objecto pequeno. impotência gigante

Uma boa parte da minha vida foi passada sem recurso a tecnologias. Vivi durante muito tempo sem telemóvel. Não usava o computador excepto para jogar. Não navegava na internet. Não me atrasava nos encontros. E, acima de tudo, era feliz assim.

Quando passei a ter telemóvel, usava o mesmo para chamadas e nada mais. O uso era reduzido e continuava feliz. Quando trabalhava no aeroporto de Lisboa deu-se o boom das mensagens de texto, na altura gratuitas. O panorama começou a mudar mas mesmo assim não era nada de extraordinário.

Passado alguns anos, um pequeno aparelho chamado telemóvel consegue deixar-me impotente. Durante algumas horas estive sem aceder a emails, chamadas ou mensagens. Foram minutos de verdadeiro pânico. Saber que tenho algo para ver e não conseguir aceder ao conteúdo por causa de uma pequena avaria deixou-me desnorteado. Não apenas por não ter acesso a tudo mas por desconhecer o conteúdo do que tenho para ver. E se é algo importante? Se aconteceu algo a alguém? Se é aquele sms profissional que tanto jeito me dava receber hoje?

É incrível como aquele pequeno aparelho se assemelha a um mundo, pelo menos ao meu mundo. É como se a minha vida estivesse ali dentro. Como se as pessoas estivessem todas reunidas dentro do aparelho e eu, de castigo, fechado cá fora, num mundo à parte.

Detesto esta sensação de impotência causada pelas novas tecnologias e nestas alturas sinto saudades dos tempos em que os telemóveis eram coisa de rico e pareciam um tijolo.