a vaca da érica fontes

Érica Fontes tem sido ao longo do dia um dos maiores destaques das notícias. Para quem não sabe, Érica Fontes é a actriz pornográfica mais famosa de Portugal tendo já sido eleita A Melhor Actriz Porno Estrangeira numa espécie de Oscares da indústria dos filmes para adultos. Mas curiosamente a actriz não foi notícia pela sua carreira mas por um acontecimento que envolve um restaurante situado no Porto. Restaurante esse que fez uma piada que rapidamente se espalhou pelo mundo virtual e que passou a ser uma das notícias do dia. A piada foi esta.

“Podia perfeitamente ser um pedaço de Érica Fontes... Mas é de uma outra vaca”, escreveram no Facebook. Para início de conversa a hipocrisia tem de ser colocada de parte. Que atire a segunda pedra (todos já atirámos a primeira, como diz um amigo) quem nunca chamou vaca a uma mulher. Ou quem nunca fez uma piada menos própria. E isto aplica-se a todas as pessoas, homens ou mulheres. “Aquela gaja é uma vaca”, é provavelmente algo que todas as pessoas já ouviram algures.

Mas uma coisa é uma piada, por mais estúpida que seja, ou uma ofensa, por mais errada e inapropriada que seja, feita a uma ou duas pessoas. Uma conversa sem qualquer repercussão porque “ninguém” irá ouvir aquelas palavras. Algo que não deixa de ser errado. Outra coisa diferente é as pessoas defenderem que todos temos direito a partilhar a nossa opinião e que isso nos dá direito a fazer piadas deste género com todas as pessoas. Que isso não é mais do que exercer a liberdade de expressão. Outra ainda diferente é algumas pessoas desconhecerem os crimes de difamação, injúria ou calúnia. E quem não sabe estes crimes agravam-se quando ocorrem em plataformas de divulgação social, como é o caso do Facebook.

E é isso que está em causa. É disso que Érica Fontes se pode queixar. Além de considerar que é um erro uma marca/espaço fazer algo do género, mesmo entendendo que isso é uma aposta de comunicação diferente. É claro que haverá sempre quem ache que é uma tirada de humor genial. Haverá também quem defenda que é um exagero que nenhuma mulher merece porque as mulheres não são pedaços de carne. Mas, por mais diferente que seja a opinião, ninguém pode ignorar a lei. E a lei é bastante clara neste domínio.

À parte da lei podemos debater tudo e mais alguma coisa. A piada. A graça ou a falta dela. A forma como a sociedade ainda olha para as strippers, prostitutas e actrizes pornográficas, com muitas pessoas a considerarem que são mulheres inferiores às advogadas, médicas ou que tenham qualquer outra profissão vista como séria e respeitada. O civismo. O desconhecimento da lei. Até mesmo a publicidade que uma polémica destas acaba por gerar, tanto para o restaurante como para a actriz. Tudo isto pode ser discutido. Todos os pontos de vista são válidos. Mas nenhuma opinião está acima do que está escrito na lei quando o tema é difamação, injúria ou calúnia. E é isto que as pessoas precisam de perceber. Que não vale tudo e que o mundo virtual não está acima da lei.