Hoje acordei com a notícia de que um jornalista, de nome Steven Sotloff, tinha sido decapitado por um terrorista islâmico, que deixou a ameaça de continuar a fazer o mesmo. Nas notícias era colocada em causa a veracidade do vídeo mas tudo leva a crer que seja, infelizmente, verdadeiro. Quando a área em que escolhi trabalhar é notícia é quase sempre pelos piores motivos. E este é o pior de todos. A morte de alguém que se entregou ao que considero ser a vertente mais nobre e corajosa da profissão.
Ser jornalista é relativamente fácil. Depende da área, da publicação e dos lobbies, porque eles existem em alguns casos. E digo que é fácil tendo em conta as convicções de cada um. A força das pessoas e a forma como encaram a profissão em que estão inseridos. Mas, tudo isto muda quando a morte está por perto. Quando o ambiente de trabalho é um cenário de guerra e onde existem pessoas sedentas de um jornalista que é ideal para passar uma mensagem ao mundo.
Nesse momento o jornalismo deixa de ser fácil e passa a ser uma das mais complexas profissões do mundo. E algo que está ao alcance de um grupo restrito de pessoas. Excluindo desta equação os jornalistas que fazem jornalismo de guerra no conforto de um hotel de luxo onde o perigo é igual ao existente numa redacção em Portugal, situada a milhares de quilómetros da confusão. Estar no meio de balas que se podem perder, de carros que podem explodir e de outros tantos perigos apenas pelo prazer de informar o mundo é algo nobre e provavelmente desvalorizado por muitas pessoas que pensam que é apenas mais uma notícia, igual a tantas outras.
Colocando de parte o jornalismo de guerra e pegando no jornalismo que se faz em Portugal, a minha opinião é a de que não é visto com bons olhos. Para algumas pessoas, os jornalistas não passam de um grupo de pessoas que gostam de vasculhar as vidas das pessoas e que para pouco mais do que isso servem. Depois, existem diversas visões. Por exemplo, existem os que defendem que os jornalistas não devem expor detalhes da vida privada de uma figura pública mas, em muitos casos, são as mesmas pessoas que acham muito bem que a vida privada de um político, apenas para dar um exemplo, seja exposta nos jornais. Algo que não tem qualquer diferença. E isto dava pano para mangas.
O que é certo que muitas situações só são expostas porque existem jornalistas que as tornam públicas. Muitas pessoas só conseguem ter os seus problemas resolvidos – muitas vezes relacionados com problemas de saúde – quando um jornalista faz desse caso notícia, fazendo com que a resolução apareça horas depois. É certo que também existem muitas histórias que morrem nas gavetas mas existem muitas coisas neste país que são conhecidas porque um jornalista decidiu, em alguns casos colocando em risco a carreira ou algo mais, arriscar e fazer aquilo que deve fazer: informar. E tudo isto tende a ser desvalorizado por muitas pessoas.
No dia, e espero que esse dia nunca chegue, em que o jornalismo mudar e em que os jornalistas deixem de dar importância a vários aspectos a que as pessoas não ligam, é que todos vão perceber a falta que o jornalismo faz. O jornalismo é uma daquelas coisas de que só se sente falta quando não existe. E as pessoas vão sentir a sua falta quando deixar de dar vida a coisas que muitas pessoas desejam que fiquem para sempre escondidas num canto escuro.
Felizmente sou das que dá valor ao jornalismo com ele ainda de boa saúde (enfim, isto até é discutível tendo em conta as convicções de cada um. Algum jornalismo está bastante doente, se olharmos para a questão do respeito de valores éticos e a questão do sensacionalismo, mas esse é um tema que dá pano para mangas e não é o que aqui é discutido neste post).
ResponderEliminarPrezo muito o jornalismo isento e verdadeiramente informativo.
Não sabia que eras jornalista (aterrei aqui há pouco tempo), nem a área, mas é importante que os próprios jornalistas saibam que o seu trabalho é apreciado de uma maneira geral. Felizmente, há muito quem leia jornais e veja telejornais! ;-)
Mas repara que aquilo que é considerado sensacionalismo já está presente praticamente em todo o lado. É um facto que o jornalismo faz muita falta às pessoas. Mais do que as pessoas pensam.
