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31.1.19

a nossa escrita é um caso perdido (e tenho de culpar os pais)

Enquanto jornalista passo os dias a lidar com palavras, textos e mais textos. Como tenho de fazer diversas pesquisas acabo por ler os mais diversos sites, dos mais diversos países e também publicações em papel. E, com muita pena minha, o destaque vai para os erros que encontro. Acrescentado também que já dei os meus erros. Mas existem erros e erros.

Pode passar despercebido a quem não trabalha na área, mas é fácil perceber quando um erro é uma simples gralha que resulta da tentativa de publicar (e refiro-me ao online) o texto rapidamente. É algo que acontece, ainda que não seja desculpável. Também existem muitas falhas de pontuação, algo que acaba por não ser o maior dos problemas. Até porque começo a achar que a nossa escrita é um caso perdido.

Não gosto daquela coisa do “no meu tempo”, mas aqui tenho de usar esta muleta. Porque a verdade é que no meu tempo, ou seja, na minha fornada de jornalistas, existia mais qualidade a nível de escrita do que existe agora com os mais jovens. É um facto! Vejo muitos textos de muitas pessoas mais novas e alguns são mesmo assustadores. Erros atrás de erros, falta de vocabulário e grande limitação na construção de um simples texto de meia dúzia de parágrafos. E isto é muito, mas mesmo muito grave. Principalmente para quem quer trabalhar nesta área.

Na procura de um culpado para esta situação, o mais fácil será dizer que a responsabilidade é dos professores. Porque eles, pensam muitos pais, é que têm a obrigação de preparar os jovens para tudo e mais alguma coisa. Este modo de pensar está errado. Que me desculpem os pais, mas a maior parte da responsabilidade está nos pais. Que não estimulam os filhos a trabalhar tudo aquilo que acaba por ser importante para a escrita.

Hoje é “lol”, “kkk”, abreviaturas para tudo e mais alguma coisa e não passa disto. Não se lê (e já nem vou aos livros, fico-me por jornais e sites), não se faz nada que leve a uma estimulação que tenha reflexo na escrita. Os adolescentes lidam com vocabulários bastante limitados e não passam disto. Isto poderá não ser grave para alguns (volto a discordar deste modo de pensar) mas é extremamente negativo para quem quer trabalhar no jornalismo.

A isto junta-se outro problema desta geração. Refiro-me à falta de capacidade (e análise) para perceber que são maus, que têm limitações e que precisam de evoluir. Hoje, um jovem tem desculpa para tudo e mais alguma coisa. Existe sempre uma justificação para um erro, nem que seja porque uma borboleta bateu as asas num país distante. E, de justificação em justificação, os erros vão-se mantendo. Sempre os mesmos. Sempre básicos. Sempre graves.

Muito sinceramente, e mais uma vez com grande pena minha, não prevejo que isto melhore. Imagino este cenário cada vez mais negro. E enquanto passarmos a vida a culpar os professores, nada irá evoluir. Enquanto sonho com uma mudança, continuo a deparar-me com jovens que gozam com os erros alheios sem que percebam que fazem muito, mas mesmo muito pior do que aquilo com que gozam.

13.12.17

será que o jornalismo não serve mesmo para nada?

Muitas pessoas defendem que o jornalismo não serve para nada. Que só existem maus jornalistas, que estão todos comprados, que isto e aquilo. Até que surgem reportagens como aquela que Ana Leal fez sobre a Raríssimas.

Fica a questão: será que as pessoas sabiam o que acontecia na associação sem o jornalismo? Afinal... faz falta. É sempre fará. E só quando deixar de existir é que as pessoas vão perceber a falta que faz.

Se não fosse o jornalismo, muitas coisas continuariam escondidas. E a ser feitas sem que as pessoas se apercebessem. O jornalismo é mesmo muito importante para todos. Mesmo para os que falam mal dele. 

29.8.17

que morram todos

O jornalismo já viveu dias melhores em Portugal. E a triste realidade é que poucas áreas se podem gabar do contrário. Pelo menos por cá. Na semana passada tornou-se público que um dos maiores grupos editoriais nacionais pretende vender todas as publicações que tem.

Foi assistir a um festival de aplausos. "Que morram todos", é algo que muitos desejam. E o morram é para as publicações. Já nem vou bater na tecla de que as pessoas só vão lamentar a ausência do jornalismo quando não o tiverem. Nem vou discutir tipos de jornalismo e quem gosta do quê. Nem sequer separar os bons dos maus jornalistas.

