23.8.13

o pedaço da vergonha

Jantares com amigos. Mesa cheia. Boas conversas. Boa comida. Bom vinho. Algo que resulta em horas de diversão e animado convívio. À mesma velocidade que os minutos passam, os copos vão ficando mais vazios. Tal como as garrafas. Nos pratos, a comida que todos dividem vai diminuindo. Ao mesmo ritmo das animadas conversas e gargalhas vai escasseando a comida. Até que o prato fica apenas com um pedaço de comida. Para o qual todos olhos de forma discreta enquanto tentam adivinhar quem o irá comer.

Este último pedaço é aquele a que se chama pedaço da vergonha. “Está tudo com vergonha?”, ouve-se à mesa. “Ninguém apaga a luz?”, dizem outros. Este processo pode durar largos minutos. Durante os quais se usam argumentos para empurrar o tal pedaço para o prato de alguém. Para o do mais tímido, que comeu menos. Ou para o do mais garganeiro, que nunca diz não a mais um pedaço de comida. É certo que é um pedaço que todos podem comer. Mas, por uma questão de educação, todos oferecem esse bocado de comida a alguém como se fosse fisicamente impossível ingerir aquela porção de um qualquer alimento.

O cenário que descrevi não existe quando está alguém à mesa que come o último pedaço de comida sem dó nem piedade. Sem fazer perguntas. Quando isto acontece, os minutos que se seguem são passados de forma diferente com a maior parte das pessoas que estão à mesa a deitarem olhares fulminantes para aquele que não teve vergonha de comer um pedaço de comida que ia ser empurrado de prato em prato durante minutos a fio. Este, por sua vez, chega a sentir-se tão mal como se tivesse acabado de cometer o maior erro do mundo.

Porque será que todos oferecem o último pedaço de comida aos outros mas quase ninguém gosta que esse mesmo pedaço seja comido sem que decorra este processo do agora como eu ou agora comes tu?

9 comentários:

  1. Confesso que para mim nunca foi problema... sinceramente sei que acontece, mas nunca me identifiquei com tal. Pelo menos quando há à vontade entre familiares ou amigos come-se até se fartar ainda que seja até ao último bocado. Ponto. Não se come por favor ou não se deixa de comer por favor. Pelo menos é isso que eu acho e é isso que eu faço :x

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  2. Na minha família não há cá esse problema. Quem se chega à frente, come e pronto. Entre amigos, também me faz confusão tais cerimónias - quem tem vontade que coma ou então, divide-se o último pedaço por todos, o que origina algumas gargalhadas, tal é a quantidade insignificante que resulta a cada um.

    Devíamos gozar mais os momentos, ao invés de nos preocuparmos tanto com aquilo que os outros pensam.

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  3. Chamem o cão e o assunto fica arrumado! Se o cão não aparece, alguém vai começar a ladrar. :D:D

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  4. O meu irmão mais velho perguntava "Ninguém quer mais, POIS NÃO?" As pessoas viam-se obrigadas a dizer que não e ele ficava todo contente ahahah

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    1. Quando estou à vontade, uso exatamente o mesmo sistema que o irmão da Carolina... e também fico toda contente! :-)

      Antes não era assim, agora não estou para me chatear. Também não levo a mal se outra pessoa fizer o mesmo.

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  5. Já deves ter percebido que eu não tenho vergonha nenhuma, por isso, entre amigos, família, essas coisas não existem, quem for lá primeiro, BINGO! e depois quando os jantares e os convívios já são uma constante, já existe aquela espécime, que tem a fama e o proveito.

    Vês, hoje consegui dar três!...respostas, claro. ;)

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