Antigamente o tempo de antena era visto como um bem precioso. E um dos ingredientes responsáveis por isso era a dificuldade em ter acesso aquilo que o passar do tempo fez questão de vulgarizar. Refiro-me aos famosos “cinco minutos de fama”. Que em tempos eram uma dispendiosa peça de alta costura e que hoje são um trapo que não é vendido – a algumas pessoas – com 90 porcento de desconto.
A dificuldade em ter tempo de antena fazia com que as pessoas valorizassem o mesmo. A oportunidade podia ser única e isso fazia com que fosse aproveitada da melhor forma possível. Quem conseguia ir à televisão ou à rádio dava o seu melhor para que tudo corresse bem. Independentemente de tentar promover algo pessoal ou de simplesmente dar uma opinião sobre qualquer tema.
Mas esta tradição já não é o que era. Porque nos dias que correm o tempo de antena anda pelas ruas da amargura. Qualquer pessoa consegue, assim o deseje, os seus cinco minutos de fama. Uma consequência do avançar dos tempos. Actualmente qualquer pessoa pode recorrer a uma rede social para ter o seu momento de fama. Um objectivo que é facilmente alcançado. E mesmo ter fama na televisão é relativamente fácil devido à quantidade de canais e aos diferentes formatos.
E a abundância e facilidade de acesso transforma qualquer bem valioso em algo barato. E aquilo que era bom – neste caso o tempo de antena – passa a ser desperdiçado pela maioria das pessoas. E posso dar dois exemplos muito simples. A Casa dos Segredos. A maioria dos concorrentes revela o desejo de aproveitar a participação para mostrar que um reality show pode ter concorrentes interessantes e inteligentes. Na realidade saem quase todos do programa com uma imagem negativa devido aos comportamentos adoptados durante o programa.
Outro exemplo de tempo de antena desperdiçado é a recente manifestação dos taxistas. O tempo de antena deveria ter sido aproveitado para promover a classe mas acabou por acontecer o oposto. A imagem da classe fica ligada aos arruaceiros que danificaram um carro, às virgem violadas, aos filhos da puta e paneleiros da Uber. Algo que só serviu para promover a plataforma que ficou sossegada no seu canto e não podia desejar uma melhor publicidade do que ver os próprios taxistas afastarem as pessoas dos táxis.
“As redes sociais deram a oportunidade de falar a legiões de idiotas que antigamente só falavam num bar, depois de beber um copo de vinho e sem perturbar a sociedade. Eram facilmente silenciados, mas agora têm o mesmo tempo de antena de um vencedor de um Prémio Nobel. É a invasão dos idiotas”, disse Umberto Eco. E estas sábias palavras ilustram muito bem a desvalorização que as pessoas dão a algo que deveria ser bastante valioso e nunca desperdiçado.
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