Aquilo que me entristece é a alegria pela desgraca. Pela tristeza. Pelo mal dos outros. É aquele modo de pensar: "estou mal mas eles estão pior". Isso é que é triste. Mesquinho. E reduz as pessoas a um tamanho muito pequeno.

Enquanto jornalista fico triste com este panorama. Porque é geral. Gostava que todos tivessem bem. Porque o sucesso da área é o sucesso de todos. Também fico triste pelos amigos que tenho nessas publicações. Que desconhecem o futuro. Algo que acontece com a maioria dos profissionais em Portugal.

De resto, o jornalismo vai ter de saber adaptar-se aos novos tempos. Aos desejos dos leitores. Aquilo que querem e como querem. E creio que esta adaptação vai acabar por mudar, e muito, o jornalismo em papel. Vamos ver como será o futuro. Só não contem comigo para aplaudir a desgraca do vizinho.

14.7.17

chegou o grande dia

Acabou a espera! E os nervos estão ao rubro. Ao longo das últimas semanas, especialmente desta, foram longas horas de trabalho. Todos os detalhes foram vistos, revistos, e novamente analisados. Tudo a pensar neste dia. Sou da opinião de que a perfeição não existe. Seja no que for! Mas acredito que este projecto, que será apresentado hoje, está próximo daquilo que desejamos que venha a ser no futuro.

É um orgulho acompanhar o nascimento de um projecto desde o momento em que é uma ideia. É giro ver crescer cada detalhe. Fazer parte de cada ideia que é lançada por todos. É uma honra fazer parte de uma equipa que faz das tripas coração para que tudo esteja bem feito. Há muito tempo que não me sentia assim profissionalmente.

A imagem diz que ainda falta um dia, mas essa espera acabou. O lançamento deste projecto será hoje! E estão reunidos os ingredientes para que seja uma das melhores festas dos últimos tempos. Com tudo aquilo de que os homens gostam. E que, assim acredito, as mulheres também gostam de ver, conhecer e opinar. O relógio está em contagem decrescente. Os nervos são cada vez maiores. Ultimam-se os detalhes e prepara-se tudo ao pormenor. Que chegue a festa rapidamente. Vamos a isso!



E aproveito para pedir desculpa pela maior ausência - e inédita - do blogue nestes últimos dias. É que o tempo tem sido curto para tudo aquilo que vai além do nascimento deste "bebé". Agora tudo voltará à normalidade.

20.6.17

ainda sobre os incêndios

Enquanto jornalista sempre me fez confusão a forma como as pessoas olham para as diferentes áreas do jornalismo. A começar pela forma como entendem que as regras são diferentes. Quando na verdade todos os jornalistas têm o mesmo código deontológico. Se o seguem ou não é um tema diferente. Mas todos os jornalistas, quer seja do jornalismo visto como mais sério até ao mais leve, devem seguir as mesmas regras.

Nunca percebi porque é que as pessoas olham, apenas para dar um exemplo, para o jornalismo social (visto como cor-de-rosa) como o elo mais fraco do jornalismo. Compreendo que algumas pessoas não gostem do que esta área trata. O que não invalida que não se consiga distinguir entre bom e mau jornalismo. E por mais que custe a acreditar, existe muito bom jornalismo nesta área. O que se passa é que tende a ser inconveniente para muitas pessoas. E isso faz com que seja visto como falso. Apesar de ser muito verdadeiro. E até ser simpático para muitas figuras públicas nacionais.

Pegando agora no exemplo do desporto. Nesta altura do ano existem largas dezenas de jogadores que são anunciados como reforços deste ou daquele clube. Muitas destas notícias são plantadas. Mas ninguém olha para as mesmas com desconfiança. Pelo contrário. As pessoas olham para as notícias e acreditam imediatamente. Ficam todas felizes porque o seu clube vai ter o reforço Y. Que nunca chega. Porque nunca esteve para chegar. Mas as pessoas nem se preocupam com isso. Foram iludidas e não se importam. Porque entretanto está para chegar outro. Que também não chega.

Daqui salto para os incêndios. Que consomem boa parte dos noticiários dos últimos dias. Com muita pena minha. A cobertura dos incêndios também tem jornalismo para todos os gostos. Coisas bem feitas. Coisas muito bem feitas. E coisas péssimas. Que curiosamente costumam ter mais audiência. Mas felizmente isto começa a mudar. As pessoas começam a distinguir as coisas. E a ser bastante críticas em relação aquilo a que assistem. E a cobertura do incêndio de Pedrógão Grande foi palco de um infeliz momento que está a ser partilhado nas redes sociais.

