27.5.16

sou do tempo em que as profissões eram chamadas pelos seus nomes

Sou do tempo em que as profissões eram chamadas pelos seus nomes verdadeiros. Ou seja, um vendedor era um vendedor. Um varredor era um varredor. E por aí fora seguindo um longo caminho onde cabem todas as profissões possíveis e imagináveis. E, por exemplo, quando uma empresa queria contratar um vendedor colocava um anúncio a pedir isso mesmo... um vendedor. Não existiam grandes máscaras nem maquilhagens que transformavam uma profissão naquilo que não é. As coisas eram simples e directas.

Em poucos anos tudo mudou. Hoje, um vendedor é um assessor de marketing e comunicação. Pelo menos no anúncio de emprego. Porque na realidade é um vendedor. Quando me deparo com anúncios de emprego sinto que não me enquadro em nenhum. Ou em muitos poucos. Basta ler o cargo desejado para imaginar que estão a pedir uma licenciatura em Oxford, uma pós-graduação em Princeton e um mestrado em Harvard. E fico também com a ideia de que a falta de uma destes três coisas é factor eliminatório para os candidatos.

Mesmo assim dou-me ao trabalho de ler alguns anúncios. E começo a perceber que para alguns do cargos com nomes pomposos são pedidas pessoas que praticamente precisam apenas de saber falar. Pouco mais do que isto basta para que se possa vir a ser o assessor de marketing e comunicação que uma qualquer empresa necessita. E fico sem perceber o objectivo de dar nomes pomposos a funções tão simples e dignas que existem há muito. O objectivo será atrair mais pessoas? Pessoas com outras qualificações que possivelmente não estariam interessadas num anúncio mais simples? Não sei. O que sei é que em determinado momento vão ter de dizer ao candidato que a sua função será a de vendedor.

E quando começo a ver anúncios percebo também que ainda sou do tempo em que os trabalhadores eram pagos consoantes a experiência e formação académica. Não eram pagos à tabela ao estilo de 700 euros por mês para qualquer cargo de qualquer área sempre acompanhado da muleta "o mercado está complicado mas estamos a apostar em ti". Mas isto é tema para outro texto. Quem o diz é um especialista em comunicação direccionada para as redes digitais, ou, trocando isto por miúdos, o autor de um blogue.

6 comentários:

  1. Infelizmente na minha profissão isso nunca foi verdade. Há anos que vemos as nossas carreiras congeladas e nem reconhecimento do nome temos. Passam a vida a chamar-nos de Enfermeiros quando nem sequer temos coisas em comum. Os técnicos de Análises Clínicas e Saúde Pública (Analistas clínicos) existem e não somos nem médicos nem enfermeiros como as pessoas a quem tiramos sangue nos chamam. Vamos lá a dar um pouco mais de reconhecimento, sff.

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  2. Sim... e além disso deve-se falar pelo menos 3 línguas, ser recém licenciado mas com 5 anos de experiencia e ganhar o salario minimo ao abrigo de um qualquer programa do iefp...

    Bom fim de semana!

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