Não sei se ainda está presente na memória de todos mas quando Paulo Futre foi candidato à presidência do Sporting disse algo como “vai vir charters da China” para ilustrar a sua aposta em contratar jogadores chineses para representarem os leões. Futre perdeu as eleições. Os charters nunca vieram. Mas agora acontece algo que faz com que todos os portugueses recuperem a mítica frase do antigo jogador.
Não há volta a dar. O futebol português é fraco. Quando se compara a nossa liga com as restantes europeias ficamos a perder em quase tudo. E o espelho disto são jogos com cerca de 600 pessoas no estádio. E ordenados em atraso. Clubes que contratam a prometer aquilo que sabem não conseguir pagar. E por aí fora. As polémicas fora do campo são mais do que muitas e todo este ambiente acaba por ser pouco atractivo para os investidores quando aqui mesmo ao lado, noutra liga qualquer, o investimento terá sempre melhor retorno.
Por isso, tiro o meu chapéu a quem consegue atrair investidores para o futebol português. Mas, por outro lado, não pode valer tudo para o conseguir. Não podemos baixar as calças só para ter dinheiro no nosso futebol. E é mais ou menos isto que Pedro Proença conseguiu fazer ao assinar um contrato com a Ledman, uma multinacional chinesa que irá patrocinar a nossa II Liga. A acordo prevê que o campeonato passe a ter o nome da empresa. Até aqui tudo bem, tal como a verba anual a ser distribuída por todos os clubes. O pior é o resto.
Este contrato obriga a que sejam incluídos dez jogadores chineses nos dez melhores clubes do campeonato sendo que existe uma “obrigação” de que estes jogadores joguem, de modo a evoluir. Se um clube colocar o jogador chinês a jogar durante 90 minutos recebe 2000 mil euros por jogo. Se jogar 30 minutos tem direito a 1000. Existem ainda três treinadores adjuntos chineses que também vão ter de ser colocados nos clubes.
Se nada tenho contra o patrocínio e contra o dinheiro dado aos clubes, mas sou contra a obrigação de inclusão de jogadores chineses. Simplesmente porque acredito que isto vai mudar as equipas. Tal como sou da opinião de que devem jogar os melhores. É certo que podem dizer que existem “arranjinhos” entre empresários, presidentes e treinadores. Mas, caso existam, são feitos às escondidas e olhos que não vêem, coração que não sente. Este acordo faz com que tudo seja feito à “descarada”. Por exemplo, o clube terá de optar entre ter um bom jogador a jogar ou um inferior que garante um encaixe de dois mil euros por jogo (caso seja titular).
Estas medidas vão fechar ainda mais as portas aos jovens jogadores portugueses que são cada vez mais colocados de lado. É pena que se olhe para os nossos campeonatos como se a única coisa que lhe falta é dinheiro. Quando não é! E dou sempre o exemplo do futebol inglês. Os jogadores com passaporte europeu podem jogar em qualquer clube. Os jogadores não comunitários têm de provar o seu valor para jogar. Neste caso têm de ser presença assídua nas suas selecções. E esta medida promove a qualidade das competições ao mesmo tempo que não fecha as portas aos jogadores locais. E há muito que defendo que necessitamos de uma medida destas no nosso futebol. Os clubes não se endividavam tanto ao contratar jogadores estrangeiros de qualidade duvidosa ao mesmo tempo que passavam a apostar nos jovens jogadores portugueses que além do talento são muito mais baratos.
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