O “não tenho tempo” não é a única mentira que as pessoas tendem a dizer a si mesmas. É apenas uma de um vasto grupo de coisas que algumas pessoas tendem a interiorizar, muitas vezes para se enganarem a si mesmas. Cada qual terá os seus motivos para se agarrar a estas “muletas” sendo certo que, em alguns casos, são prioridades estabelecidas por cada pessoa que lida com a sua agenda da forma que entende ser mais adequada. Noutros, será uma forma de estar na vida. Mas são sempre opções.
Além da ausência de tempo, existe o “não tenho dinheiro para isso”. Aqui, começo por dizer que não me refiro aos casos de pobreza extrema e de pessoas que contam tostões para sobreviver. Por exemplo, existem pessoas que não fazem desporto porque não têm dinheiro para pagar a mensalidade do ginásio. Mas têm dinheiro para sair à noite todas as semanas. Existem pessoas que não têm dinheiro para jantar fora. Mas têm dinheiro para encomendar pizzas e sushi diversas vezes por semana. Existem pessoas que não têm dinheiro para ir ao teatro ou ao cinema. Mas têm dinheiro para ir ao futebol. Mais uma vez, trata-se de gestão e de estabelecer prioridades.
Mas há mais. “Não vivo sem isto”, é algo bastante comum. Mas a verdade é que as pessoas vivem sem as coisas que juram ser imprescindíveis. Em muitos casos são sobretudo vícios que cada pessoa tem. E a verdade é que a maioria das pessoas vive sem aquilo que garante ser fundamental para a sua vida. Nem que tenha de aprender à força a ficar privado daquilo que parecia ser o motor de uma vida. Neste caso, o não ser capaz é a desculpa ideal para não quero deixar de fazer isto.
As mentiras que tendemos a dizer a nós mesmos prosseguem. “Se acontecesse isto, a minha vida seria perfeita”, é outro exemplo. Começando pelo “isto”. Isto é algo que pode ser substituído por qualquer ambição pessoal. Para uns será um carro. Para outros, uma casa. Para alguns, uma relação de sonho ou um cargo de chefia. Considero que esta perfeição é uma mentira por diversos factores. Em primeiro lugar, quem ficar cego por esta perfeição, dificilmente terá capacidade de aproveitar o que tem na vida. Vai estar sempre a pensar no que quer e nunca agradecerá o que tem. E quem faz isto, nunca estará satisfeito com o que tem. Quanto tiver o tal carro, vai querer um melhor. Quando tiver a tal casa, quererá uma maior. E por aí fora.
“Preciso de ter a aprovação dos outros”, é outra mentira bastante comum. Poderá existir este desejo. Poderá existir uma vontade de que outras pessoas aprovem aquilo que fazemos mas isso não passa de uma mentira que, em casos extremos, leva a que uma pessoa construa a sua vida com base na satisfação de terceiros, ignorando o mais importante, que é a satisfação pessoal e aquilo que realmente quer.
As mentiras que dizemos a nós mesmos é provavelmente um dos temas mais interessantes para debater. Aqui estão apenas alguns exemplos mas poderiam estar muitos outros. Uns relacionados com opções de agenda pessoal e outros relacionados com a forma como se encara a vida. Sendo certo que quase tudo está relacionado com as opções que cada pessoa escolhe para a sua vida e para o seu futuro. Há quem escolha ter tempo para tudo o que realmente deseja e há quem escolha estar apenas ocupado com a carreira, por exemplo. Há quem escolha ser feliz com base nas suas escolhas e há quem escolha ser feliz com base na ideia de felicidade dos outros, de quem sonha/deseja ter aprovação. Basicamente, são opções.
E as mentiras piedosas que dizemos para poupar a mais explicações que as pessoas não querem ouvir: "Tudo bem?" Tudo." Nem a pergunta é feita de coração...a pessoa está-se pouco lixando se está tudo bem, assim como a resposta pretende cortar qualquer hipótese de falar sobre o que realmente se passa.
ResponderEliminarMas nesse caso acho que não nos enganamos. Apenas não queremos que puxem por nós e que nos levem a falar de certas coisas. Até porque quem nos conhece sabe a resposta a essa pergunta, independentemente das nossas palavras.
Eliminargostei muito! é tão mas tão verdade.
ResponderEliminarE não se trata de uma crítica. Acima de tudo são opções. E quem as toma deve estar feliz com o rumo que segue.
EliminarRelativamente ao "não vivo sem isto", cada vez que começo a dizer a mim própria algo aproximado disso, forço-me a fazer um intervalo, a afastar-me, para colocar as dependências em perspectiva, etc. Consigo sempre melhorar as minhas relações com os objectos de "dependência"... Lembro-me de uma vez, quando em viagem ao Canadá, de ter ido a um casino em Niagara Falls, para experimentar. Levaram-me lá. Quando me saiu um jackpot numa slot machine (120 dolares, coisa pouca), larguei tudo e parei. Joguei 5 doalres e ganhei 200, um saldo líquido de 195 dolares foi mais do que suficiente para comprar lembranças para trazer para PT e como já estava a querer jogar mais e mais, parei por ali. Radical, assim. Desta vez, joguei pelo seguro. ;-) É que eu tenho preconceitos em relação a Casinos, confesso... hehehe
ResponderEliminarAgora, comentando de uma forma mais geral, gostei muito destes teus posts sobre as mentiras que dizemos a nós próprios. E da conclusão. Eu não diria melhor: são as opções que fazemos. O mais chato é quando magoamos pessoas pelo meio (não dói, quando um amigo te diz que não tem tempo para ti quando estás a precisar dele? Claro que racionalmente, não ficas sentido muito tempo, porque sabes que todos temos os nossos problemas e crises, mas que dói, dói).
Uf... tenho sérias dificuldades em resumir, quando o assunto me diz alguma coisa... Sorry. ;-)
Não tens que pedir desculpa. Gosto de comentários assim. A magia disto está nas conversas que se geram com quem comenta. É algo de que gosto muito. Por isso obrigado.
EliminarDeste um exemplo muito bom. Muitas pessoas gastavam esses duzentos. E tu não. E isso pode ser transposto para muitas outras coisas das nossas vidas. Ouvir dizer que não há tempo para nós é das coisas mais dolorosas.
Concordo.
ResponderEliminarDo que gosto mais nisto dos Blogs (blogues?) é precisamente a comunicação (dizer bidireccional é redundante). Nunca gostei de monólogos (ou de ser protagonista de monólogos, já que gosto de monólogos tetrais ;-) ), e o melhor que se retira disto é a discussão saudável de assuntos variados. :-) Por isso, aliás, é que estou sempre aqui caída... hahahaha ;-)
Eu prefiro blogue ;) Não imagino o meu blogue sem estas conversas. Isto é que dá sentido ao blogue. Imagino isto como um grupo de amigos num café ;)
EliminarObrigado pela companhia e palavras que aqui vais deixando.
Concordo. Sao estas pequenas expressoes que nos dao as desculpas perfeitas. nao enganamos ng mas como todos fazem o mesmo...passa!!
ResponderEliminarMas não devia passar. E refiro-me em relação a nós mesmos.
Eliminar