oferecer prémios a lésbicas é que não

O mundo, ou parte dele, consegue viver numa constante, e ao mesmo tempo assustadora, bipolaridade. Tão depressa defendemos a evolução e mentalidades “prafrentex” como breves segundos depois parecemos recuar até à idade das cavernas. Por exemplo, tão depressa defendemos as relações homossexuais como depois atacamos os homossexuais que estão a ocupar o lugar dos heterossexuais. Podem ser homossexuais que isso não tem mal nenhum, pois até pensamos muito à frente para o nosso tempo, só não podem é aparecer à nossa frente. Sou muito “prafrentex” desde que não os veja.

A TAP decidiu oferecer viagens para assinalar o Dia dos Namorados. Os casais só tinham de ser velozes, aparecer no local destinado para o check-in vestidos como se fossem casar e os mais rápidos ganhavam viagens para determinado destino. Entre os casais vencedores, e a transportadora fotografou todos, partilhando as imagens nas redes sociais, estava um casal de lésbicas (foto aqui). Em pouco tempo a caixa de comentários referentes à imagem transformou-se num regresso aos tempos das cavernas.

“Realmente, isto é inaceitável. O que as pessoas fazem para ganhar uma viagem” e “estou espantado com a pouca vergonha que reina neste País” são apenas dois exemplos das muitas coisas que foram ditas e que levaram a TAP a explicar que respeita a Constituição e que não faz discriminação sexual. Ou seja, temos a mentalidade “prafrentex” e achamos que os homossexuais podem e devem casar mas, por outro lado, que não roubem a viagens que poderiam ser oferecidas aos heterossexuais. Até porque casais homossexuais não têm férias. Estão destinados a viver a sua história de amor numa cave escura sem janelas. Assim é que deve ser uma relação homossexual.

Numa história em tudo semelhante, a Adidas recorreu ao instagram (foto aqui) para assinalar o Dia dos Namorados. Pode ver-se uma imagem de duas mulheres e uma legenda que diz “o amor que recebes é igual ao amor que dás”. Isto também bastou para que se gerasse uma onda de indignação e comentários menos simpáticos com algumas pessoas a dizerem que passavam a comprar Nike. Tal como a TAP, também a Adidas teve uma postura que passa por defender todos os tipos de amor, despedindo-se com alguma piada das pessoas que tiveram comentários menos próprios.

Resumindo, é tudo muito bonito. O amor é muito bonito. Todas as pessoas têm o direito de amar qualquer pessoa. Homens amam mulheres. Mulheres amam homens. Homem amam homens. E mulheres amam mulheres. Tudo é permitido. Mas convém que os homens que amam homens e as mulheres que amam mulheres se escondam numa cave. O mundo aceita o vosso amor, desde que não o veja. Se a vossa história de amor for vivida numa cave escura sem janelas (e sem férias) tudo está bem.