como decoração cinzas de familiares. Dalila Carmo dormiu um mês no quarto do palhaço sendo que tinha na mesinha de cabeceira as cinzas da mulher que tinha acabado de falecer, já para não dizer que não podia mexer em metade da cama onde estavam os lençóis com que a mulher tinha dormido na última noite da sua vida. A actriz revelou ainda o dia em que conduziu um táxi na Jordânia, convencendo o taxista, pedrado, que era um sonho que tinha desde os seis anos.
Um dos momentos mais pensativos foi
protagonizado por Sérgio Godinho, que revelou um dos momentos mais perfeitos da
sua vida. O dia em que uma jovem de cerca de 17 anos se cruzou com o cantor,
dizendo-lhe que estava a ouvir uma música sua, de nome O Primeiro Gomo da
Tangerina, no exacto momento que Sérgio Godinho, dias depois da morte da mãe,
levava na mão o primeiro exemplar do livro infantil O Primeiro Gomo da
Tangerina, que ia mostrar aos netos.
Seguiu-se Afonso Cruz que passou grande parte
da sua vida a viajar. A sua história centrou-se nos dias que passou na Grécia,
em Monte Athos, um local onde nenhuma mulher há-de entrar. Aliás, nenhuma fêmea
pois até os animais são machos. Deliciosos momentos de partilha de alguns
gregos que achavam que a Grécia era o centro do mundo. E o que dizer do monge
que lhe enviou um manuscrito em romeno embrulhado numa toalha de mesa de Natal
que Afonso partilhou com o público.
No fim, foi a vez de Valter Hugo Mãe, o mais
nervoso de todos e que percorre quilómetros em palco enquanto fala com o auditório.
Admiro o talento do escritor e agora fiquei fã da forma como conta histórias.
Deliciei-me a ouvir os relatos das mijadelas que dava em conjunto com Chiquinho, o seu melhor amigo de infância. O velho pedófilo que lhes queria
oferecer cromos e que os perseguiu na sala de cinema quando foram ver um filme
pornográfico. A senhora das mamas até aos joelhos que lhes queria mostrar as
mamas e ver as pilinhas. E ainda os poemas de Paços de Ferreira. Tudo em bom.
Hoje é o último dia do evento. Quem gosta destes
momentos de partilha aproveite o mau tempo e refugie-se no quentinho do Cinema São
Jorge. Parte do preço do bilhete (existem diversos valores para diferentes
acções) reverte para uma causa solidária. E, por fim, não sei se é do interesse
mas estão sempre a ser oferecidos uns maravilhosos (e diversificados) cocktails
feitos com whisky. Aconselho vivamente. A partilha de histórias e a bebida para
quem gosta. Para quem não gosta, nem se sente o sabor do whisky.
Adorei o que li.
ResponderEliminarBeijinho
É um evento mesmo giro.
Eliminarbeijos
Bolas! É nestas alturas que gostava de morar em Lisboa!
ResponderEliminarBom serão, hsb :)
*
Espero que venhas a ter a oportunidade de assistir.
Eliminarbeijos
Obrigada pela partilha, descreveste tudo tão bem que fiquei com a sensação que eu própria os ouvi.
ResponderEliminarEste tipo de eventos ficam-me a 300 km...
Beijos/ A Mãe
E contei apenas um breve resumo. As histórias foram apaixonantes.
Eliminarbeijos