Às quartas-feiras tenho tendência para recordar o que vivi ao longo dos quase vinte anos em que joguei futebol. Talvez por ser o dia em que jogo futebol. Não sei se será essa a razão... mas costuma ser o dia em que recordo os momentos marcantes, as glórias, as derrotas nos últimos minutos e o dia triste em que perdi um amigo, colega e jovem que tinha uma vida pela frente.
Como não joguei hoje, recordo aqui um dos piores episódios que vivi na minha “carreira”. Ao contrário do que muitos possam pensar, ordenados em atraso no futebol não é algo recente. Tinha 17 anos, era júnior de segundo ano e estava prestes a chegar ao escalão máximo do futebol. Andava eufórico pela conquista do campeonato de juniores e pela subida ao nacional do escalão. Não ia saborear esse mérito no ano seguinte mas estava feliz, pelo feito e sobretudo por permitir que jogadores mais novos do que eu pudessem experimentar algo único, que é jogar contra os maiores clubes de Portugal.
Nesse ano, os seniores do clube onde jogava tinham diversos ordenados em atraso. Como tal, abandonaram o clube, que ficou sem jogadores para se deslocar à Madeira, para defrontar o Nacional. Sem outra opção, o clube foi obrigado a recorrer aos jovens para a deslocação ao Funchal. Entre muitos, fui um dos contemplados com a viagem. Era a minha primeira viagem de avião para um jogo e estava feliz pelo que me esperava.
Tudo correu bem, desde a deslocação até ao convívio com os (poucos) mais velhos que tinham optado ficar no clube, mesmo sem receber ordenado. Até tivemos tempo para uma breve saída nocturna num bar, cujo nome não me recordo, onde as raparigas ficaram doidas pelo simples facto de conviverem com jogadores da modesta segunda divisão B (na altura ainda existia esta divisão, agora já não).
Horas antes do jogo, o treinador reuniu os jogadores no hotel para o habitual discurso que antecede os jogos. O mister era um antigo internacional português que infelizmente já faleceu. Por mais anos que viva, nunca esquecerei as primeiras palavras que saíram da sua boca. Aliás, não me lembro de mais nada. “Vamos tentar sofrer o primeiro golo o mais tarde possível para não perder por muitos”, foram as palavras iniciais da palestra.
A partir daqui, o que era uma viagem de sonho para mim, passou a ser um terror. É verdade que o adversário era muito mais forte do que nós. É um facto de que era mais provável perder do que ganhar ou mesmo empatar mas quem é que se pode sentir motivado ao ouvir o treinador assumir claramente a derrota, provavelmente por muitos golos de diferença?
Ao longo da minha carreira de atleta, e porque não da minha vida, este foi o pior discurso motivacional que ouvi. Perdi a vontade de jogar, de lutar, do que quer que fosse. Tive o privilégio de jogar em clubes que tudo ganhavam e a honra de lutar por clubes que tudo perdiam e noutros que lutavam para sobreviver e posso garantir que nunca ouvi nada assim, mesmo quando defrontei grandes jogadores do actual panorama mundial.
Espero que as pessoas que actualmente treinam jovens, que têm por obrigação preparar homens para a vida e não só jogadores, não utilizem discursos destes. Porque, mais cedo ou mais tarde, vão perder esse jogador e esse homem pois é difícil lutar por algo em que a primeira pessoa que deveria acreditar é a primeira a dizer que não vale a pena o esforço.
Bem, era o habitual discurso do treinador português ainda há poucos anos...
ResponderEliminarInfelizmente...
EliminarExiste formação para treinadores. Eles não aprendem a motivar equipas?
ResponderEliminarExiste e deviam motivar. O treinador tem de fazer com que os jogadores acreditem que tudo é possível
EliminarQue discurso tao derrotista,quando se entra em campo por mais dificil que possa parecer a ideia tera que ser sempre ganhar e fazer o melhor.Afinal o futebol e imprevisivel e a bola e redonda :)
ResponderEliminarEspero que tenham conseguido ganhar!!!
Nem mais! Com um discurso daqueles só podia dar derrota.
EliminarUma viagem de sonho que se tornou numa viagem de terror? Não menosprezes uma ida a tão bela Pérola do Atlântico...
ResponderEliminarNão foi o melhor discurso motivacional, mas também não criou ilusões que talvez não poderiam alcançar ;) O Nacional é sempre o Nacional! (I'm just kidding! ;) )
Nem mais Moon!! É o meu clube do coração!!