Estamos a falar de uma pessoa que viveu uma tragédia. E que nessa altura pediu aos "colegas jornalistas" que respeitassem a sua dor. Mas que faz uma reportagem (algo que demonstra planeamento) ao lado de um cadáver de uma mulher. Como se fosse esse detalhe que desse sentido à peça. E que leva as pessoas a colocarem a questão: "Está a respeitar a dor da família daquela mulher?". Episódios como este deram origem a um comunicado para relembrar a forma como os jornalistas devem cobrir uma tragédia destas.

Felizmente existem cada vez mais pessoas atentas a esta realidade. E que a criticam. Depois existem outras que acham a coisa mais normal do mundo. Que não tem mal nenhum. E aqueles que aceitam apenas para este ou aquele meio. Quando isto não deveria ser aceite por ninguém. Nem deveria ser feito por ninguém. E aconselho, a quem ainda não viu o vídeo, o momento em que uma jornalista está a entrevistar um morador da torre que ardeu em Londres. A sua reacção quando o homem conta aquilo a que assistiu. E teria sido tão mais simples explorar a dor daquele homem

27.4.17

mais de dez anos depois... chegou ao fim

Hoje participo naquele que será o meu último fecho de edição da publicação onde trabalho há mais de dez anos. Aquela (sem contar com o estágio de três meses numa revista que infelizmente já não existe) onde sempre trabalhei. Na minha página de facebook pessoal partilhei a fotografia da primeira capa em que participei, mesmo só tendo escrito meia dúzia de breves.

Na publicação onde agradeço às pessoas com que me cruzei ao longo destes anos recebi comentários de amigos e de pessoas com quem trabalhei. E no fim de contas é isto que realmente importa. É isto que guardo. As memórias que diversas pessoas tornaram possíveis. É isto que dura desde o primeiro dia em que entrei na redacção até aquele que será o último. E o melhor que podia receber neste dia simbólico são as palavras daqueles de quem gosto.

É mais um exemplo de que a vida é feita de momentos e de pessoas. Pelo menos é assim que a vejo. Irei recordar pessoas, histórias e vivências. Muito mais do que qualquer artigo que escrevi. Do que qualquer capa que surgiu por minha iniciativa e por causa do meu trabalho. São estas coisas que dão encanto à vida. Que a tornam mais saborosa e inesquecível.

Agora é tempo de pensar no futuro. Mais de dez anos depois digo adeus ao papel. Acaba-se uma publicação física. O futuro, pelo menos aquele que me espera no imediato, passa pelo digital, que há muito é visto como o futuro do jornalismo. E estou entusiasmado com o mesmo, por tudo aquilo que representa e pelas novidades que estão associadas ao mesmo.

13.3.17

uma verdade antiga e cruel que se mantém actual

Neste fim-de-semana vi um filme que me tinha passado ao lado. O filme é de 2015 e tem como nome Verdade. Esta longa metragem conta a história de dois jornalistas (e da sua equipa) que faziam parte do programa 60 Minutos, da CBS. Dan Rather, um jornalista muito conceituado, e a produtora Mary Mapes levaram ao programa uma (controversa) história sobre a vida militar de George W. Bush.

O caso remonta a 2004 e a reportagem foi emitida numa altura de eleições. Como seria de esperar, a reportagem teve um impacto enorme junto do povo. Mas assim que foi emitida teve início uma caça à equipa responsável pela peça. Sendo que todos passaram por mentirosos e por maus jornalistas. A carreira de Mary chegou ao fim e Dan Rather acabou por sair da CBS. Podia contar mais detalhes sobre o filme mas é daqueles que aconselho todas as pessoas a ver. Porque se percebe bem a forma como certas pessoas conseguem calar/destruir jornalistas. E a minha opinião, mesmo tendo em conta alguns erros cometidos pela equipa, é a de que existiu influência do presidente norte-americano para que aquela notícia passasse por mentira.

Recordo que o filme é passado em 2004. Mas é curioso que passados tantos anos, existem verdade que não se alteraram. Como a altura em que Mary Mapes defende que eles são dos poucos que fazem jornalismo “importante”. Não querendo desvalorizar o trabalho dos outros jornalistas – onde me incluo – dou razão aquelas palavras. E pelo meio do filme existem muitas ideias que se mantêm actuais em relação ao rumo que o jornalismo levou e continua a levar. Aliás, em Portugal está à beira da morte. Este filme, que conta um belo elenco, passou-me ao lado. Mas é daqueles que recomendo a todos. E quem tem os canais TV Cine ainda o pode rever.

