Sou jornalista profissional há dez anos. Sempre no mesmo grupo. Em duas publicações diferentes. Ao longo deste tempo conheci apenas uma pessoa que nunca mostrou um rosto fechado. Uma pessoa para quem os dias eram sempre de sol. Nunca estava chateada com nada. Tinha sempre um sorriso contagiante. Estava sempre disponível para dançar. Para brincar. Para fazer uma piada.
Esta senhora tinha idade para ser minha mãe. E brincava comigo como uma mãe brinca com um filho. E além de brincar dava conselhos. Alertava para isto, para aquilo e falava sobre tudo e mais alguma coisa. Era uma pessoa cheia de vida. Percorria o mundo em viagens e tinha sempre algo interessante para dizer. Era daquelas pessoas que podemos ficar horas a ouvir. Daquelas pessoas que nos fazem esquecer todos os problemas. Por mais chatos que sejam.
A Dores tinha como missão entregar na redacção correio interno. Pouco mais do que isso fazia. Mas enganem-se aqueles que pensam que não é uma nobre missão. Porque com uma carta ou um documento chegava um mar de sorrisos. Abria a porta, dançava um pouco, sorria, brincava e tudo ficava bem. Tudo parecia perfeito. Durante o tempo em que estava na redacção tudo era perfeito. A Dores era daquelas (raras) pessoas que conseguem fazer com que uma pedra da calçada solte uma gargalhada.
Ontem recebi a notícia de que a Dores morreu. Mas recuso-me a acreditar nisto. Pessoas como a Dores não morrem. Pessoas como a Dores equilibram o mundo. Fazem com que os filhos da puta não passem de uma pequena pedra no sapato. Fazem com que as pessoas sorriam perante a maior das adversidades. Por isso recuso aceitar que a Dores tenha morrido. Quero acreditar que os seus preciosos serviços foram requisitados num local onde fazem mais falta.
Um beijo gigante, do tamanho do mundo, para ti Dores. Obrigado por tudo. Obrigado por mostrares que o cinzento é mesmo uma cor de merda. Obrigado por tantos momentos em que a minha vida ficou mais fácil assim que te vi entrar no espaço onde escrevo este texto. És eterna! E só tenho pena pelas pessoas que não te conheceram. Que não te viram dançar. Que não partilharam um sorriso contigo. Que não ouviram a tua gargalhada. Beijos grandes!
As pessoas boas vão e as más ficam :(
ResponderEliminarCátia ∫ Meraki
E esta senhora tinha uma boa-disposição como nunca vi.
EliminarFelicidade pura e altruísta. São raras as pessoas com esse dom (ou é o dom que é raro nas pessoas?) e compreendo o que sentes. Fazes bem em pensar que ela está noutro lugar, onde faz mais falta. É bonito pensar assim!
ResponderEliminarAcho que todos temos este dom. Só que o perdemos algures na nossa vida.
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