EliminarPara que percebam, um ilhéu tem sempre mais que um clube do coração. Eu tenho 3: ADM; CDN e SLB!! (um coração grande)
O treinador não cria ilusões mas transmite confiança, algo que este não fez.
EliminarViagem de terror no campo desportivo. A Madeira é linda. Recentemente estive na ilha para assistir à festa da flor e foi das coisas mais belas que vi.
A festa da flor é de facto única. Não só o cortejo, mas toda a decoração da cidade naquela semana, a música ambiente...
EliminarQuanto à beleza da ilha...infelizmente está muito comprometida...mas vamos recuperar!! :)
Tens razão, é tudo lindo!
EliminarClaro que vão recuperar :)
Claro que a função de um treinador é motivar e fazer crer aos seus jogadores que acredita nas suas capacidades e, consequentemente, na vitória!
EliminarTens de ir à Madeira na altura do Natal/Fim-de-ano... é do mais lindo que há! Não só a iluminação, mas a festa na noite do mercado, a canja na Véspera de Natal, as barraquinhas no dia de Natal e, depois claro, o fogo de artifício no último do ano! ;)
Moon, essa quadra (do natal) é a minha desgraça, acabo sempre a fazer figuras tristes. LOL.
EliminarPor alguma razão meto sempre férias nessa altura.
Nunca fui nessa altura mas fiquei com vontade de ir :)
EliminarFicarias rendido, acredita! :)
EliminarAcredito pois :)
EliminarInfelizmente o discurso derrotista e desmotivador em Portugal é considerado humildade.
ResponderEliminarPara mim isto foi o mesmo que dizer aos jogadores: não confio em vocês, não valem nada e vão lá para o campo tentar fazer qualquer coisita
EliminarMas é justamente isso que significa...
EliminarÉ lamentável a nossa falta de garra e ambição.
Felizmente há individuos que não se revêm nesse discurso derrotista! :)
Eu posso dizer que sou um deles :)
EliminarEste comentário foi removido pelo autor.
ResponderEliminarMas ganharam ou perderam, afinal. Isso é que interessa, hsb ;p
ResponderEliminarCOm o Nacional? Perderam! ;)
EliminarInfelizmente, perdemos. Mas nunca vou esquecer o ambiente da Choupana, na altura em que o campo tinha apenas uma bancada :)
EliminarOs nacionalistas são uns adeptos especiais!! ;)
EliminarMas não aconselho a ver um jogo no inverno...grizamos com o frio! :)
Pois são. As mulheres gritam o jogo todo :)
EliminarNacional! Nacional! Nacional!
Ahahah! Já deu para perceber qual o clube da Jingas ;)
EliminarTambém deu para perceber que o hsb ficou traumatizado com a garra das adeptas do Nacional :p
Mam'Zelle sou adepta do Nacional desde piolha...apaixonei-me pela equipa pela forma como festejavam os golos, quando jogavam na II divisão.
EliminarAs cambalhotas em conjunto. LOL.
Quanto à claque feminina do Nacional... não vou comentar... :) - não faço parte. ;)
Gostei imenso do Nacional, da claque até porque são dos educados e não me chamaram nomes, algo comum em muitos estádios. Tive que aprender, desde cedo, que um jogador de futebol é como uma senhora... não tem ouvidos!
EliminarAssociei este post ao que muitas empresas e chefes fazem a funcionários.
ResponderEliminarE eu a pensar que isto já não existia...
EliminarExiste, infelizmente...
EliminarTriste :(
EliminarExistem muitos que nivelam por baixo esse é só mais um :(
ResponderEliminarDESBOCADO!
http://comentadordesbocado.blogspot.pt/
Por isso é que sempre preferi outro tipo de treinadores
EliminarIsso é preparar para o pior esperando o melhor, mas acho que não resulta..
ResponderEliminarPenso que para se preparar jovens e não só no futebol, há que incentivar a serem vencedores e não vencidos. Até porque acredito que a mente humana e a força que ela move é imensa.
Enfim tiveste mesmo uma péssima experiência, que azar!!
Eu, no lugar dele tinha feito os jogadores acreditar na vitória. Porque é sempre possível ganhar.
EliminarClaro que sim e podes crer que ganhar ,está também, na força do acreditar!!
EliminarNem mais!
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