7.3.17

estive a tomar banho, ó seu burro!

Os jornalistas são os maus da fita. Por norma é assim. E esta é a imagem que a maior parte das pessoas acaba por reter. Mesmo que não bata certo. Por exemplo, em boa parte dos casos, os jornalistas são tratados de forma pouco digna por quem precisa deles. Porque na realidade existem muitas pessoas que precisam mais dos jornalistas do que os jornalistas dessas pessoas.

Um exemplo do mau tratamento que é dado aos jornalistas passa pela seca que é dada aos profissionais desta área. Que chegam a ficar horas à espera de uma qualquer personagem. Isto porque entendem que esperar é uma das obrigações dos jornalistas. Mesmo em casos em que são convocados para determinada hora e deixados largos minutos à espera de alguém.

E se os jornalista ousam reclamar são logo vistos como os maus da fita. Sendo que os jornalistas também têm a sua culpa porque aceitam tudo. A maioria deles são incapazes de abandonar determinado local, mesmo quando estão a ser tratados de forma injusta. Algo que aconteceu recentemente com Filipe Gouveia, treinador do Covilhã, um modesto clube do segundo escalão do futebol português.

Com o maior respeito pelo clube, e também pelo treinador, as pessoas deveriam agradecer o facto de existirem jornalista interessados numa conferência de imprensa de um clube destes. E digo isto porque os jornalistas são cada vez menos e a segunda divisão não é uma prioridade. Mesmo assim existiam profissionais na sala, que ficaram à espera do treinador, no final de mais um jogo. Porém o treinador atrasou-se.

E o treinador ficou ofendido quando entrou na sala e ninguém lhe dirigiu uma palavra. Disse que os jornalistas não eram educados. Ao que alguém respondeu que os mal educados eram eles (clube) por atrasarem a conferência de imprensa. Ao que o treinador responde: “você sabe lá se eu estive a tomar banho, ó seu burro”, atira. E ainda diz, ao mesmo ou a outro jornalista, “fixa bem a minha cara, fixa bem”, em jeito de ameaça. (vídeo aqui). E é isto que temos.

Faz lembrar o caso do treinador especial que um dia recusou dar uma conferência de imprensa enquanto uma jornalista não abandonasse a sala. Jornalista essa que foi humilhada sem que percebesse o motivo. Lá acabou por sair até perceber que tudo não passava de um erro. A jornalista era questão era outra pessoa. Houve uma confusão feita pelo especial. Que, mais tarde, enviou outra pessoa para pedir desculpa à jornalista. Que respondeu, a essa pessoa, algo como isto: “Se ele foi homem para me humilhar em público, que seja homem para me pedir desculpa em público”.

Se existem jornalista parvos? Sim. Mas não são a maioria. E a maioria dos jornalistas são vítimas de situações como aquela que aconteceu na recente conferência de imprensa. Este é o modo como os jornalistas são tratados. Sem qualquer distinção. Quando um é mau, são todos péssimos.

9.2.17

jornalismo? as pessoas querem é publicidade

“Jornalismo é publicar aquilo que alguém não quer que se publique. Todo o resto é publicidade”. Esta frase, da autoria de George Orwell, irá definir sempre o jornalismo. Porque o jornalismo é mesmo isto. E o que vai além disto é publicidade. O que não implica que não seja notícia. Muitas pessoas ficam indignadas quando um jornalista está associado aquilo que consideram publicidade mas ela está presente em tudo no jornalismo.

Se entrevisto um actor com base num projecto novo, estou a publicitar esse projecto. Se entrevisto um escritor com base no seu novo livro, estou a publicitar essa obra. E poderia dar muitos outros exemplos dentro do mesmo registo. O caso muda de figura se por acaso alguém escrever que o tal actor é execrável quando está no set de filmagens. Ou se alguém escrever que o livro é um plágio de uma outra obra. Estes dois exemplos servem para ilustrar notícias que vão além da publicidade e que as pessoas não querem que se publiquem.

Depois existe outro fenómeno local. Em Portugal muitas pessoas “conhecidas” acreditam que são conhecidas em todo o mundo. Que são estrelas no mundo inteiro. Quando na realidade em Badajoz já ninguém sabe quem são e não têm nenhuma das mordomias que têm em Portugal onde são vistos como reis e rainhas de um pequeno povo que come tudo o que lhes é colocado à frente. E estas pessoas sabem que conseguem, com bastante facilidade, manipular a opinião do público. Que infelizmente ainda é muito inculto nesta realidade.

