Com o cancro – não vale a pena andar com rodeios à volta do nome - da minha mãe aprendi que o maldito bicho tem uma coisa boa. Isto pode soar a estúpido. Aliás, até a mim, que estou a escrever isto, soa a ridículo pensar e dizer que o cancro tem uma coisa boa. Mas a verdade é que tem. Porque a doença oncológica da minha mãe ensinou-me a viver. Até posso dizer que aprendi mais a viver nestes meses de luta e esperança de um final feliz do que no resto da minha vida.
Até ao dia em que a minha mãe me contou o que se passava, pensava que sabia filtrar o que é indispensável para a minha vida e aquilo que é lixo. Ou merda, para quem gosta dos nomes verdadeiros. Pensava que sabia dar apenas importância e tempo ao que me acrescenta algo, ignorando tudo o resto. Pensava até que fazia isso na perfeição. Mas, naquele momento percebi que não sabia fazer nada disto.
E percebi porque, a partir daquele momento, aprendi a fazer isso como ninguém. Agora, e peço desculpa pela falta de modéstia, considero-me um mestre da separação das coisas boas/más da vida. Agora, sei valorizar quem amo e quem é importante para mim. Sei pedir desculpa a quem merece. Sei reconhecer as pessoas que merecem a minha atenção. As pessoas que merecem tudo de mim. Não amanhã nem daqui a uma semana mas agora. Neste momento. Neste segundo pois é o único que sei tenho para gastar. E tem de ser gasto da melhor forma possível.
Saber o que é bom e importante para mim permite-me facilmente perceber tudo aquilo que não interessa. E tudo isso deixou de me incomodar. Vai directamente para o sítio onde merece estar: lixo! A doença da minha mãe deu-me um escudo forte demais para a maldade, para a inveja e para tudo aquilo que nada acrescenta. E saber fazer esta separação faz com que a vida seja muito melhor. Melhor aproveitada. Gozada com as pessoas certas sem momentos adiados. E esta foi a lição que aprendi ao longo dos últimos meses e que fez de mim um homem melhor.
O que se aprende vivendo, e o que se ensina morrendo... :(
ResponderEliminarSad but true :(
EliminarMuito inspirador, este teu texto.
ResponderEliminarAproveita bem esse dom que tens de saber separar tão bem o trigo do joio, e muita força para aproveitar também a vida!
É a grande lição de tudo isto.
EliminarÓtimo post! E como tem toda a razão!
ResponderEliminarÉ uma lição que se aprende e depressa.
EliminarNo entanto, um discurso egocêntrico. Só dás a quem merece. Olha, grande coisa!
ResponderEliminarÉ assim.
EliminarCreio que infelizmente, é sempre na dor que crescemos!
ResponderEliminarUma grande verdade.
EliminarÉ sempre importante crescer como pessoa. Tudo de bom para ti e para a tua mãe.
ResponderEliminarUm abraço
Obrigado. Felizmente está a correr tudo bem.
EliminarAbraço
Gostei de te ler no FB e quero dizer-te que tens todo a razão.
ResponderEliminarSaber a verdade para quem tem a doença e para quem acompanha a pessoa que a tem, é difícil, dói, mas enganar , protelar, fazer de conta, é o pior. E quando os filhos vivem enganados, a revolta e a indignação são o desfecho que custa a ultrapassar.
Acompanhei 4 pessoas da minha família. Desde o início que soube o que tinham.Foi duro, mas a coragem e a força para lhes dar ânimo e os acompanhar até ao fim, nunca faltaram.
Eles só querem carinho e nós aprendemos a ser humildes e a dar importância à vida, aos pequenos e simples momentos.
E a vida é feita de momentos.
Admiro-te muito.
Beijinho
Um dos piores dias da minha vida foi quando a minha mãe me contou ainda sem ter a certeza absoluta da gravidade da situação. Sentes medo. E agora? Como vai ser? Questionas tudo e aprendes logo a viver e a separar as coisas.
EliminarE assim tem sido.
Obrigado pelo apoio e pelas palavras :)
Beijos
Há coisas que de facto ajudam a relativizar, a perceber o que é REALMENTE importante...
ResponderEliminarE tudo faz sentido nesse momento.
EliminarLamento ficar a saber da doença da tua mãe.
