4.2.16

obsessão de competição

Gosto de competição. No sentido que leva à minha evolução. Detesto competição que sirva apenas para dizer que sou melhor do que fulano ou sicrano. Até já fiz de propósito para perder em algumas coisas porque sabia que a minha derrota seria a alegria de alguém em determinado momento. São aquelas derrotas que sabem melhor do que uma vitória e que todas as pessoas deveriam experimentar num determinado momento da vida.

Sou do tempo em que era possível ganhar, mesmo perdendo. Tal como sou do tempo em que era possível perceber que se tinha perdido, mesmo ganhando. Outros tempos... Talvez seja por isso que desde sempre que só me preocupo em competir comigo. Quero ser melhor jornalista a cada dia que passa por mim e não para ser uma espécie de estrela da redacção. Quero ser o melhor no ginásio por mim. Não quero gabar-me de que sou melhor do que os outros. Quero apenas ser melhor atleta do que fui no dia anterior. E sempre apliquei isto ao longo da minha vida. A competição, para mim, sempre foi com o reflexo do espelho. É esse gajo que quero superar a cada minuto da minha vida.

De resto, que venham os “sou melhor do que tu”, “sou mais bonito do que tu”, “corro mais do que tu”, “levanto mais pesos do que tu”, “pedalo mais depressa do que tu”, “jogo melhor do que tu”, “escrevo melhor do que tu”, entre tantos outros melhores do que tu. Ao não fazer parte deste campeonato nunca vou estar deprimido por ter vencido a pessoa que está ao meu lado para segundos depois perceber que ao lado dessa está outra que continuo a ver como um alvo a abater. E depois dessa está mais uma. E mais outra, isto num processo sem fim que exige a constante necessidade de provar que sou melhor do que os outros. É como aquela cenoura que está presa ao burro e que ele, por mais rápido que seja, continua sem a apanhar.

Quando as pessoas perceberem que a competição deve ser, acima de tudo, interior vão facilmente perceber que é isso que faz delas melhores. Melhores pessoas, atletas mais aptos, trabalhadores mais determinados. Talvez um dia percebam que é isto que acaba por fazer com que a pessoa, não sendo um objectivo obsessivo, seja melhor do que os outros, mesmo não estando presa à obsessão de aniquilar cada pessoa com que se cruza, como se fossem aqueles soldadinhos de plástico com que as crianças brincam.

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