Fazer uma música sobre a namorada bipolar. E outra sobre a menina que nunca larga o telemóvel. Ou uma sobre a depilação. E uma sobre a namorada feia. E uma ainda sobre o estafeta que anda de mota. E que tal juntar tudo isto, em conjunto com mais algumas músicas, num álbum? Soa a banalidade não soa? Como é que músicas sobre bipolaridade, pessoas viciadas em telemóveis, depilação, mulheres feias e estafetas de mota podem ter piada ou ser um sucesso? Será que isso é possível? Acredito que sim.
Seu Jorge faz tudo isto no álbum Músicas para Churrasco, Volume 2. E, pelo menos aos meus ouvidos, nenhuma destas músicas é banal e sem graça. Nenhuma delas se ouve uma vez, acabando por dizer depois: “nunca mais ouço isto”, antes de atirar o álbum para um canto onde ficará para sempre esquecido. Ficam todas no ouvido. E pela qualidade que têm. E isto não é fácil. Pegar em coisas banais é simples. Tentar fazer delas algo importante é que é mais complicado.
Para isso é necessário talento. O talento não se nota apenas naquelas obras de arte, sejam elas quais forem, em que ninguém tinha pensado. O maior talento está em pegar em coisas básicas, como é o exemplo da depilação feminina, e fazer disso uma música muito boa. E fazer isso com outros temas como aqueles que referi. E colocar tudo isso num álbum. Isto pode parecer muito básico mas desafio quem acredita nisso a fazer algo ao estilo do que Seu Jorge faz neste álbum que ainda está quentinho pois foi lançado há poucas horas. Deixo a questão: o talento anula a banalidade?
O talento é um toque mágico e transforma tudo.
ResponderEliminarE o Seu Jorge tem esse toque.
EliminarUma pessoa talentosa pode não saber aproveitar as suas capacidades...
ResponderEliminarhttp://myblogtwtme.blogspot.pt/
Pode até nem se aperceber do seu talento.
EliminarOuvi há pouco tempo o Miguel Araújo falar numa conferência (Meeting Lisboa), em que explicou o seu último álbum mais ou menos da seguinte forma (coloco aspas apesar de não ser ipsis verbis):
ResponderEliminar"Muitas vezes ouvimos aqueles estudos «Portugueses bebem em média 300litros de cerveja por ano» ou «Homens consomem não sei quantos kgs de CO2 médios» e eu perguntei-me, «Mas quem será este homem médio, mediano, o mais normal dos homens?» E quis fazer um hino à banalidade, à normalidade. Então fui procurar o nome mais normal em Portugal - que é José -, o apelido mais comum - que é Silva - e acrescentei-lhe o apelido Faria - porque é muito tipico português «Ah, se eu tivesse... faria...». E todo o conceito do disco é sobre a vida do José, que devia ser a vida média de uma pessoa normal, estas pessoas que não se vêem mas que continuam a contribuir para que a engrenagem funcione, e era a elas, às pessoas normais, que eu queria prestar tributo."
Respondendo... O grande talento é capaz de enaltecer a banalidade mais banal :)
Catarina
É isso mesmo. Essa situação explica tudo muito bem. Agora, parece simples mas não é. É necessário talento :)
EliminarAdoro Seu Jorge :)
ResponderEliminarTambém eu. Estou preso neste álbum :)
EliminarSeu Jorge é um excelente músico independentemente dos temas que cante. E sejamos honestos, o amor não está muito batido?
ResponderEliminarClaro que está. Existem milhões de músicas sobre amor. Retirar o amor da sua banalidade é algo que nem todos conseguem fazer.
EliminarEm alguns casos, sem dúvida, anula mesmo.
ResponderEliminarneste caso anula e com mestria.
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