coerência (ou a falta dela)

Todas as pessoas têm uma opinião formada sobre algo. Quer seja sobre as políticas de Pedro Passos Coelho, sobre as palavras de uma figura pública ou sobre uma qualquer polémica que é destaque nessa semana. Pontos de vista que não se coíbem de partilhar, quer seja num site, num blogue ou numa conversa entre amigos ao almoço ou no café. O que muitas pessoas parecem ignorar é a coerência, palavra que aparentemente desconhecem.

Muitas pessoas defendem uma ideia. Passados cinco minutos mudam-se para o outro lado da barricada. Dez minutos mais tarde voltam à casa de partida. E outros tantos depois conseguem estar numa posição diferente das duas anteriormente já defendidas e também criticadas. Quem diz ideia pode também dizer pessoa. Hoje critica-se este ou aquele por causa disto ou daquilo. Amanhã elogia-se essa mesma pessoa que já tinha sido criticada. E no dia seguinte ainda se pede ajuda a essa mesma pessoa.

Não sei em que mundo é que algumas pessoas vivem. Deve ser num planeta descartável incoerente, onde tudo se diz, onde tudo se faz e onde o nexo não é bem-vindo. E onde se acredita que a memória das pessoas dura breves segundos, o que faz com que tudo seja esquecido quase no imediato. Há muito que defendo que a maior crise com que nos deparamos é de valores. A coerência é um dos que está em falta. 

Tal como acontece com o desodorizante, quem mais precisa de coerência acaba por não a usar. Tal como dizia Rute Remédios (apenas uma das muitas personagens brilhantes de Herman José): “as opiniões são como as vaginas: cada um tem a sua e quem quiser da-la, da-la.” E se esta oferta de opiniões for acompanhada de coerência, melhor ainda. É um sinal claro de inteligência.