O turbilhão de sentimentos continuava a pautar os batimentos do coração de Miguel. Por um lado, as boas notícias. O nascimento da filha e o estado de Alexandra davam-lhe alento e faziam-no sorrir. Por outro, temia o que poderia acontecer a Alexandra ao longo das próximas 48 horas e assustava-o a eventualidade da filha vir a ter problemas no futuro. Porém, depois do que tinha passado ao longo das últimas horas, percebeu que o momento era de alegria. As próximas horas não as podia controlar. E os próximos meses ou anos muito menos. E foi no momento mais importante da sua vida, o nascimento da filha, e em tudo o que representava para eles que se centrou enquanto caminhava para o primeiro encontro com a bebé.
“Está pronto para ver a sua filha?”, gracejou o médico. “Esperei a minha vida inteira por este momento”, respondeu Miguel com uma rapidez que deixava a nu o verdadeiro sentimento de cada palavra dita. “Força! Abra a porta e fique à vontade que só a sua filha é que está aqui. Agora vem a parte chata. Vou pedir-lhe que não demore muito tempo”, disse Marco Aurélio. “Não há problema”, referiu Miguel enquanto abria a porta, com o desejo de fixar os olhos na filha.
Assim que entrou no quarto, notou que duas enfermeiras estavam junto da bebé, o que impedia que a pudesse ver. Passo a passo, foi-se aproximando lentamente como alguém que tem medo de destruir tudo com um simples passo. Uma das enfermeiras reparou no excessivo cuidado de Miguel. “Pode aproximar-se à vontade. Não há problema”, disse com um sorriso no rosto. Miguel assim fez e quando se estava a aproximar a segunda enfermeira voltou-se para si, num momento que nunca esquecerá. Tinha a sua filha ao colo e entregou-a a Miguel “Aqui está o teu pai, princesa”, foi o que disse no primeiro momento em que pai e filha se viram.
Miguel chorou. Agora sim, tinha percebido o que era ser pai. Com receio pegou na filha. “És perfeita”, soltou num momento em que a alegria se misturava numa sintonia perfeita com as lágrimas que escorriam pelo seu rosto. A bebé tinha acabado de nascer mas para Miguel tudo era nítido e facilmente perceptível. “Tens a beleza da tua mãe. És linda como ela. Tens o nariz dela. Os olhos dela. Tudo é dela”, pensava enquanto admirava a filha. Naquele momento tudo mudou para Miguel. A vida passou a ter um sentido que até então não existia. Tudo fazia sentido. E sentia já uma responsabilidade diferente. Sabia que a partir daquele momento existia uma vida que dependia de si. E encarava tudo isso sem qualquer medo. Ver a filha e sentir que a vida tinha mudado deu ainda mais sentido ao nome que entretanto tinha escolhido. “O nome é perfeito para ti. Aposto que a tua mãe vai adorar”, disse, beijando depois a filha antes de a colocar novamente nos braços da enfermeira.
Durante alguns minutos Miguel sentiu-se imóvel. Não conseguia deixar de olhar para a filha, o que fazia com que não se movesse. Até que o médico entrou no quarto. “Miguel, a Alexandra acabou de acordar. Quer ir ver a sua mulher?”, perguntou. “Claro!”, respondeu enquanto caminhava para junto do médico. Já no corredor, Marco Aurélio perguntou a Miguel como tinha sido ver a filha pela primeira vez. “É a melhor sensação do mundo. Tudo passou a fazer sentido na minha vida. Tudo encaixa na perfeição”, disse. “E a minha filha é a mais linda do mundo”, acrescentou, motivando uma gargalhada a Marco Aurélio. “Todos os pais dizem isto, não é?”, perguntou Miguel. “Sim. Mas aposto que cada pai e mãe sente essas palavras e isso é que importa”, explicou Marco Aurélio.
Chegara o momento de estar com Alexandra. Já no quarto, agarrou a mão da mulher e deixou-se contagiar pela alegria do momento que viviam depois do enorme susto. “Desmaiaste no carro e obrigaste-me a vir para aqui à pressa. Isto vai sair-te caro”, gracejou junto ao ouvido de Alexandra. “O que tens na mão?”, balbuciou Alexandra. “É o resultado do estado de nervos em que me deixaste. Não te preocupes que não é nada de grave. Descansa e não te preocupes com isto”, respondeu Miguel, antes que Alexandra fechasse os olhos e voltasse a adormecer. Miguel beijou-lhe a mão e sussurrou-lhe “Amo-te mais que tudo na vida” ao ouvido antes de sair do quarto.
Apesar de tudo estar a correr bem, Miguel recusou sair do hospital, preferindo ficar perto da mulher e da filha. Nos momentos em que estava acordado dividia o tempo entre os quartos das duas. Quando o cansaço era insuportável acabava por se deixar dormir num pequeno e gasto sofá branco que estava junto do quarto da filha. As horas continuavam a passar e tudo estava bem com Alexandra. Tal como a filha, com todos os exames a indicarem que estava em perfeitas condições de saúde. Aproximava-se o momento em que os três poderiam abandonar o hospital, dando início a outro capítulo – o mais importante – das suas vidas. Foi num dos momentos em que estava a dormir que foi abordado pelo médico. “A sua filha vai agora para o quarto com a mãe. Acredito que também queira ir”, disse, fazendo com que Miguel parecesse o homem mais desperto do mundo, tal era a ânsia do primeiro momento a três, agora que Alexandra estava melhor.
