18.10.16

sem querer ser advogado do diabo (leia-se trump)

Neste momento Donald Trump está para o mundo como Maha Vajiralongkorn está para os tailandeses. Ou seja, é mal amado e dificilmente haverá volta a dar. Muito dificilmente o novo rei tailandês irá conquistar o povo e nem Tom Cruise, numa mirabolante missão impossível, conseguirá fazer com que o mundo, pelo menos boa parte dele, venha a sentir empatia em relação a Donald Trump.

Mas não é preciso amar ou odiar alguém para perceber certas coisas. Muitas pessoas ficaram indignadas com as declarações que Donald Trump proferiu em 2005 em que fala, numa conversa privada, de forma pouco simpática em relação às mulheres. As palavras não são simpáticas. São na realidade muito tristes. É um facto. E o responsável é quem as profere. Nada a apontar em relação a isto.

Agora foi Melania, a mulher do candidato, a quem poucas pessoas atribuem inteligência que desvalorizou as palavras do marido. E salienta algo que considero fazer toda a diferença: “era conversa de homens”, diz. Antes de avançar no texto deixo claro que não gosto de Trump. Acho que será um péssimo presidente caso seja eleito. E este texto não tem como objectivo fazer de advogado do diabo. É apenas a constatação de factos.

E o primeiro é que é muito feio, seja em que circunstância for, partilhar uma conversa privada. Se é privada é assim que deverá manter-se. Seja entre dois amigos que ninguém conhece de lado nenhum ou entre personalidades influentes. Acho que neste ponto ninguém discorda. Acredito que todas as pessoas, mesmo odiando os protagonistas de uma qualquer conversa, consideram que existem diferenças entre privado e público. Algo que deixa de existir, para algumas pessoas, no momento de ganhar uma eleição. Aliás, e pegando neste caso específico, acredito que existam pessoas cuja missão passa apenas por descobrir o maior número de podres em relação ao outro candidato. Tendo em conta que se trata de Donald Trump... é uma tarefa bastante fácil.

O segundo facto é destacado por Melania. As suas palavras não desculpam a atitude do marido. Mas são verdadeiras. Porque é um pequeno exemplo de uma conversa de homens. E qualquer homem pode comprovar isso. Porque muitos homens falam de forma pouca simpática em relação a algumas mulheres ou, em casos extremos, em relação a todas. Este domínio chega a ser tão surreal que muitos homens exageram naquilo que dizem apenas para ficar bem numa conversa de homens. “Fiz isto e aquilo aquela gaja”, “elas fazem-me isto e aquilo” e por aí fora. Quando tudo não passa de uma fábula inventada que garante apenas mais um carimbo na caderneta da suposta masculinidade que se mede por palavras como as de Donald Trump. Fingir que esta realidade não existe ou que é exclusiva de Trump é ser ingénuo e acreditar numa realidade inexistente.

Se é algo parvo? É! Se os homens fazem? Sim! Se é algo que tem paralelo no universo feminino? Não sei. Só as mulheres é que podem confirmar ou desmentir essa realidade, sendo que acredito que também existem momentos destes em conversas femininas, sempre dependendo de quem tem a conversa e das circunstâncias da mesma. Aquilo que faz uma grande diferença no caso de Donald Trump é que existe um grande ódio em torno do homem que muitos temem que venha a sentar-se numa das cadeiras mais importantes do mundo.

6 comentários:

