Tenho saudades dos tempos em que não existiam telemóveis. Ou em que existiam aqueles que serviam apenas para efectuar chamadas e, num momento de loucura, enviar uma mensagem escrita. Agora, tudo na vida é uma fotografia. Que tem prioridade máxima na vida das pessoas. Parece que a vida deixa de existir entre o momento em que a imagem é captada e aquele em que é partilhada numa qualquer rede social. E é só isto que interessa e o relógio só volta a andar depois da partilha.
Actualmente, existem pessoas que, por exemplo, vão correr para a rua e não o fazem sem telemóvel. E este não serve apenas para ouvir música nem para medir distâncias. Serve para que se pare o exercício a meio para tirar uma fotografia (ou várias) que têm de ser imediatamente partilhadas. Outras, num jantar de amigos, impedem que alguém toque na comida ou num dos pratos enquanto aquele momento não for partilhado numa qualquer rede social. E estes são apenas dois exemplos.
E isto aplica-se aos mais diversos cenários da vida. Aliás, existem pessoas que perdem totalmente o controlo e acabam a fotografar momentos esquisitos – do meu ponto de vista – que são partilhados. E com isto refiro-me, por exemplo, a selfies em funerais ou noutros cenários semelhantes. E tudo isto leva a que se troquem diversos momentos de convívio por algo que passa apenas por estar com os olhos postos num smartphone (já agora posso referir que as pessoas passam em média três anos da sua vida com a cabeça para baixo, a olhar para o telemóvel).
Deixar de se viver, na realidade, para dar a ilusão de que se vive numa qualquer rede social onde se partilha uma imagem com uma legenda catita e com algumas hashtags que levam a nossa imagem mais longe é algo que acontece com uma frequência cada vez maior. Isto parece um contra-senso, vindo de alguém que tem uma conta na rede social instagram, com bastante actividade mas não considero que o seja. Porque cada vez mais percebo esta realidade que critico. Percebo os erros que cometo e tento deixar de os fazer, tentando também que aconteça o mesmo com quem me rodeia. Cada vez mais evito ao máximo fazer uma pausa na minha vida por causa de uma fotografia. Com isto não digo que a deixe de partilhar mas já aprendi que não tenho de partilhar essa imagem no preciso momento em que a capto. E em caso de ter apenas uma opção, prefiro viver o momento do que ter uma imagem que sirva de recordação sem que o tenha vivido.
Prefiro viver o momento de cabeça levantada. Aproveitar cada segundo. E num momento mais calmo ou quando estou sozinho, lá partilho o que pretendo partilhar, caso exista uma imagem. E ainda bem que existem vídeos como este e como este, que alertam para este perigo que leva a que o contacto entre as pessoas ganhe uma dimensão fria e distante, apesar de se querer dar a entender que é quente e próxima.
Concordo contigo. O mais importante é aproveitar os pequenos prazeres da vida. Não digo que a fotografia não seja importante, mas não deve ser o ponto principal de tudo o que fazemos!
ResponderEliminarAbraço
Os vídeos que partilhei mostram a realidade, infelizmente.
EliminarAbraço
Concordo plenamente! Eu que ADORO fotografia, estou sempre a tirar fotos (com o telemóvel ou a máquina grande - uma reflex), mas é muito, muito raro colocar logo nas redes sociais. E odeio que façam logo (com uma foto minha). Não gosto, por exemplo, que saibam, ao minuto onde estou - manias! - mas é a minha liberdade que quero preservar. Depois até posso colocar algumas fotografias. Mas já não estou naquele local. Já seleccionei as fotos.
ResponderEliminarE sim, as pessoas que eu conheço mais "viciadas" nas redes sociais, são (quase todas) as que menos "vida" têm. É triste, mas é verdade.
Eu tenho os meus momentos. Há alturas em que partilho pouco, outras partilho mais... Mas, tento, dentro do possível, não exagerar. E existe um número (elevado) de coisas que, de forma alguma, partilho seja em que rede social for!
Sou como tu. Adoro fotografar. Mas tenho tentado corrigir esse vício, impedindo que estrague alguns momentos.
Eliminarolha este video, não sei já conheces, que traduz o que estamos a dizer:
Eliminarhttp://youtu.be/bVHdkAS3gVI
Mais um belo exemplo.
EliminarAinda hoje disse a uma pessoa que o meu telemóvel não tem 'i' antes eheheeh
ResponderEliminarÀs vezes a 'vida' de certas pessoas é bem mais interessante sendo fantasiada dessa maneira... É utilizado isso como refúgio da vida que tem à espera 'cá fora'.... Digo eu... Acho que muitas vezes o problema é não saberem terem conta, peso e medida naquilo que fazem.... E deixam-se absorver de tal modo que acredito, que hajam pessoas que não consigam distinguir a 'vida na net', da vida fora dela... infelizmente...
Em alguns casos existe uma sede incontrolada de se dar a entender que existe uma vida que na realidade não passa de algo virtual.
EliminarÉ bem verdade o que dizes. ja fui a um jantar entre malta amiga e conhecidos em que um dos presentes disse k antes de se comer tinha-se de tirar uma foto para publicar no FB pq sem foto a provar, é como se o jantar nao existisse e que nao seria a mesma coisa...OMG!!
ResponderEliminarPor isso que atualmente qd combino jantaradas la em casa instaurei a democracia do dono da casa...que os telemoveis ficam com som ( devido a alguma emergencia ) pousados no hall de entrada desde o momento que entram ate ao momento que vao embora!
PS: E pelos vistos o clooney usou a minha ideia no seu casamento xD
É o tal descontrolo.
EliminarNeste tipo de casamentos é cada vez mais comum. Mas serve apenas para que ninguém venda fotos da cerimónia ou partilhe algo numa rede social quando uma revista pagou uma fortuna para ter o exclusivo. E acho que faz todo o sentido porque de certeza que andavam por lá dezenas de fotógrafos a captar todos os momentos.
Gostei foi da prenda aos convidados. Um iPod com uma lista de músicas escolhidas pelo casal.
"a selfies em funerais"...o quê?!...nem vou comentar...não consigo.
ResponderEliminarO telemóvel uso como um dos meus principais oinstrumentos de trabalho. Ao fim de semana esqueço-me dele. Se saímos estamos contactáveis porque MorMeu leva o dele. Se saimos com as meninas levo a máquina fotográfica...para as fotografar a elas.
Algumas das realidades de hoje de que falas...olha fiquei como o peixe a abrir e a fechar a boca...nem sei que diga.
Há quem o faça. Na ressaca III até se brinca com isso. Infelizmente são coisas que acontecem cada vez mais e a fotografia chega a ter prioridade em relação a uma conversa.
EliminarRealmente atingiu-se uma insensatez absurda! Das coisas que me tiram do sério é qualquer convívio estar constantemente a ser interrompido, quer para tirar fotos, quer para usar o telemóvel. Tudo deve ter sua hora!
ResponderEliminarTenho aprendido isso.
Eliminar