30.6.15

fé na adolescência restaurada

Faço parte de uma geração em que as boysband não eram exageradamente idolatradas. Até porque não existiam muitas. Num rápido exercício de memória recordo-me dos New Kids on The Block que muitas pessoas hoje devem desconhecer. Talvez ainda os 'Sync, os Boyz II Men, os Hanson e os Backstreet Boys. Mas mesmo estas (talvez o último exemplo seja uma excepção) não eram idolatradas como acontece hoje com os One Direction, por exemplo, que fazem as delícias dos mais novos, sobretudo das mais novas. 

Sou de uma geração que idolatrava os Metallica, AC/DC, Queen, Pearl Jam, The Smashing Pumpkins, Red Hot Chili Peppers, Nirvana e, a partir do meio da década de 90, os Foo Fighters. Mais depressa encontrava adolescentes com tshirts destas bandas do que das boysband da época. Mais depressa forravam os cadernos com estes ídolos do que com os membros de uma qualquer boysband. O grande consumo de música passava por estes artistas. Uns deles conseguiram perpetuar-se no tempo e outros para esta geração não passam de meros desconhecidos. Mas de que até gostam quando lhes é dada a conhecer a música. 

Nos dias que correm existem notícias sobre "loucuras" de adolescentes em relação às boysband que adoram e idolatram. Existem manifestações a pedir que fulano x não abandone a banda y. Recordo-me também de ter ido a um luxuoso hotel lisboeta entrevistar um artista internacional e ficar a saber que os quartos estavam lotados porque os pais estavam a hospedar os filhos de modo a que ficassem perto de uma banda que lá estava hospedada. Sendo justo, acho que a febre é mais ou menos a mesma da minha geração mas com diferentes intervenientes e com um maior impacto mediático. 

Nada tenho contra adolescentes que veneram as mais diferentes boysband. Em alguns casos são artistas que não consumo mas respeito que sejam consumidos em larga escala porque fazem parte de uma gigantesca máquina comercial. Aquilo que me entristece é o desconhecimento do passado. Parece que só existe música desde que foram criadas estas novas bandas. Entristece-me que um adolescente revire os olhos quando lhe perguntam se o álbum Nevermind lhe diz algo ou se alguma vez ouviu Bullet with Butterfly Wings. 

Por isso fico extremamente feliz quando me cruzo com um adolescente (neste caso específico uma menina) que veste uma tshirt dos, neste caso, Nirvana. É um daqueles momentos "fé na adolescência restaurada" que me levam a acreditar que cada grupo de amigos tem um membro assim, que puxa dos galões numa conversa onde se debate música para defender alguns monstros sagrados da história da música. E que fazem com que certos artistas nunca morram junto dos mais novos.  

18 comentários:

  1. Eu sou da geração D'ZRT e ainda hoje os adoro e às vezes ainda gosto de recordar algumas músicas, mas desde os meus 7/8 anos que oiço Tara Perdida e Xutos e adoro Green Day, Nirvanna, Guns etc...

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  2. Acrescento que hoje em dia, metade daquilo que passa na rádio não é música. Mas olha que lá por ter uma camisola da banda não quer dizer que conheça. Uma vez perguntei a um miúdo que trazia uma t-shirt da mesma banda qual era a música preferida e a resposta foi que só sabia que era de um gajo que consumia droga e se matou (?). Acho que na altura a loucura não era tanta porque não havia acesso à Internet como hoje e porque os nossos pais não nos permitiam fazer metade das coisas que se vê por aí.

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    1. Acho que existem projectos (e não apenas na música) que têm como maior importância o factor comercial. Algo que está num patamar superior ao da qualidade. Concordo com o que dizes e as loucuras que eram feitas não tinham repercussão mediática.

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  3. Poderei estar errada, mas estou convencida que estou certa: música também é herança. Falo por mim que aprendi a gostar dos clássicos com o meu pai (e que ainda hoje me dá prazer ouvir) e falo da herança que já passei ao meu filho de 8 anos, que apesar de conhecer as bandas do momento e até as cantarolar, sonha acompanhar-me num concerto de Metallica ou Iron Maiden (aliás, houve birra por não ter ido comigo ver nenhum dos dois). :)

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    1. É um ponto de vista interessante. Eu também fui habituado a ouvir determinados artistas com os meus pais. E tenho uma grande paixão por música, o que me leva a gostar de ouvir de tudo um pouco e coisas antigas. E acho que todos podemos passar isso para os mais novos como fazes :)

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  4. Epá, ao menos que tivesses perguntado se sabia quem era a banda que estava na tshirt e que te fez acreditar no futuro do bom gosto musical. É que eu e uns amigos, quando fomos ao concerto de Blink 182, também vimos uma rapariga com uma tshirt dos Nirvana, com a imagem do bebé a mergulhar, e perguntámos se ela era fã. Ficou a olhar para nós com ar de estupida e repetimos a pergunta apontando para a tshirt, so que ela respondeu "hahahah não. Apenas gosto do desenho...".

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    1. É um risco e uma possibilidade. Mas quero acreditar que saberá mesmo quem são os Nirvana. Neste caso a tshirt era aquela que tem a smiley face. Mas além disso, e correndo o risco de estar errado, tinha uma imagem que combinava com a tshirt.

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  5. O Mustache comentou na direcção que eu vinha comentar...
    Algumas lojas da moda lançaram umas t-shirts com umas quantas bandas dos 80 e 90's, nomeadamente Rolling Stones, Guns N'Roses, Nirvana e outras que agora não me lembro. Quem compra, algumas vezes só conhece o nome de "ouvido" e não "de ouvir" :)
    Ontem vi um jovem com uma t-shirt de KISS, mas notava-se perfeitamente que aquilo era t-shirt herdada ou de pai ou de tio, porque estava roçadíssima e tinha um corte não-moderno (vá que tenha comprado na Feira da Ladra!). Nos fones dele pude perceber que passava Iron Maiden. Por isso, sim: fé na adolescência restaurada um bocadinho vá :)
    E tenho uma sobrinha que vai ao Vagos Open Air, por isso já posso morrer feliz :D eheheh

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    1. A imagem da rapariga batia certo com a tshirt. Por isso quero acreditar que sabia o que tinha vestido.

      Essa da sobrinha está muito boa :)

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  6. eu acho que há pessoas que vestem t shirt de bandas que nem ouvem só porque fica bonito

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  7. Concordo contigo, mas não sei se é porque tem grande conhecimento de causa, pode ser mesmo só para o estilo.

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  8. Olha que acredito que seja só para o style! :D
    Ainda há uns dias, tive esse sentimento com um miúdo (cerca de 21 anos), que depois caiu por terra. É um miúdo em final de curso, que está ser orientado por mim para a realização da tese e entre o trabalho, já tivémos algumas conversas sobre música. A maior parte das vezes não conhece as bandas das quais falo. Há uns dias, ele trouxe uma camisola dos The Stooges, e até senti uma ponta de orgulho pelo meu "pupilo" :D Quando o questionei sobre a camisola e se ele era fã do grupo, disse que nem sequer os conhecia, que só tinha achado a t-shirt engraçada. Lá se foi a ponta do orgulho ahahaha
    Por outro lado, o meu primo/afilhado de 16 anos já me chegou a surpreender, uma vez apanhei-o a ouvir Tool, mas deve ser das influências da madrinha. É preciso é educá-los musicalmente :D


    Cátia Mendes

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    1. Que desilusão... Quero acreditar que o conhecimento existe. E é mesmo preciso educar :)

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