Nasci em 1981. Faço parte de uma geração de crianças que obedeciam aos pais. E a frase anterior não tem nada que possa ser associado a uma qualquer ditadura parental. É uma questão de respeito e até, e peço desculpa às pessoas mais sensíveis, de lógica natural. Por exemplo, não faz qualquer sentido que eu, com poucos anos de vida, mande nos meus pais. E a verdade é que nunca mandei.
E este mandar não tem nada de errado. Quando falo nisto é no sentido que a minha vida não era regida pelas minhas regras. Ou seja, fazia aquilo que os meus pais queriam. E que entendiam ser melhor para mim. Sem qualquer questão. É óbvio que os meus pais não me obrigavam a fazer coisas de que não gostava. Tal como não me obrigavam a comer coisas de que não gostava. Mas também não eram marionetas dependentes dos meus gostos e vontades.
Como dizia um humorista, num vídeo que vi recentemente, sou do tempo em que, na hora de jantar, a minha mãe servia os pratos de comida sem que ninguém questionasse o que quer que fosse. Tanto eu como a minha irmã não dizíamos que não queríamos isto ou aquilo. Era o que a minha mãe tinha feito e pratos que ainda hoje guardo com muito carinho. Tal como, e ainda seguindo o raciocínio do mesmo humorista, sou do tempo em que os filhos ouviam respostas do género “quando fores tu a pagar e a mandar fazes o que quiseres”.
Acredito que para muitos pais destes dias esta última frase seja um horror. Seja algo que um filho não deveria ouvir. Na realidade aquela frase não tem nada de errado. Aliás, todas as crianças deveriam ouvir algo semelhante. Mas nos tempos que correm nada disto acontece. E porquê? Porque os filhos mandam nos pais. Pais que têm receio de ser mal interpretados pelos filhos e que acabam por ceder a todos os caprichos de crianças que sabem, como ninguém, tirar proveito do comportamento e reacções dos pais.
A verdade é que os pais é que mandam nos filhos. Se vão errar? Provavelmente! Se isso faz deles maus pais? Nunca! Porque acredito que escolhem sempre a decisão que acreditam ser a melhor naquele momento. E a verdade é que muitos “nãos” que as crianças ouvem e muitos “porque eu mando” têm muito sentido e têm muito mais valor do que um “sim, faz o que desejas” que serve apenas para calar uma criança. E posto isto é com orgulho que digo pertencer ao tempo em que os pais mandavam nos filhos.
Há pouco tempo perguntaram-me quem era a melhor amiga da minha filha. Respondi que não tem uma melhor amiga porque é um menino.
ResponderEliminarA pergunta trazia rastreira porque na verdade, a maior parte dos Pais de hoje em dia, (re)vê-se como o/a melhor amigo/a dos seus filhos.
Na nossa casa, agora com um membro mais pequeno (3 meses) e uma pequena curiosa com quase 6 anos, temos sim, muitas regras, no ano passado a minha filha foi a única, dos 25 da sala dela a mandar escrever no postal do dia da Mãe que eu lhe dou "porrada" porque lhe dei uma palmada no dia anterior. Se isso me faz sentir mal? Não.
Não admito faltas de respeito, não ando a criar filhos abutres, que um dia mais tarde me suguem até ao tutano, irá chegar ao ano em que irão embora (e eu não vejo mal nenhum nisso) é natural que aconteça. Mas que saiam da casa deles, preparados para educar os seus filhos, dentro do respeito e da educação que tiveram.
Ah, e tenho 39 anos... não sendo velha, considero os filhos "um investimento a longo prazo" e verei, mais à frente, no futuro, o fruto do meu trabalho (e não sacrifício como muito leio por ai, ter filhos é o MELHOR do mundo).
Desculpa o testamento.
Mimos ;)
Agradeço o testamento ;)
EliminarGostei muito de ler o que escreveste.
Cada vez mais se vê os filhos a mandar nos pais, e estes últimos encolhidos, quase envergonhados, perante aquele ser '"superior" que criaram. Faz-me muita pena, mas a verdade é que a culpa de os filhos serem assim é dos pais, que nunca os puseram na ordem...
ResponderEliminarAcho que muitos pais não o fazem por mal. Acho que até chegam a acreditar que é o melhor para os filhos mas estão a cometer muitos erros.
EliminarEu sou de 1991 e felizmente ainda sou das poucas que me orgulho de ter tido uma boa educacao, embora porem tambem devo admitir que ja no meu tempo fui bastante mimada. Tanto que e' com alguma vergonha que admito, iniciei-me no meu primeiro trabalho com 21 anos. E' uma vergonha sem duvida, se por um lado culpo os meus pais por nunca me terem permitido iniciar-me em tal aventura, por outro lado culpo-me a mim pois sempre me senti demasiado confortavel com o que era me dado e a verdade e' que nunca dei valor as coisas que me foram dadas ate' ser eu a ganhar para as ter. E se ja' entao me condeno por ter abusado da bondade dos meus pais, sei-o bem o que acontece hoje em dia. E' cruel mas e' a pura realidade. E a culpa infelizmente esta nos pais, mas nao e' so nos pais. Ninguem nasce ensinado, nem para se ser pai nem para se ser filho. Mas o tempo abre-nos os olhos. E ensina-nos.
ResponderEliminarO problema é que muitos pais não conseguem revelar uma "evolução" nessa nobre missão e acabam por não aceitar a interferência de ninguém.
EliminarPois é, só que a postura dos pais de hoje também se deve a uma coisa chamada comodismo.
ResponderEliminarSentar a criancinha junto à televisão em todo e qualquer tempo livre, deixar o adolescente apanhar verdadeiras "overdoses" de redes sociais e quejandos, é muitíssimo menos cansativo do que educar.
Os exemplos que referes, não só são os correctos como os aconselháveis, ui, mas isso dá uma trabalheira danada!
Recordo, e com que respeito, que um não da minha mãe era definitivo, nem valia a pena ter veleidades que seria de outra forma, e hoje estou-lhe imensamente grata pela forma como me ajudou a crescer, e a todos os níveis.
Um carácter não se forma quando os valores estão invertidos. Dar ordens aos meus pais? O curioso é que nem nunca tal coisa me ocorreu!
Muitos pais só querem que os filhos se calem e não os aborreçam.
EliminarTambem eu...as vezes é difícil repreender um filho, parece que "quebra" a nossa cumplicidade/ companheirismo, mas por muito que custe e para seu próprio benefício nao posso ser a amiga, tenho que ser a mãe e ajuda la a tornar se um ser humano educado, respeitoso e produtivo na sociedade. Filhos que agridem os pais aqui em casa nao obrigado.
ResponderEliminarÉ uma missão que tem tanto de nobre como de complicada e que não é bem sucedida sem alguns nãos.
EliminarAinda hoje de manhã tive uma conversa semelhante com uma colega, nasci em 83, o não dos meus pais sempre foi indiscutível. Hoje sou uma mulher bem formada, segura, feliz e em nada traumatizada.
ResponderEliminarÉ tão simples não é?
EliminarEu tb acho que pais não são amigos. No sentido de que somos iguais e estamos no mesmo patamar. Hierarquia,parece que deixou de existir.
ResponderEliminarAmigos,no sentido de não lhes falhar, concordo.
Mas sim,os pais têm uma vida muito stressante (ironia) e é mais fácil não os aturar.
As pessoas esquecem-se que as regras (e o seu cumprimento) é que dão equilibrio às crianças.
Sou amigo dos meus pais mas isto não invalida a hierarquia natural das coisas.
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