Por exemplo, os jornalistas norte-americanos que têm feito frente a Donald Trump são vistos como um exemplo. São vistos como rostos daquilo que o jornalismo deveria ser em todo o mundo. Os vídeos destes momentos de confrontação são partilhados nas redes sociais e todos aplaudem os jornalistas. Mas em Portugal nada disso acontece. As pessoas esperam que os jornalistas portugueses também confrontem Trump mas não aceitam que confrontem, quando é caso disso, uma figura pública – seja de que área for – nacional.

Quando um jornalista português ousa saltar a barreira da publicidade para publicar uma verdade que incomoda é logo visto como mentiroso, invejoso e como alguém que só deseja o mal dos outros. E estes rótulos fazem logo com que as pessoas olhem para os jornalistas como maldosos e invejosos. As pessoas nem tentam perceber se determinada notícia é verdadeira ou falsa. Assumem logo que é falsa. E pelo simples motivo de que a figura pública consegue manipular a opinião da maioria das pessoas. E isto acontece em todas as áreas nacionais.

E é por isto que as pessoas olham para os jornalistas da CMTV, do Correio da Manhã, alguns da TVI e todos aqueles que fazem parte da maldita “Imprensa cor-de-rosa” como gente de merda. Como uma cambada de falsos e invejosos que só querem mal aos outros. Escrever verdades que doem a alguém não passa de uma grande maldade. Mas se for sobre Trump e outros que tais os jornalistas portugueses voltam a ser os maiores.

As pessoas em Portugal não querem jornalismo. Querem publicidade. Só aceitam jornalismo, principalmente aqueles que são motivo de uma notícia menos feliz, quando se trata de figuras que estão a milhares de quilómetros de distância e que nem sabem que existimos. E enquanto as pessoas não perceberem isto vão continuar a olhar para os jornalistas de forma errada. Vão continuar a achar que tudo aquilo que é escrito é mentira e que as figuras públicas portuguesas, de todas as áreas, são vítimas de uma cambada de gente maldosa.

31.1.17

o glamour nem sempre é o que parece

O jornalismo em Portugal está a viver um dos piores momentos de sempre. Quem está atento à área saberá a quantidade de publicações que estão a fechar. Os despedimentos que existem. Os cortes aqui e ali. E praticamente nenhuma publicação escapa a estes “ajustes”. O que faz com que qualquer jornalista, pelo menos a maioria, não saiba como será o dia de amanhã.

Existem publicações, que por estarem associadas a figuras públicas, acabam por ter um impacto maior junto do público. Cristina a revista da apresentadora Cristina Ferreira é capaz de ser o melhor exemplo do que pretendo dizer. A sua revista faz com que muitas pessoas olhem para o jornalismo como um grande sucesso, cheio de glamour e coisas boas. Mas o glamour nem sempre é real.

Não está em causa a qualidade do produto. Mas a verdade é que a revista vai fechar, saindo apenas mais uma edição. E todas as pessoas olhavam para este projecto como uma espécie de galinha dos ovos de ouro das publicações. Mas nem com o selo de qualidade de Cristina Ferreira o projecto se manteve. E as vendas, que chegaram a ser de 110 mil euros desceram, em algumas edições para os 32 mil exemplares por edição.

Este é apenas mais um exemplo do que está a acontecer. E tenho a certeza de que os fechos não ficam por aqui. Vão existir mais publicações a fechar portas. Algumas vão tentar dar lugar a sites mas não sei se a solução está aí. O que sei é que neste momento o jornalismo está a uma grande distância daquilo que era quando dei entrada nesta área. E aquilo que as pessoas (ainda) não sabem é que o jornalismo perdeu a maioria do glamour que lhe é atribuído.

Se continua a ser uma profissão apaixonante? Claro que sim! Se faz falta às pessoas? Claro que sim. Mas as pessoas só vão perceber a falta que faz o jornalismo quando ele for praticamente inexistente. Quando a informação estiver canalizada para meia dúzia de sítios que facilmente são controlados e que não aquecem nem arrefecem. Aí é que as pessoas vão perceber a falta que o jornalismo faz.

Até chegar esse momento, as pessoas vão continuar a acreditar que o jornalismo é um mundo de glamour pago a peso de ouro. Onde todos ganham fortunas e têm direito e isto e aquilo. Quando a realidade mostra um número cada vez maior de despedimentos, de estagiários, de pessoas com ordenados muito baixos que até têm vergonha de o dizer e, apenas para dar mais um exemplo, de jornalistas que ganham migalhas por cada clique que uma notícia que escrevem é publicada neste ou naquele site.

