porque existem rainhas que usam lenço e não coroa

Durante muitos anos o cancro não era mais do que uma palavra que me metia muito medo. E que ainda mete e causa nós no estômago. Assusta-me só a ideia de pensar no tema. Mas tudo mudou no momento em que soube que a minha mãe tinha cancro da mama. Recordo-me como se fosse hoje o dia em que a minha mãe me contou o que se estava a passar. Recordo-me como se estivesse a acontecer agora o momento em que o médico diz à minha mãe que tem uma boa e uma má notícia. A má é que a minha mãe tinha cancro e a boa é que estava numa zona onde não se podia alastrar.

Seguiu-se uma longa operação e a recuperação da mesma. Quimioterapia e radioterapia. Apesar do prognóstico ter sido bom logo de início, a verdade é que a luta da minha mãe teve momentos complicados. Momentos em que se foi abaixo e em que dizia que estava farta de tudo e que queria desistir. Vi a minha mãe sofrer como nunca. Estive do seu lado para ajudar. Chorei muito. Sofri também. Vivi com medo do amanhã, e por mais simpáticas que sejam as palavras dos médicos, este medo está sempre presente.

E o cancro da minha mãe ensinou-me que nem todas as heroínas têm capas. Tal como nem todos os anjos têm asas. E aprendi também que nem todas as rainhas usam coroa. Aliás, muitas rainhas usam lenço, peruca ou exibem a sua linda careca. Quem já viveu algo semelhante de perto perceberá melhor do que ninguém o que pretendo dizer. Certamente conhecem a dor como conheço. E infelizmente alguns casos não têm um final feliz como teve o da minha mãe.

Hoje assinala-se o Dia Mundial do Cancro da Mama e deixo aqui o meu apelo às mulheres que por aqui passam. É certo que não podemos controlar tudo mas não se desleixem (nem deixem que as mulheres das vossas vidas se desleixem) com o que é possível controlar. Façam exames de rotina. Façam os exames que podem fazer em casa. Porque esses pequenos gestos podem fazer a diferença. E essa diferença, sem rodeios, pode ser viver ou morrer.