19.1.16

a mensagem que se perde

Se existe algo que não compreendo é a necessidade que algumas pessoas têm de rebaixar, humilhar e diminuir alguém quando tentam passar uma mensagem. Existem diversos motivos pelos quais não compreendo esta postura mas, de forma resumida, acredito que esta postura tem o efeito oposto ao desejado. Não sei se a ideia é reforçar aquilo que se pretende transmitir ou enaltecer algo ou alguém mas sou da opinião de que a mensagem acaba por se perder no meio de tantas palavras que não fazem sentido num determinado contexto.

Exemplo disto é Maria Vieira, actriz que vi frequentemente na televisão enquanto fui crescendo. Maria Vieira está contra o facto de, na sua opinião, a RTP, mais especificamente um serviço noticioso do canal público ter feito um “curto e miserável apontamento” à morte do realizador Fernando Ávila, um homem que “tanto deu de si à estação desde 1987 e que tão pouca atenção recebe pelo muito que fez para oferecer felicidade e bem estar a quem assistiu aos sucessos da sua carreira”, partilhou na sua página de Facebook.

Nada tenho contra esta crítica. Maria Vieira tem uma longa carreira que fala por si. É uma mulher de outros tempos, de outras pessoas e de outros valores. É perfeitamente normal que sinta muito a peito aquilo que considera ser uma grande injustiça. E não é isso que pretendo discutir. Até porque estamos no campo das opiniões e a de Maria Vieira, sobretudo quando o tema é representação, é bastante válida. A minha crítica vai no sentido do resto do seu desabafo. Algo que considero despropositado.

“E logo depois, assisto a uma extensa reportagem sobre um idiota qualquer, de seu nome Hozier, que vem a Lisboa dar um concerto porque terá cantado uma música (um lixo do pior pelo que ouvi) que visa, segundo o tal Hozier, alertar para as 'doutrinas que nos ensinam a ter vergonha de nós próprios e da nossa sexualidade' com um vídeo onde aparecem duas pessoas do mesmo sexo a beijarem-se na boca, como se isso não fosse normal e corrente nos dias de hoje e alguém precisasse que um idiota qualquer que não sabe tocar nem cantar porra nenhuma, nos viesse lembrar de algo que é natural em qualquer país civilizado e democrático deste mundo”, escreve no mesmo texto.

“Enfim... Morre o generoso, competente e talentoso Fernando Ávila, um português que houvera louvar como ele merece e dá-se mais importância a um parvo qualquer, um irlandês idiota e incompetente, que apenas pretende ganhar uma pipa de massa à conta da exploração de umas evidências sexuais que há muito não precisam de ser justificadas ou defendidas, tão só por serem tão normais quanto outras quaisquer”, conclui. Aquilo que não percebo no desabafo de Maria Vieira está neste dois últimos parágrafos.

Quando li a totalidade do comentário fiquei sem perceber quem tinha morrido. Só recordava o ódio em relação a um artista, Hozier, que não fez mal nenhum a ninguém para aparecer num serviço noticioso da RTP. “Um idiota qualquer”, “um lixo do pior”, “que não sabe tocar nem cantar porra nenhuma”, “parvo qualquer” e “um irlandês idiota e incompetente” são palavras que não consigo perceber. Mesmo dando de barato que qualquer pessoa é livre de entender que Hozier não tem talento. Tal como haverá muita gente a achar que determinados actores não têm qualquer talento. São opiniões. Tudo isto fez com que a mensagem se perdesse. O que deveria ser uma crítica em relação aquela que considera ser a postura errada de uma estação acaba por ser um banho de ódio dirigido a um cantor que tem como defeito ter aparecido nas notícias. Parece que foi Hozier a decidir o alinhamento e destaque das notícias.

Será que as palavras que Maria Vieira dirige a Hozier não podem ser aplicadas a tantos actores? Quantos actores ganham dinheiro com papéis que nada nos ensinam e que são tão normais e naturais em qualquer país civilizado e democrático deste mundo? Será que isto nos dá o direito de ofender essas pessoas apenas porque não concordamos com este ou com aquele aspecto e porque têm mais destaque do que outras pessoas que admiramos? O trabalho de Fernando Ávila fala por si. A sua carreira e o seu talento não precisam de defesas. Muito menos quando estão inundadas por um ódio inusitado e sem sentido.

7 comentários:

  1. Olha vem em bora hora este post, com a última "piada" do Rui não sei quê, o comediante. Depois daquela divertida em que disse que ia violar mulheres se não pudesse fazer piropos, vem criticar a Sofia Ribeiro por ter feito o tal vídeo. Sinceramente não percebo este povo e o gozo que lhes dá (como parece que deu à Maria Vieira falar tão mal de uma pessoa mais famosa que ela) em dizer as maiores merdas que querem dos outros.

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    1. O caso do Rui está a resultar numa grande confusão.

      No caso da Maria Vieira, o ataque ao cantor faz com que a mensagem se perca por completo.

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    2. O caso do Rui não é uma confusão, são piadas más, básicas e que servem para dizer "uhh olhem para mim e para o meu humor negro, eu digo o que quero e que me vem à cabeça independentemente de ter ou não piada, ter um objetivo ou ofender alguém". Estou completamente farta dos "comediantes" terem um free pass no que diz respeito à porcaria que dizem.

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  2. pois nem mais!!!!ela até terá razão em não terem dedicado mais tempo de antena à morte do senhor,mas que culpa tem o artista???e se eu gosto dele....bem,ele nunca ia gostar de mim,mas eu adoro ouvi-lo,claro está!Às vezes mais vale seguir um conselho precioso dado pela minha querida mãe:se não tens nada de bom pra dizer,fica calada.

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    1. O cantor não tem culpa de nada. A crítica deve ser à RTP e não a um artista. Os comentários são exagerados e sem lógica.

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  3. Bem... a senhora deixou-se levar e exagerou muito mesmo. Não havia necessidade e acabou por, a meu ver, estar muito mal.

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