12.1.17

não deixa de ser curioso

Ninguém gosta de notícias sobre a vida das outras pessoas. Supostamente ninguém gosta e todos defendem que se trata de uma invasão de privacidade. Mas tem a sua piada, pelo menos é curioso, que notícias sobre a vida privada de celebridades nacionais ou internacionais acabam sempre no top das mais lidas dos diversos sites. E quanto maior o escândalo, maior o número de visualizações.

vamos dar razão ao trump sff

Não é preciso gostar de Donald Trump (e assumo que não gosto enquanto presidente norte-americano) para perceber que o agora político tem sido vítima de uma campanha. Que não é de agora. Muita coisa foi feita para que perdesse as eleições presidenciais e para que a vitória de Hillary Clinton fosse supostamente fácil. Uma ideia que cedo se criou.

Foram publicadas fotos da sua mulher nua. Foi insinuado que seria prostituta de luxo. Entre muitas outras coisas. As figuras públicas norte-americanas insultaram Donald Trump e apelaram ao voto em Hillary. Madonna até ofereceu sexo oral a quem votasse na sua candidata. E diversas publicações assumiram publicamente o apoio à mulher de Bill Clinton. E toda a gente conhece o resultado desta estratégia.

Mas a verdade é que Donald Trump ganhou as eleições. Mas os ataques continuaram (e vão continuar). A moda passou a ser o “não é o meu presidente” (como se isso fosse possível). As figuras públicas continuam a atacar o agora presidente. Alguns meios de comunicação continuam a atacar Donald Trump e as suas escolhas. Nada de diferente em relação à campanha eleitoral.

E depois as pessoas ficam espantadas porque Donald Trump recusa conceder uma pergunta a um jornalista da CNN. Acrescentando que publicam notícias falsas. Do que estavam à espera? Que Donald Trump morresse de amores por aqueles que, segundo o próprio, o atacam? A melhor arma que tem ao seu dispor é ignorar aqueles que publicam notícias que considera falsas. O jornalista fará o seu papel que passa por questionar. E Donald Trump (como qualquer outra pessoa) só responde ao que quer.

Não podemos aplaudir Cristiano Ronaldo quando atira um microfone da CMTV para o lago, considerando que o jornal e o canal são mestres em notícias falsas, ao mesmo tempo que criticamos Donald Trump quando recusa responder a um jornalista da CNN por considerar que a linha editorial da estação não é a melhor. Não podemos comparar a CMTV com a CNN mas podemos comparar a atitude de Cristiano Ronaldo e de Donald Trump. E ambos não gostam de uma linha editorial. Por isso, Cristiano não fala com o Correio da Manhã e Donald Trump não fala com a CNN. Simples!

19.12.16

porque a imprensa (mesmo aquela de que as pessoas não gostam) tem limites

Muitas pessoas condenam a falta de limites da imprensa. Principalmente daquela a que gostam de chamar de cor-de-rosa. Se as pessoas estivessem a par das leis e do funcionamento de determinadas situações... estas “condenações” desciam drasticamente. Praticamente deixavam de existir. Mas, mesmo para os mais cépticos, existem exemplos que dão a conhecer os limites que muitas pessoas julgam não existir.

Michael Schumacher está preso a uma cama desde que sofreu um acidente durante umas férias da neve. Desde então que existe muita curiosidade em torno da situação daquele que era um dos poucos atletas para quem as pessoas olham como um fenómeno imortal. Desde então muitas pessoas desejam (e este desejo irá sempre existir) ver uma imagem do piloto no estado actual. Quer seja deitado na cama ou numa cadeira de rodas, informação que chegou a ser veiculada.

E onde é que isto pode ser visto? As pessoas apontam logo para a tal imprensa de que não gostam. Sendo que tenho a certeza que caso esta foto venha a ser publicada acabará por ter reprodução mundial. E ao que parece esta foto existe. Haverá um homem que conseguiu tirar uma fotografia ao piloto deitado na cama, na sua casa. Como qualquer fotógrafo de ocasião, este homem tentou vender a imagem captada.

Ao que parece pede um milhão de euros pela imagem. Um preço alto, podem pensar muitos. Mas um preço que, para muitas pessoas, valia o risco devido às vendas que a mesma ia gerar. E mesmo a futura comercialização da imagem. Mas, lá está, existem limites. E ninguém quis comprar esta foto. O vendedor não teve sorte. Não convenceu ninguém. E existem diversos motivos para isto.