E lá foram, com Miguel com um passo muito mais apressado do que o médico. Marco Aurélio ainda tentou acompanhar Miguel mas este começou a correr em direcção ao quarto de Alexandra esquecendo por completo que estava num hospital. Nada mais interessava do que estar junto de Alexandra e da filha. E assim correu o mais rápido que conseguiu. Quando chegou ao quarto e abriu a porta encontrou a filha já nos braços de Alexandra. Miguel e Alexandra olharam-se nos olhos e nenhum conseguiu controlar as lágrimas. Mas, desta vez, pouco choraram. Os sorrisos e o brilho nos olhos acabaram por se destacar. Alexandra estava prestes a falar quando Miguel se aproximou para a beijar. “Amo-te muito”, disse-lhe antes que Alexandra pudesse dizer o que quer que fosse.
“A nossa filha é linda. É perfeita”, disse Alexandra.
“Olho para ela e vejo-te. Até a tua força encontro na nossa filha”, referiu Miguel.
“A Carolina vai ser muito feliz. Tenho a certeza”, acrescentou a mãe.
“Não se vai chamar Carolina”, soltou Miguel.
“Não?!? Não era esse o nome escolhido”, perguntou, com espanto.
“Era. E se quiseres mantém-se. Mas a forma como a nossa filha nasceu e as longas horas de angústia no corredor levaram-me a pensar noutro nome. Acredito que irás gostar”, contou.
“E qual é o nome que sugeres?”, perguntou.
“Hema”, respondeu.
“Com H”, acrescentou, expectante.
“Hema... Hema... Hema...”, foi repetindo Alexandra.
“Não gostas?”, questionou Miguel assustado.
“Gosto. Muito. Mas o que te levou a querer mudar?”, perguntou.
“A forma como o nascimento aconteceu. É um nome que serve para homenagear as duas”, explicou.
“Tem algum significado especial?”
“Significa Dourada. Tem origem grega e está associado a uma Santa. Além disso acredita-se que quem tem este nome tem uma sensibilidade fora do normal, que será uma pessoa que dificilmente se irá abaixo e que tem como missão salvar o mundo. Acho perfeito para vos homenagear”, justificou.
“Hema será. Adoro! Ouviste Hema? Nasceste há poucas horas e o teu pai já quer que salves o mundo”, disse sorridente.
“Mas há mais uma coisa que te quero dizer”, referiu Miguel.
“O quê?”, perguntou Alexandra.
“Sei que este não é o melhor sítio nem tinha pensado nisto. Mas vai de improviso”, disse.
“Estás bem?”, perguntou.
“Nunca estive melhor”, respondeu enquanto colocava um joelho no chão.
“Queres casar comigo e ficar comigo até ao final dos nossos dias? Até eu ser um velhinho insuportável?”, perguntou.
“Não devias ter um anel?”, brincou Alexandra.
“Pois é! É culpa do improviso”, disse, pegando numa garrafa de água de meio litro que estava ali perto. E de onde retirou o anel de plástico mais fino que prende a tampa.
“Aqui está ele”, referiu, enquanto colocava o anel improvisado.
“Está um pouco largo mas depois mandamos apertar”, gracejou.
“Queres casar comigo?”, voltou a perguntar.
“Não há nada que mais deseje na vida. Sim! Quero casar contigo. És o homem da minha vida”, respondeu antes de beijar Miguel.
“Este momento não podia ser mais perfeito. Nós os três é tudo o que sonhei”, disse Alexandra.
“Queres pegar na Hema?”, perguntou.
“Estava a ver que não perguntavas”, brincou.
“Não sei nem me importa se vais salvar o mundo. Salvaste-me e deste sentido à minha vida. E isso basta”, disse.
FIM
Gostei de tudo (embora pudesse "corrigir" alguns pormenores técnicos :p), e adorei o nome. Mas acho que em Portugal não aceitam o nome com H :p
ResponderEliminarquando quiseres publicar um livro, manda o convite da apresentação... quero um autografado ;)
Obrigado Lia. Estás à vontade para corrigir tudo ;)
EliminarPublicar um livro é muita areia para o meu pobre camião ;)
Parabéns! Confesso que não li todos os capítulos mas o final está maravilhoso :)
ResponderEliminarObrigado. Fico muito feliz com as tuas palavras :)
EliminarNão sou muito lamechas... mas chorei... é um amor muito sentido. Eu também tenho um filho e esse momento é mágico!
ResponderEliminarAdorei adorei adorei a história
Estás de parabéns! gostei mesmo muito desde o primeiro capítulo até a palavra FIM :) :)
Nem sei que te diga. Conseguir emocionar alguém com uma história é bom demais. Muito mas muito obrigado ;)))
EliminarAcompanhei estes capítulos desde o inicio e chegando ao fim tenho de resumir numa só palavra: ADOREI!
ResponderEliminarAguardo pelo próximo para te dar, depois, o meu feedback.
Abraço
Muito obrigado Manel. Fico muito contente com o teu feedback.
EliminarAbraço
:)
ResponderEliminarUma meia hora tão bem passada... :D
(Sim, porque eu cheguei só no fim e como o fim não têm sentido sem começo, decidi ir ler tudo. Parabéns :) )
Muito obrigado Ana. Fico feliz que tenhas gostado :)
EliminarGostei!
ResponderEliminarParabéns, criaste uma história muito boa! Acho que, de vez em quando, podias ir publicando uns contos deste género ;)
Já está na calha uma segunda história. Pelo menos o ponto de partida. O resto, logo se vê ;)
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