Faço parte de uma geração em que as boysband não eram exageradamente idolatradas. Até porque não existiam muitas. Num rápido exercício de memória recordo-me dos New Kids on The Block que muitas pessoas hoje devem desconhecer. Talvez ainda os 'N Sync, os Boyz II Men, os Hanson e os Backstreet Boys. Mas mesmo estas (talvez o último exemplo seja uma excepção) não eram idolatradas como acontece hoje com os One Direction, por exemplo, que fazem as delícias dos mais novos, sobretudo das mais novas.
Sou de uma geração que idolatrava os Metallica, AC/DC, Queen, Pearl Jam, The Smashing Pumpkins, Red Hot Chili Peppers, Nirvana e, a partir do meio da década de 90, os Foo Fighters. Mais depressa encontrava adolescentes com tshirts destas bandas do que das boysband da época. Mais depressa forravam os cadernos com estes ídolos do que com os membros de uma qualquer boysband. O grande consumo de música passava por estes artistas. Uns deles conseguiram perpetuar-se no tempo e outros para esta geração não passam de meros desconhecidos. Mas de que até gostam quando lhes é dada a conhecer a música.
Nos dias que correm existem notícias sobre "loucuras" de adolescentes em relação às boysband que adoram e idolatram. Existem manifestações a pedir que fulano x não abandone a banda y. Recordo-me também de ter ido a um luxuoso hotel lisboeta entrevistar um artista internacional e ficar a saber que os quartos estavam lotados porque os pais estavam a hospedar os filhos de modo a que ficassem perto de uma banda que lá estava hospedada. Sendo justo, acho que a febre é mais ou menos a mesma da minha geração mas com diferentes intervenientes e com um maior impacto mediático.
Nada tenho contra adolescentes que veneram as mais diferentes boysband. Em alguns casos são artistas que não consumo mas respeito que sejam consumidos em larga escala porque fazem parte de uma gigantesca máquina comercial. Aquilo que me entristece é o desconhecimento do passado. Parece que só existe música desde que foram criadas estas novas bandas. Entristece-me que um adolescente revire os olhos quando lhe perguntam se o álbum Nevermind lhe diz algo ou se alguma vez ouviu Bullet with Butterfly Wings.
Por isso fico extremamente feliz quando me cruzo com um adolescente (neste caso específico uma menina) que veste uma tshirt dos, neste caso, Nirvana. É um daqueles momentos "fé na adolescência restaurada" que me levam a acreditar que cada grupo de amigos tem um membro assim, que puxa dos galões numa conversa onde se debate música para defender alguns monstros sagrados da história da música. E que fazem com que certos artistas nunca morram junto dos mais novos.