O primeiro, e talvez o mais importante, é que existem limites. E uma fotografia de Michael Schumacher no estado em que está é algo que ultrapassa os limites. E isto é meio caminho andado para que muitas pessoas não queiram comprar a foto. Aqueles que possam desejar comprar a foto percebem que legalmente estão a cometer um erro. Porque, e talvez isto ajude algumas pessoas a compreender as diferenças, é algo que viola a privacidade do piloto. Pois a foto só pode ter sido feita no interior da casa sem qualquer tipo de autorização. E isto impede a publicação da foto.

14.12.16

um problema mundial analisado em menos de dois minutos



Denzel Washington foi questionado por uma jornalista sobre uma falsa notícia sobre si. E a resposta do actor é genial. Começa por dizer que quem não lê as notícias não está informado. E que aqueles que passam os olhos pelas notícias acabam por estar mal informados. Uma perspectiva que tem um fundo de verdade e dá que pensar. Quer seja em Portugal ou noutro qualquer país onde existam muitos jornais, revistas e sites.

Depois disto o actor fala daquilo que considero ser um dos maiores problemas do jornalismo. Que é a vontade (muitas vezes cega) de ser o primeiro a dar uma notícia. Isto deve ser o desejo de qualquer jornalista. Qualquer profissional quer ser o primeiro a dar uma notícia. Mas este desejo nunca pode ser superior a todas as regras que devem imperar do início até ao fim de uma peça jornalística. É um daqueles vídeos que merecem ser vistos.

30.11.16

aprende quem quer

Tive a honra, o prazer e o privilégio de estar à conversa com Eunice Muñoz. Digo isto porque a história da representação em Portugal confunde-se com a história da actriz que celebrou no dia 28 de Novembro os 75(!!!) anos da sua estreia no Teatro Nacional D. Maria II. É do conhecimento público que a actriz, de 88 anos, teve alguns problemas graves de saúde nos últimos tempos. Mesmo assim foi uma simpatia para os jornalistas que quiseram conversar consigo antes da homenagem que lhe foi feita.

O tempo estava contado ao segundo, o que levou a que a conversa fosse interrompida porque Eunice era esperada noutro local. "Deixe-me conversar com eles mais um pouco. São muito simpáticos", disse Eunice, recusando o final da entrevista. A conversa prosseguiu. O tempo apertava (menos para os jornalistas pois ouvir Eunice é simplesmente fantástico). E nova interrupção. "Peço desculpa mas temos de acabar", disse a pessoa responsável pela presença dos jornalistas. "Só mais uma pergunta", referiu Eunice Muñoz.

Resumindo, a conversa teve quase o dobro do tempo que tinha sido estipulado previamente. E o mérito é de Eunice Muñoz, uma mulher com 88 anos de vida e mais de sete décadas de carreira. Enquanto jornalista fico feliz por viver momentos destes. E digo isto porque vivemos num país de pseudo-famosos e de celebridades que pensam que o são quando nunca o vão ser.

Pessoas que pensam que são conhecidas no outro lado do mundo mas de quem nunca ninguém ouviu falar em Badajoz. Estrelas que nunca vão brilhar e que não fazem mais do que falar mal dos jornalistas a quem pedem ajuda quando necessitam de algo. Como referi, deliciei-me com os momentos em que tive o prazer e honra de estar à conversa com um "monstro" sagrado como Eunice Muñoz. Mas quem precisava mesmo de a ouvir (bastava observar) são as tais celebridades que nunca o vão ser. Talvez aprendessem algo de interessante. Como por exemplo para que serve realmente a representação.

23.11.16

para muitos uma mulher nua. para mim uma super mulher

Para muitas pessoas imagens como estas nunca vão passar de nudez feia e desnecessária. Para mim vão sempre representar um exemplo de coragem. Quem protagoniza esta sessão fotográfica é Anastacia, uma cantora que quase todas as pessoas conhecem devido à quantidade de músicas que foram sucesso em Portugal. E o motivo desta nudez é nobre.

A artista já lutou contra o cancro da mama duas vezes (2003 e 2013). E aceitou despir-se para a revista Fault onde mostra as cicatrizes das cinco operações e mais dez intervenções cirúrgicas. E fala sobre a aceitação de tudo e da dupla mastectomia a que se submeteu. E quem tem a coragem de fazer algo deste género, dando o exemplo a quem passa pelo mesmo terá sempre o meu elogio e nunca a crítica fácil.

