Só ontem é que acabei de ver a série O Caso de O.J. - American Crime Story, de apenas dez episódios e transmitida na FOX, que dá a conhecer como é que decorreu o processo em que o ex-jogador de futebol americano foi acusado de matar a ex-mulher e outro homem que estava com ela. O caso remonta a 1994 e na altura fez parar os Estados Unidos da América (por exemplo, a leitura da sentença foi vista em directo por muitos alunos em diversas escolas).
Vi a série (recomendo a todas as pessoas) sem ignorar que estou em 2016 e que já sei que OJ foi culpado porque confessou o crime anos mais tarde. Mesmo assim e recuando no tempo não teria dúvidas em acreditar que aquele homem só podia ser o culpado. Desde as provas relacionadas com sangue até à reacção no momento em que é informado que a ex-mulher morreu sem que tivesse questionado o que lhe tinha acontecido. Era tudo muito evidente para mim.
Mas os tempos eram outros. Por exemplo ainda mal se falava em DNA. Por outro lado, talvez tenha sido o primeiro julgamento, daquela dimensão, em que o arguido era uma estrela nacional (os polícias quase que tinham receio de o abordar) e um símbolo da comunidade negra. E não sendo um caso de racismo acabou por ser transformado num caso em torno da “n word (nigger)”. E aqui a acusação tem alguma culpa por ter colocado como testemunha um polícia racista. Algo que acabou por ser um grande trunfo, talvez o maior, da defesa.
Tentando recuar no tempo continuo surpreendido pela facilidade com que o júri, que passou meses fechado num hotel, decidiu que era inocente. Mas também é verdade que existem coisas que não mudaram desde 1994. Acredito que os julgamentos continuem a ser pautados pela confusão, pelas ideias distorcidas que levam a que as pessoas se afastem do essencial e, acima de tudo, fiquem com dúvidas. É um jogo de manobras astutas que conseguem transformar algo secundário em algo de relevo e que conseguem desacreditar factos que aparentemente não levantam dúvidas.
Resumindo, aquele caso foi transformado num ataque à comunidade negra com a defesa a passar a imagem de que um detective racista representava toda a polícia de Los Angeles. E no meio desta confusão passou despercebido um assassino que esfaqueou duas pessoas até à morte. Um dos momentos mais marcantes da série acontece no último episódio em que Chris Darden (do ministério público) fala com Johnnie Cochran (um dos advogados de defesa).
São ambos negros e o último enaltece a luta do primeiro e revela-se disposto, quando a poeira assentar, a fazer com que volte a ficar bem visto na comunidade negra. E Chris explica-lhe que não mudou nada na comunidade. Diz-lhe que os negros vão continuar a ser presos, espancados e mortos pela Polícia. Que a única coisa que mudou foi para os ricos de Beverly Hills. E este diálogo resume muito bem aquilo que se passou durante meses naquela sala de tribunal com um caso de racismo que nunca o foi.
O OJ nunca confessou o seu crime. Vários amigos disseram que ele lhes disse a eles que ele cometeu os homicídios, mas ele nunca confessou. Ele foi preso por outros motivos.
ResponderEliminarSe não estou em erro, dez anos depois das mortes, OJ confessou o crime em entrevista que se encontra no youtube. Mas é um facto que está detido (33 anos e pode sair em liberdade condicional para o ano) por assalto à mão armada em Las Vegas se não estou em erro.
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