Não sou pai. Mas também não preciso de o ser para pensar em determinados momentos que certamente serão bastante dolorosos para quem o é. É certo que por mais que imagine, por mais que tente, nunca irei perceber determinados níveis de dor. E ainda bem que assim é. Mas nada do que escrevi até agora impede que me arrepie com determinadas palavras e situações. Como é o caso de uma mãe que tem duas filhas que já tiveram anorexia.
Essa mãe, ou uma dessas mães, é Júlia Pinheiro, mulher que já tive o gosto de entrevistar e mulher de quem é fácil gostar. Não consigo imaginar o que custa a uma mãe lidar com uma situação tão dramática ao mesmo tempo que ocupa um cargo de relevo. E isto aplica-se a esta mãe famosa tal como se aplica a todas as mães (e pais) anónimas que têm de equilibrar a carreira com a preocupação de não falhar enquanto mãe. Situação por si complicada e ainda mais quando os filhos lidam com situações complexas.
E se não consigo imaginar o que é viver isto, arrepio-me quando ouço as palavras de uma mãe em relação à doença dos filhos. "Foi um cataclismo. Uma espécie de vertigem. Os pais nunca estão preparados para a doença dos filhos. E a anorexia é uma doença que, lá em casa, pôs toda a gente doente. Passámos a viver sob a ditadura de um prato", revela Júlia Pinheiro numa entrevista, para a sua revista, feita por Manuel Luís Goucha. E o apresentador pergunta mesmo se Júlia Pinheiro se culpou do que aconteceu. "Sim, muito. Posso dizer com a maior tranquilidade que nunca falhei a nada por causa da minha profissão, nunca faltei a uma festa da escola, a um sarau de pífaros, de piano, de ginástica, a aniversários, nada. O meu maior erro, para além de não ter estado tão atenta como deveria no momento em que as coisas estavam a começar, foi achar que o amor chegava", diz.
Não sei se foi uma resposta fácil de dar mas tenho a certeza absoluta que é a mais sincera de todas. Enquanto filho não acho que achar que o amor chega é um erro. Tal como nenhum pai consegue estar atento a tudo e durante todo o tempo. Infelizmente existem situações como esta que acabam por virar do avesso a vida de uma família. Tiro o meu chapéu à resposta de Júlia Pinheiro e também ao facto de assumir a sua (eventual) culpa numa situação delicada.
Eu que criei uma enteada a partir dos 14 (já tem 22) tenho pena da Júlia,óbviamente. Mas lá pq foi aos acontecimentos da filha não quer dizer que estivesse realmente presente ou atenta.
ResponderEliminarTb é dito na entrevista que foi a costureira,salvo erro, que lhe disse que a filha estava muito magra. Ela não reparou nisso? Não deu conta da extrema magreza da filha?
É triste,mas muitos pais, não prestam realmente atenção aos filhos, nem percebem (ou não estão para isso) as mudanças de humor/hábitos deles.
Desde que não chateien ...até ao dia....
Acredito que este assumir de culpa não seja nada fácil de verbalizar. Mas enalteço quem tem a coragem de o fazer em vez de culpar terceiros.
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