Infelizmente sei o que é viver o cancro da mama pois a minha mãe lutou contra essa maldita doença. Sei também o impacto que as cicatrizes têm nas pessoas e as marcas psicológicas que deixam. Aliás, basta que qualquer pessoa pense na reacção de todas as pessoas quando estão num espaço onde alguém tem uma cicatriz na cara ou uma qualquer marca que a distingue das demais. Todas as pessoas olham, algumas de forma pouco discreta. Já para não falar daquelas que gozam com a situação.

Juntar o cancro, as cicatrizes, o impacto das mesmas e de tantas operações é algo que merece respeito. É uma janela que se abre para muitas pessoas que passaram pelo mesmo, que percorram o mesmo caminho de Anastacia. Isto não é nudez. É uma lição. É um ensinamento do qual muitas pessoas não se apercebem porque nem sequer param para pensar na situação e no que tudo aquilo que observam implica para alguém.






Para terminar recordo um momento que vivi em 2008. Na altura tive a oportunidade de entrevistar Anastacia. Infelizmente foi pelo telefone mas já foi bom. Recordo-me de estar à conversa com uma mulher muito simpática que abordava qualquer tema sem receio. Naquela altura Anastacia já tinha vencido o cancro da mama uma vez. Mas a verdade é que a cantora lida com diversos problemas desde muito pequena. Nesse sentido pedi autorização para a tratar por super mulher. “Não tenho problemas nenhuns com isso”, disse-me entre risos. “Sou uma pessoa normal que tenta superar momentos difíceis. Julgo que me tornei numa pessoa melhor ao superar essas adversidades”, explicou. E se bem o fez, melhor ainda é o exemplo que dá.

21.11.16

shame on me

Infelizmente só na última sexta-feira feira é que vi Spotlight (não gosto da tradução para português por entender que não faz sentido) um filme de 2015 que conquistou diversos prémios mundo fora. Resumindo, é uma história real sobre uma equipa de jornalistas (spotlight) que faz parte do Boston Globe, um jornal norte-americano. O novo director do jornal repara numa crónica do jornal que considera merecer muito mais do que isso. O tema é entregue à equipa que trabalha à parte da redacção da publicação e diz respeito ao abuso de um padre. O caso acaba por ser muito maior do que se imaginava e o trabalho dos jornalistas é impressionante.

Dizer que é um filme imperdível para os jornalistas é muito pouco. É um filme imperdível para todos. Pelo tema. Pela realidade. E por diversos factores como dar a conhecer às pessoas o que é jornalismo de investigação, algo raro em Portugal. É também a ambição de qualquer jornalista. Pegar num tema que parece pequeno mas que na realidade tem importância nacional e até internacional. Tudo isso está em Spotlight. Que conta também com um elenco que soube dar vida aquilo que tinha de ser representado. Para quem tem os canais TV Cine ainda é possível rever o filme. Para quem não tem é um daqueles filmes que valem o dinheiro do aluguer ou mesmo da aquisição do dvd.

15.11.16

saga helena coelho

Tudo volta ao início na saga Helena Coelho. A apresentadora decidiu vir a público defender-se das acusações de mau profissionalismo. Reforçou, recorrendo a provas, a ideia de que a sessão fotográfica que protagonizou foi censurada por uma suposta má forma para ser fotografada em biquínis. Desde o início que não sei onde está a verdade. O que sei é que tudo levanta diversas questões. Se existir mau profissionalismo - e posso dizer que os trabalhos que fiz com Helena Coelho correram lindamente - levantam-se diversas questões, tal como abordei no último texto que dediquei ao tema.

Se a verdade estiver na alegada má forma, existem também questões que se colocam, tal como abordei no primeiro texto que dediquei a esta polémica. A começar pela censura que parte de uma mulher até ao que é uma mulher gorda, algo que Helena Coelho claramente não é. Pelo meio existem ainda diversas questões levantadas pelo comunicado da apresentadora que passam por um suposto "jogo de interesses" entre uma agência e uma publicação. E também pelo alegado mau profissionalismo de outras pessoas.

Não sei onde isto irá parar. Aguardo cenas dos próximos capítulos de modo a perceber onde está a razão: será de um lado? Do outro? Ou algures pelo meio? Independentemente de tudo isto estão a ser levantadas diversas questões que fazem parte dos bastidores de agências, de publicações e de produções. É apenas uma amostra de tudo aquilo que as pessoas desconhecem quando olham para a capa de uma publicação ou quando se deparam com uma produção fotográfica de que gostam ou à qual não acham piada. E é bom que as pessoas comecem a ter noção daquilo que se passa em muitos casos.