EliminarNesta altura do ano as vendas são simpáticas mas os números têm descido :(
O jornalismo em Portugal não existe.
ResponderEliminarPelo menos na vertente para que foi criado, a de informar. Agora, rege-se mais pelo "formar". Opinião. Travestida de notícia. Sob a capa de interesses, sejam eles económicos ou políticos.
Culpa dos jornalistas ou dos patrões dos jornalistas, ou de ambos, não sei.
Quanto à exploração da vida privada de famosos e de "famosos", é dinheiro fácil. O povo gosta, há que dar circo, que pão é pouco. E sempre é mais simples, rápido e barato que fazer investigação a sério.
Tocas em temas muito bons e acho que a tua visão é partilhada por muitas pessoas. É o tipo de comentário que dava para horas de conversa e troca de ideias. Os interesses sempre existiram e existem em todas as áreas. É um facto.
EliminarQuanto à vida privada, repara que até já os telejornais promovem isso. Por exemplo, quando tens a TVI a dizer que daqui a pouco não perca David Carreira a falar do divórcio dos pais num telejornal. Ou, recuando mais no tempo, quando o mesmo canal, quando faltavam 20 segundos para as oito (o que faz com que não seja considerado abertura de telejornal) dá a notícia de que o Marco deu um pontapé na Sónia no Big Brother. Isto num dia em que Jorge Sampaio era a notícia.
Quanto ao jornalismo de investigação. Ele ainda existe. Em várias vertentes. O pior é que poucas pessoas têm o luxo de se dedicar apenas a isso, algo que deveria ser o correcto. Hoje querem investigação e mais cinco coisas ao mesmo tempo. Não sei se me fiz perceber bem.
Há jornalismo e jornalismo, vamos lá a ver... não generalizemos. Há jornalistas irritantes e cujo trabalho não valorizo, mas passa por aqueles que só fazem revistas cor-de-rosa, que vivem de vasculhar a vida das pessoas. Não vejo qualquer interesse em informar as pessoas sobre qual a roupa q foi vestida em X evento ou quem se divorciou há 3 dias. Vejo, sim, interesse, no tipo de jornalismo que referes no teu post.
ResponderEliminar"O que é certo que muitas situações só são expostas porque existem jornalistas que as tornam públicas. Muitas pessoas só conseguem ter os seus problemas resolvidos – muitas vezes relacionados com problemas de saúde – quando um jornalista faz desse caso notícia, fazendo com que a resolução apareça horas depois." ISTO valorizo!
Não há jornalismo e jornalismo. Porque a base da profissão é a mesma. Existem sim, diferentes orientações editoriais. Não deixa de ser jornalismo mas há quem goste disto e quem goste daquilo, o que é normal. Se perguntares a dez pessoas se costumam ver revistas do segmento social nove devem dizer que não mas depois vês as vendas das revistas e percebes que existem mesmo muitas pessoas a ler essas revistas.
EliminarIsto é um tema que dá pano para mangas.
Há diferenças, um jornalismo serve para informar, outro serve para entreter.
EliminarSim, hoje estão misturados. Mas são diferentes.
Um jornalista é algo mais que um tipo que escreve num jornal. Há aquela coisa do código a que tanto gostam de apelar quando lhes dá jeito, mas que cada vez menos respeitam.
mas isto sou eu que sou um gajo exigente para com aquilo que é denominado o 4º poder.
Isto levava a uma conversa de horas e percebo perfeitamente o teu ponto de vista. O código deontológico é igual sempre. Pelo menos para mim é assim e quando não estou de acordo com algo não faço. É uma opção/risco que tomo/corro. Acho bem que sejas exigente com o quarto poder. Mas, se olhares com atenção, esquecendo as temáticas para aquilo que consideras jornalismo de informação ou de entretenimento verás que, em alguns casos, encontras exactamente a mesma forma de elaborar uma notícia. Depois, podes não gostar do tema, o que é perfeitamente legítimo.
EliminarComo tudo nesta vida, infelizmente, só damos valor ao trabalho de alguém quando esse alguém deixa de o fazer....
ResponderEliminarE isso aplica-se na perfeição ao jornalismo.
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