16.2.16

deambulando por aí #1

Para celebrar o Dia dos Namorados tinha como objectivo preparar um fim-de-semana surpresa para a minha mulher. Entre os destinos a concurso estava Óbidos, ideal para uma noite fora de casa. A viagem é curta, existe muito para visitar na vila e perto, algo que considero importante quando a estadia é apenas de uma noite. Quando comecei a pesquisar onde ficar não procurava nada em especial, até que descobri o The Literary Man, hotel de que nunca tinha ouvido falar. Assim que vi as fotos fiquei rendido. Partilhei as imagens com a minha mulher que ficou igualmente rendida.

Depois veio a parte da mentira. “Queria marcar o Dia dos Namorados para lá mas já não tinha vagas”, disse, mentindo com todos os dentes que tinha na boca. Reservei uma suite e o a minha mentira acabou por ser facilmente mantida pois apanhei o último quarto do género. Caso a minha mulher fosse confirmar se estava a mentir ia encontrar a mensagem de que já não existiam quartos disponíveis. Algo que permitiu manter a mentira até à data da viagem.

Não conhecia o espaço mas bastou uma fotografia para perceber que andava em torno dos livros. E com uma rápida pesquisa percebi que o The Literary Man é o maior hotel literário do mundo tendo mais de 45 mil livros e apenas trinta quartos, alguns deles renovados. Gostei tanto do que fui vendo nas imagens que acabei por reservar mesa para que o jantar também fosse no hotel. E restou-me esperar até ao dia em que ia conhecer o espaço.

Assim que entrei rapidamente percebi que nenhuma fotografia, por melhor que seja, consegue fazer justiça ao hotel. Existem espaços que ganham muito com uma boa imagem. Aqui não é o caso. Nenhuma consegue fazer justiça à beleza. E muito menos consegue passar a sensação daquilo que se sente no The Literary Man. Fomos recebidos por Telmo Faria, o dono do hotel. E se dizem que os primeiros segundos marcam uma relação é caso para dizer que Telmo conquista qualquer pessoa com a sua simpatia e disponibilidade. Fez o check-in, com alguns momentos divertidos pelo meio, colocou-nos algumas questões e, sem que fosse solicitado, encarregou-se de percorrer o hotel connosco.

Foi falando sobre os diferentes tipos de livros, explicou que todos estão à venda e passo a passo e palavra a palavra chegámos à “sala mágica” (a melhor forma de descrever a sala de jantar). Os livros consomem qualquer pessoa. E acabam quase por abafar a não menos maravilhosa decoração que nos permite encontrar, por exemplo, uma alface a ornamentar uma mesa. A decoração é fantástica, tal como a lareira de generosa dimensão. Mas a magia está toda nas paredes repletas de livros. A magia/espírito do The Literary Man são mesmo as dezenas de milhares de livros que estão ali à disposição de qualquer pessoa. Entre outras coisas ficámos a conversar com Telmo Faria sobre gins, já que o hotel tem um bar bastante diversificado.

Quando chegou a hora de jantar voltámos a ser recebidos por Telmo Faria que voltou a demonstrar a sua simpatia. Tal como o proprietário também os funcionários são de um trato exemplar. Sorriso fácil, palavras simpáticas e tudo corre bem. Deram-nos a conhecer o menu alusivo ao Dia dos Namorados, que acabou por ser a nossa escolha. Pão feito na casa acompanhado por um azeite da Serra da Estrela como entrada. Seguiu-se a sopa de tomate e uns secretos de porco preto confeccionados de uma forma especial. Por fim, uma deliciosa sobremesa de maçã. Para acompanhar escolhemos um vinho tinto do Douro, um Carm reserva.

Estando naquela sala é impossível desejar abandonar a mesma quando se termina a refeição. Os gins são bastante apelativos. E os sofás que estão perto da lareira também atraem quem por ali está. Como tal, e “desafiados” por Telmo Faria provámos dois Wint & Lila, gin que desconhecia e que entrou directamente para a lista dos meus preferidos. Sem que se desse pelo avançar do tempo passámos mais de três horas naquela sala. No dia seguinte, ao pequeno-almoço, a sala mantinha a magia da noite anterior. Achei especial piada ao facto de diversos detalhes alusivos ao Dia dos Namorados como era o caso do bolo de chocolate que estava acompanhado de uma placa onde podia ler-se “bolo do amor”. Estando os livros à venda, não poderia vir embora sem comprar Casino Royale, de Ian Fleming, a minha história preferida de James Bond. O texto já vai longo mas poderia ficar horas a escrever sobre um pequeno hotel com uma grande magia onde pretendo voltar sempre que for possível. Agora, já chega de palavras e partilho algumas imagens do The Literary Man.

Os sofás perto da lareira com os livros de fundo.

Pormenor da sala principal.

Uma sala no primeiro andar.

Uma sala onde estão livros de culinária.

Pormenor perto da entrada.

Livros da colecção James Bond.

Uma porta do hotel.

Mesa de jantar.

Entrada (pão feito no hotel e azeite da Serra da Estrela)

Sopa de tomate.

Secretos de porco preto.

Sobremesa de maçã.

A melhor companhia de sempre!

Bar de gins.

Detalhe da decoração.

Livros, lareira e gin.

Mesa de pequeno-almoço.

O delicioso bolo do amor.

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