Em Portugal tudo é normal. E todos assobiam para o lado no momento de colocar o dedo numa qualquer ferida. Que é o mesmo que dizer abordar um assunto que não deveria ser normal. De acordo com as notícias os Bombeiros Voluntários de Vila Verde foram obrigados pelo vice-presidente da direcção a utilizar uma viatura com sirenes e rotativos com o objectivo de efectuar um transporte urgente de membros da equipa do programa Somos Portugal, exibido na TVI, de modo a que as pessoas transportadas não ficassem presas em longas filas de trânsito.
A situação em si já é caricata. Ganha contornos de realidade absurda quando se sabe que nesse dia foram recusados vários socorros urgentes. E a cereja no topo do bolo é o presidente da direcção dizer que a situação "é normal". Trabalhei com um homem que tinha trabalhado num canal de desporto. Certo dia ia a caminho de um estádio no Algarve e transportava uma câmara que ia transmitir o jogo em directo. Houve um problema com a carrinha e perdeu tempo de viagem. Como o jogo ia ser transmitido em directo, acabou por acelerar um pouco mais de modo a chegar a horas. A polícia interceptou-o a determinada altura e foi multado por excesso de velocidade. Por mais que tenha explicado o que se passava, acabou por ser multado. Isto sim, é o cenário normal.
Não é, nem pode ser normal, transportar apresentadores, que temem ficar presos no trânsito, numa viatura [ambulância] destinada a algo mais nobre do que isso. Não é, nem pode ser, normal dizer, passe a redundância, que este cenário é normal e regular. Ainda por cima quando esta aparente normalidade implicada não fazer aquilo que realmente seria normal, ou seja, os tais transportes urgentes que foram recusados. Convém realçar também que nesse dia, os bombeiros de Vila Verde estavam a combater um incêndio.
Agora varrem-se as responsabilidades para outro tapete. Eu não fui, foi o outro. O outro também não foi e diz que a culpa é de um terceiro. Pelo meio uns dizem que não pediram nada. Outros fingem que nada aconteceu. E das duas uma: ou a culpa morre solteira ou o culpado será o elo mais fraco: a pessoa que conduziu a ambulância e que provavelmente cumpriu ordens de alguém.
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