ResponderEliminarDesejo muita energia para a luta que têm de travar.
Força!
Apesar de não ter tido a doença em alguém tão próximo, já a tive à minha volta.
A lição que tirei foi sempre essa, aproveitar a vida!
Preocupar-me apenas com o que interessa.
Força para todos!
Paula
vidademulheraos40.blogspot.com.
Obrigado Paula. Felizmente está a correr tudo bem.
EliminarBeijos
Que palavras tão certas!!!!.. A vida é Hoje , há que saber valorizar o que nos acrescenta e desligar-mo-nos do que não presta.
ResponderEliminarAbraço HSB e a maior força para a tua mãe.
Agora, o que não presta vai directamente para o lixo.
EliminarObrigado
Como eu te compreendo tão bem. É isso mesmo. Existem momentos na vida que servem para nos ajudar a encontrar o (nosso) sentido desta vida. O que queremos fazer e como.
ResponderEliminarEste foi o momento.
EliminarCompreendo-te...claramente quem passa por uma experiência desse tipo passa a ter noção das suas prioridades e do valor real das "coisas". A minha dúvida é somente esta: será que esse "discernimento" não é apenas temporário?...será que a nossa memória não fica curta e quandos estas fases complicadas passam, não voltamos a cair nos mesmos erros, nas mesmas indefinição, na mesma "fraca visão" do que devem ser as nossas prioridades?
ResponderEliminarÉ uma questão interessante mas não vou deixar que aconteça. Mesmo!
EliminarTudo, mesmo aquilo que aparentemente é mau, tem uma razão de ser...aliás tudo se enfrenta melhor sabendo dar graças...nos momentos bons e nos momentos maus!!! É tão mais fácil assim...
ResponderEliminarÉ uma lição que se aprende. E que nunca se esquece.
EliminarTambém estou nesse barco e aprendi essa lição com o terrível, doloroso e raro cancro que a minha mãe tem. Aprendi uma outra, a de que temos de viver o dia a dia e não deixar de fazer projetos, embora saibamos que há uma grande possibilidade de não os concretizar, de tudo sair furado. Carpe Diem, sempre. Tudo de bom pra si e pra sua família. Gosto muito dos seus posts e reenviei ao meu pai aquele que escreveu sobre o seu, pois também me identifiquei com tudo o que escreveu. :) Obrigada por passar a palavras sentimentos tão complicados de gerir!
ResponderEliminarPeço-te que me trates por tu, pode ser?
EliminarLá está. É aquela história de não guardar garrafas de vinho à espera do momento certo. E saberás bem o que pretendo dizer. É um orgulho saber que passaste o texto ao teu pai.
Muito mas muito obrigado pelas tuas palavras.
Combinado! O meu pai comoveu-se com o teu texto e comentou que o teu pai era um exemplo para ele e que há algo de reconfortante em saber que há mais gente a passar por esta experiência, por muito egoísta que possa parecer... Eu admirei a tua capacidade de transmitir em meia dúzia de linhas tanto do que nos vai na alma, e tão bem! Tenho crescido muito com isto e sim, nada de guardar o vinho, o momento certo é este, aqui e agora, por muito que esteja longe de ser perfeito! Felicidade e inspiração e força!
ResponderEliminarMuito mas muito obrigado. Já valeu a pena ter criado o blogue. Não sei o que mais te dizer.
EliminarJá ouvi uma pessoa que teve cancro dizer que o cancro foi a melhor coisa que lhe aconteceu na vida. Precisamente por causa disso que falas. :)
ResponderEliminarAlém de que o cancro não é o bicho de sete cabeças que toda a gente pinta. Pode ter algumas cabeças, sim e não é fácil superá-lo, mas o cancro tem cura. É verdade que o cancro pode matar, mas até uma constipação mal curada pode matar. Há tantas doenças tão piores que o cancro, que se as pessoas soubessem encaravam tudo de outra forma.
Quanto ao teu caso em particular, parece-me que estás/estão a enfrentar a doença de forma positiva e isso é meio caminho andado para que corra tudo muito bem. :) Muita força. Estou a torcer pela tua mãe. :)
beijinho
Não vou dizer que foi a melhor coisa mas ensinou-me a viver como eu não sabia viver. Muito obrigado :)
Eliminarbeijos