a carta que nunca irei enviar

Ao longo dos últimos dias fiquei com vontade de escrever uma carta. A cada minuto surgiam palavras na minha cabeça. Palvras essas que se transformaram em frases. Frases que deram lugar a este texto. A carta estava escrita apenas na minha memória. Tem destinatário e uma morada para onde pode ser enviada. Mas, provavelmente nunca irei enviar o texto que aqui vos deixo.

Exmo. Miguel Relvas!

Permita-me a ousadia mas vou trata-lo por colega. Não o faço por falta de respeito mas porque frequentamos o mesmo espaço académico. O meu último ano de curso (2006) corresponde com o primeiro da sua licenciatura. Perdão, com o único ano da sua formação superior na Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias, em Lisboa. Provavelmente não se recorda de mim. Só não sei se não me conhece por eu ser de um curso diferente – Ciências da Comunicação e da Cultura, variante Jornalismo – ou pelo facto de não ter frequentado a universidade. Como não tenho certezas, não me pronuncio.

Mas o que eu sei é que o colega concluiu a licenciatura em apenas um ano. Eu, tal como os meus colegas, necessitei de quatro para me formar. Bem sei que a opção de me formar no ensino privado foi minha mas revelo-lhe, caro colega, que o curso foi dispendioso e sem “borlas”. Tive que fazer tudo o que me foi exigido, tal como todos os alunos, e foi algo que fiz sempre a trabalhar. Ser trabalhador estudante fez com que fizesse o meu curso no horário da manhã, da tarde e ainda em pós-laboral. Volto a insistir neste ponto: não tive “ajudas” (e nem estava interessado nas mesmas) e com muito orgulho posso dizer-lhe que me formei sem necessidade de repetir cadeiras e que, felizmente, ainda não tinha concluído o curso e já tinha emprego na área.

Agora que já desabafei consigo, colega, mostro-lhe a minha indignação. A forma como conseguiu a sua licenciatura fez com que os alunos formados na Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias sejam olhados com desconfiança. Graças à sua licenciatura relâmpago (permita-me o termo), duvidam da minha. E se há coisa que me custa a aceitar é que duvidem do meu empenho ao longo de quatro anos que marcaram a minha vida. Não posso aceitar de ânimo leve que questionem as noites passadas em branco e muitas outras mal dormidas por ter que aproveitar as noites para elaborar os meus trabalhos académicos. É que, por mais que duvidem, a minha licenciatura durou mesmo quatro anos. E, não tenho vergonha do sítio que escolhi para me formar, nem tenho vergonha de dizer à minha família e amigos que me formei na Lusófona. Aquilo de que tenho mesmo vergonha, é de situações destas que colocam em causa milhares de alunos como eu.

Grato pelos minutos que me concedeu, ao ler a minha carta. Espero não ter sido deselegante com o colega. Se o fui, as minhas sinceras desculpas.

Sem outro assunto, melhores cumprimentos.

hsb