Ele. Rapaz na casa dos trinta anos. De
bom coração, segundo os amigos. Um eterno apaixonado. Daqueles que
acreditam no amor para a vida e que não concebem a entrega carnal
despida de sentimentos. Ela. Mulher na mesma faixa etária.
Divertida, alegre e adepta de noitadas com amigas. Apesar de gostar
de sair à noite detesta sentir-se observada pelos homens. Algo que
acontece com frequência. Tal como ele, só acredita em sexo com
sentimento. Aliás, para ela não existem noites de sexo mas sim de
amor. Ela não faz sexo. Ela faz amor. E critica quem faz o oposto do
que defende.
Assim é ela. E assim é ele. Que nunca
se viram. Que não se conhecem. Que não frequentam os mesmos locais.
E que não têm amigos em comum. Até que, num dia, se cruzam no
mesmo espaço. Num bar da moda numa qualquer cidade que vive a noite
de forma ainda mais intensa do que o dia. É lá que se cruzam. E é
lá que ele se rende a ela. À sua beleza. Imagem. E corpo
escultural, segundo os parâmetros que ele mais aprecia numa mulher.
Ele congelou assim que os seus olhos vislumbraram a silhueta dela. Ficou preso. Até que ela se voltou
para ele. “Linda”, pensou para si. “A mulher dos meus sonhos
está aqui. Existe”, disse baixinho. Segundos depois, ele perdeu o controlo
sobre si mesmo. E não deixou de olhar para ela. Sem ter a noção de
que estava a ser tudo menos discreto. Até que ela se apercebe de que
está a ser observada. Mas, ao contrário de tudo aquilo que
criticava não se importou por estar a ser observada de forma
intensa. Até gostou. E esboçou um sorriso na direcção dele.
Isto durou largos minutos. Até que ele
sente que o único caminho é aproximar-se dela. Mesmo sem saber o
que lhe irá dizer. Ele aproxima-se. Ela apercebe-se da movimentação
dele. Ele está cada vez mais perto. E mais. Até que os corpos estão
separados por meros centímetros. Juntos, ficam em silêncio durante
alguns segundos. Ele porque não sabe o que dizer. Ela porque espera
que ele tome a iniciativa.
Até que ele solta algumas palavras.
“Usa-me. Leva-me daqui para fora. Abusa de mim. As vezes que
quiseres e que te apetecer”, são as palavras que diz, apesar de
nunca pensar ser capaz de as proferir. Ela não acredita no que ouve.
O discurso não se coaduna com a sua maneira de ser. Porém, não lhe
vira as costas. Nem o deixa a falar sozinho. Porque quer o mesmo do
que ele. Pega-lhe na mão e arrasta-o para fora do bar onde estão.
A noite prossegue e entregam-se os dois aquilo que ambos criticam.
Mesmo sabendo que provavelmente não se vão voltar a ver depois
daquela noite. Depois do tal sexo que não percebiam, ambos dão por
si a pensar que o desejo tem razões que a própria razão
desconhece. Por mais que se pense que tudo na vida é controlável.
Não é controlável mesmo. E aquilo que às vezes defendemos a pés juntos, às vezes, desmorona-se com a pessoa e no momento certo. Se tiver futuro... podemos mudar de opinião. Se não tiver, foi aberta a excepção. Um dia talvez voltemos a conseguir ser criticos e objectivos, mas a partir desse momento, olharemos sempre de modo diferente.
ResponderEliminarPalavra de Roxanne! :)
Bem dito Roxanne :)
Eliminarhmmm.... deu para sentir a "carne" aqui.... Bem bom!
ResponderEliminarAinda bem que gostaste :)
EliminarRoxanne de acordo contigo. e quanto mais queremos defender.. vem tudo atras.. :)
ResponderEliminarÉ muito fácil isso acontecer :)
EliminarNão te conhecia esta veia e que veia ;)
ResponderEliminarBisou
É um texto no seguimento de outros do género que escrevi. É um tema de que gosto de falar :)
Eliminarbeijos
Sim senhor... Gostei!
ResponderEliminarAinda bem :)
EliminarHá momentos na vida em que tudo o que era deixa de ser e passa a não fazer sentido.
ResponderEliminarMuito bom texto :)
E acontece sem que ninguém possa fazer nada contra isso :)
EliminarObrigado
nesta altura da minha vida, este texto encaixa perfeitamente em mim... =P
ResponderEliminarAinda bem MartaM ;p
EliminarUm texto para lá de muito bom !!
ResponderEliminarMuito obrigado.
EliminarNem sempre podemos cuspir para o ar e dizer "desta água não beberei", é um facto. Mas também há coisas (não necessariamente este tema: one night stands) em que cada um de nós poderá pôr as mãos no fogo por si.
ResponderEliminarÉ preciso ter muita força e um controlo muito grande Roger.
EliminarExcelente texto, para não variar:)
ResponderEliminarNesta área quem tiver a certeza absoluta de alguma coisa, está morto, porque enquanto estiver vivo e o desejo girar nas veias quente como o sangue...tudo pode acontecer e não há certezas de nada. Numa fração de segundos o que era deixa de ser.
jinhossssss
Muito bem dito :)
Eliminarbeijos
Bom, muito muito bom :D
ResponderEliminarObrigado :)
EliminarEste comentário foi removido pelo autor.
ResponderEliminarExcelente texto...Fez-me pensar. Será que o que escreveste explica muitas traições? Daquelas pessoas que sempre disseram que eram incapazes de se deixarem levar por impulsos?
ResponderEliminarE será que esses impulsos devem ser rejeitados? Será que ao rejeitarmos, a nossa decisão vau pesar-nos na consciência ou será varrida facilmente?
Não é um tema nada linear...
É um tema complexo e que dava muito que falar. Sendo certo que é muito complicado travar os desejos. Sejam eles quais forem.
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