  1. Se concordo com a maioria daquilo que escreve, tenho de discordar hoje. Realmente o que é do foro privado, ao foro privado pertence - por norma. Nesses domínios não vale a pena entrar agora, uma vez que seria uma conversa que dava pano para mangas.
    Quanto ao conteúdo da conversa, para mim, não há absolutamente desculpa nenhuma! É claro que homens, em grupo, falam de mulheres e as mulheres, em grupo, falam de homens. É normal. Sempre foi assim e sempre será. No entanto há formas e formas de o fazer. O que Trump disse não tem desculpa e qualquer homem que fale dessa forma é igual a ele. O que ele disse, e uma vez que é uma figura com grande influência à escala mundial, é aceitar a violação do corpo de uma mulher e reduzi-la a um objecto sexual (e não foi a única vez que o fez). É aceitar isso socialmente, dizer que "é conversa de rapazes" é normalizar a situação. E é por isso que há casos com o de Brock Turner e muitos casos piores. Tão grave como essas declarações foram as declarações de um dos seus filhos (já leva a escolinha do pai) que disse que as mulheres que não aguentam ser sexualmente assediadas no local de trabalho devem trabalhar num jardim de infância. Como mulher não aceito que nenhum homem, seja o Trump ou o Zé do talho, o diga e, se um dia for mãe, vou ensinar ao meu filho que para falar com outros rapazes não precisa de desrespeitar nenhuma mulher e que fazê-lo é uma profunda deficiência de carácter. Está ao mesmo nível das declarações do taxista sobre as "meninas virgens". Só que um não passa de um anónimo sem influência na sociedade, enquanto que o que o outro diz tem repercussões a nível mundial.
    Isto não é conversa de circunstância, isto é desrespeitar uma mulher. Seja ela quem for, não é importante. Se fosse uma mulher a dizê-lo a repreensão deveria ser a mesma, se fosse outro homem a condenação pública devia existir também. Não pode ser aceite. É também por declarações (e mentalidades) assim que, quando uma mulher é violada, ainda tem de dizer em tribunal o que tinha vestido e se tinha bebido álcool. É por causa de conversas assim que as mulheres ainda são culpadas por serem violadas.

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    1. Olá Raquel!

      Começo por agradecer o teu excelente comentário. Eu não desculpo o que ele disse. Aquilo que defendo é que isto é bastante comum em conversas de homens. Isto não faz com que seja certo, porque não é. Mas é comum. A diferença está nos homens que dizem isto da boca para fora para fingirem que são isto ou aquilo perante os seus pares ou casos como Trump em que isto será mesmo o seu modo de pensar.

      Que fique claro que não concordo com isto. Aquilo que pretendi dizer é que é bastante comum em conversas de homens. De resto dou-te toda a razão.

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    2. Olá :)
      Não resisto a deixar um segundo comentário neste tópico, mas tinha mesmo que vir cá dizer que concordo totalmente com a Raquel.
      Todos nós, em graus diferentes, temos a tendência de desculpabilizar algo só pelo facto de ser comum. Se queremos evoluir um pouco mais temos que dissociar os conceitos de comum e aceitável. E devemos ser mais intolerantes com as tais "conversas de homens", por mil e um bons motivos, mas especialmente para criar melhores humanos.

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    3. Eu não desculpo o que ele diz. E é responsável pelo que diz. Aquilo que referi é que muitos homens dizem coisas semelhantes. Uns para se gabar, outros porque pensam mesmo assim. Mas a frequência nunca será desculpa.

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  2. Olá :)
    Hoje discordo de ti. Até porque se existisse sempre concordância seria uma monotonia. ;)
    Estivéssemos a falar de ti ou de mim, concordaria contigo no que dizes sobre importância da privacidade, que não há motivo para se conhecer o teor de conversas feitas nesse contexto, e que todos, sem excepção, temos momentos em que nos comportamos e dizemos coisas próprias de um grande cromo.
    Mas, como estamos a falar de um candidato à Presidência, especialmente de uma das nações mais poderosas do planeta, acho que é não é descabido procurar conhecer o carácter do candidato fora do palco eleitoral. É nos pormenores que se apanham grandes coisas, e essa conversa assim como a justificação de Melania, só acrescentam pontos à minha certeza que estamos perante alguém em quem eu não confiaria para um cargo público nem gostaria de me dar pessoalmente.

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  3. Oi Ana ;)

    Concordo em conhecer o carácter dele mas nunca através de manobras destas. Até porque no caso do Trump não é preciso isto para perceber como é e como pensa. Por exemplo, também seria redutor analisar Hillary apenas pela humilhação pública a que se sujeitou (e que aceitou) devido ao marido.

    Aquilo que pretendi dizer, condenando aquilo que Trump é enquanto homem, é que existem muitos outros que falam desta forma. E ser comum não desculpa as coisas, não faz com que sejam menos graves. É apenas um triste facto.

    Quanto a Trump, creio que todas as pessoas sabem que será um perigo dar-lhe o poder de ser presidente de um país como os Estados Unidos da América.

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