17.9.15

(des)encontros (capítulo quinze)


“João! João! Espera João”, continuava a gritar Sophia. Apesar de determinado em seguir o seu caminho João acabou por parar, curioso com aquilo que poderia ouvir. “O que me queres dizer?”, perguntou. “Já estou por tudo. Depois de ter feito a viagem que fiz, com o objectivo de te encontrar e depois de ouvir o que ouvi da tua boca, não há nada que me possas dizer que me deixe a sentir mais estranho do que já sinto. Mesmo assim dou-te algum tempo de antena”, disse.

“Quero que saibas que não esperava nada disto. Peço que te coloques no meu lugar e que imagines que sou eu que apareço na tua vida, num local onde não imaginas encontrar-me, aliás nem sequer imaginavas voltar a ver-me, e onde estás com a tua namorada. A tua reacção não seria igual à minha?”, perguntou. “Sim”, respondeu João de pronto. “Afinal não somos assim tão diferentes”, soltou Sophia.

“Isso já é uma coisa completamente diferente. Consigo colocar-me no teu lugar e assumir que teria uma reacção igual à tua mas nunca provocaria esta reacção. Nunca teria dito o que me disseste em Portugal. Nem faria de ti uma brincadeira no momento em que não estás perto do teu namorado. Acho que nem tens noção das coisas que disseste, dos desabafos que fizeste, daquilo que contaste da tua vida. Não tenho de te explicar tudo novamente mas pareces uma feliz prisioneira na vida que escolheste. Eu fui apenas uma brincadeira regada a álcool. Fui apenas a tua ligeira fuga à realidade. O teu escape. Sinto-me a moca da ganza que fumaste e de que te arrependes quando o efeito passa e só tenho de lidar com isso”, explicou João.

“Não digas isso. Estás a ser exageradamente duro comigo. Não mereço isso. E não sabes tudo da minha história com o meu namorado”, disse Sophia. “Não sei e neste momento já não quero saber. E por falar no teu namorado, deve ser aquele rapaz com ar aborrecido ali ao fundo a olhar para nós. Deves ter coisas para explicar. Adeus e sinceramente espero nunca mais te ver. Adeus”, disse João, voltando costas e abandonando o local.

Já na rua, João parou para respirar fundo e pensar no que tinha acabado de fazer. Por um lado era consumido por um sentimento de culpa. “Acho que fui muito duro com ela. Coitada. Se calhar volto lá para lhe pedir desculpa”, pensava. Por outro lado sentia orgulho. “Não vais nada pedir desculpa. Disseste o que tinhas de dizer e só tens de estar feliz por revelares uma força que julgavas não ter. Aprende com isto e vai beber uma cerveja”, era aquilo em que também pensava e aquilo em que acabou por se centrar, prometendo entrar no primeiro bar que encontrasse.

E não foram precisos muitos passos para encontrar um bar. Parecia estar cheio mas uma promessa não se quebra e João acabou por entrar. João não sabia se o aglomerado de pessoas estava relacionado com a proximidade ao local do concerto ou se seria sempre assim. Mas isso pouco importava. O que queria mesmo era beber cerveja e acabou por conseguir arranjar lugar num daqueles lugares presos ao balcão. Pediu uma cerveja e levou a mão ao bolso para ver as notas que tinha consigo. Quando as retirou sentiu um toque diferente. Era o cartão que Inês lhe tinha dado. “Como é que isto veio aqui parar?”, pensou. “Pensava que já tinha deitado isto fora. Não preciso de nenhum seguro”. Quando se preparava para amachucar o cartão na mão acabou por deixa-lo cair para cima do balcão. O cartão acabou por cair ao contrário e foi então que reparou que tinha algo escrito. “Se tiveres tempo livre liga-me. Este é o meu número pessoal”, era o que estava escrito acompanhado do número de telemóvel e ainda de um boneco a piscar o olho. “Que estúpido! Estou farto de falar mal do cartão e de me tentar impingir um seguro quando não era nada disso”.

Durante alguns instantes ficou a olhar para o cartão. Pegou no telemóvel e hesitou entre ligar ou não. “Posso ligar que não tenho nada a perder. Mas parece mal ligar e depois ter de contar que liguei porque algo correu mal. Mais vale não ligar”, pensava enquanto agarrava o cartão e o telemóvel. “Estás a pensar ligar-me?”, ouviu. Era Inês. “Não me digas que ias ligar-me”, insistiu. “Estava a pensar nisso”, foi a única resposta de que João se lembrou. “Mas agora já vais tarde. Se me ias ligar é porque algo correu mal na tua “missão”. E além de não ser uma segunda escolha já estou acompanhada pois aquele irlandês jeitoso está comigo”, disse apontando para uma mesa onde João viu um homem sozinho, sentado de costas. João ainda tentou falar mas Inês voltou-lhe as costas. “Acontece-me tudo hoje”, desabafou enquanto Inês se afastava.

10 comentários:

  1. WTF... é o que me apraz dizer... Fogo... não acredito!
    Bruno se nos queres matar do coração estás perto disso... E agora? Opá... Não sei mais o que dizer, mas estou com pena do João, coitado, deve ter ficado destroçado...
    Com a tua escrita detalhada, o suspense, o arrastar de uma "estória"apaixonante como esta até parece que este João existe mesmo e tem sentimentos. Parabéns! Fazes-me ter aquele sentimento antagónico de querer saber já o final de tudo e ao mesmo tempo... não querer que acabe!
    Grata! Muito grata mesmo!
    Beijos

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    1. Coitado do João. O que será que lhe vai acontecer....

      Nem sei que te diga. Obrigado pelo carinho desde o início. Muito mas mesmo muito obrigado!

      Beijos

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    2. Não tens de agradecer... tens é de continuar a escrever... ;) Beijinhos

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    3. Tenho mesmo de agradecer que a escrita é fraca ;)

      Beijos

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  2. Não nos deixes assim pendurados!!!!...
    Ai este João que tantas preocupações nos dá...

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  3. Escreves de uma forma fantástica. Cada capítulo que leio fico sempre ansiosa para ler o próximo! Parabéns!

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  4. Volto a dizer que está cada vez mais interessante, e parece-me que vem aí mais uma reviravolta.

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