Ao longo dos últimos dias, em especial nas últimas horas, muito se tem debatido a violência psicológica que um concorrente exerceu sob outra concorrente num reality show de grande audiência. Bem como do silêncio (inicial) da produtora, canal e apresentadora em relação a um caso que se transformou numa das maiores polémicas de duas décadas de programas semelhantes em Portugal. Tudo isto gerou uma onda de reacções nas redes sociais. E é esta mistura que me leva a reagir com diversos pontos de análise.
O meu ponto de vista
Não conheço Bruno de Carvalho. Também não conheço a Liliana. Nada tenho contra ambos. Isto é ponto prévio. Mas tenho de ser sincero. Não gostei do que fui vendo ao longo dos tempos. E não considero normal numa relação. E vou dar de barato o agarrar para beijar. Mas não acho normal agarrar o pescoço durante uma conversa. Não acho normal não querer que se fale com outras pessoas. Não acho normal a manipulação de ideias. Não acho normal o confronto a pessoas que estão perto da namorada. Podem dizer que é tudo jogo e mais não sei o quê. Não gosto. Não reconheço como amor. Aceito todas as outras leituras. Esta é a minha.
TV/Endemol – Big Brother Famosos
Este triângulo é aquele a quem mais aponto o dedo. Porque a culpa da escalada deste problema está aqui. Desde a escolha das imagens à forma como o tema foi sendo varrido para debaixo do tapete. Aquilo que poderia ser uma migalha (abordado logo no início e com uma eventual mudança de postura dos concorrentes) transformou-se num gigante elefante que está no meio de uma loja de porcelanas. Um claro erro de gestão de um problema que continuava a escalar com críticas de nomes sonantes e de muitos anónimos.
Cristina Ferreira
A maior desilusão de todas. Exige-se mais, muito mais, a Cristina Ferreira. Até porque estamos perante uma das maiores comunicadoras do País. Que muitas vezes (e bem) elevou bem alto a bandeira do feminismo e saiu em defesa das mulheres. Diz-se atacada por ser uma mulher de sucesso num mundo de homens. Queixa-se (e bem) dos ataques que lhe fazem nas redes sociais. E “ignora” um problema desta dimensão.
Pior do que isso, diz que a televisão serve para entreter e não para educar. Mais grave, diz isto: “Só o amor pode resolver as coisas mais condenáveis”. E infelizmente, não é assim. Vou pegar no relatório da APAV de 2020. Que avança com o número médio de vítimas de violência. No que a mulheres diz respeito são 8.720 ao ano. 167 por semana. 24 por dia. 54,1% dos casos aconteceram na residência comum. 35,7% não resultaram em queixa. Neste ano, 51 pessoas morreram. Existiram ainda 33 casos de homicídio tentado. Acho que isto basta para que se perceba que o amor não resolve as coisas mais condenáveis. Muitos são os casos em que o caso acaba em tragédia.
Por isso, defendo que não basta a Cristina Ferreira dizer que tem a sua opinião. E que existem coisas de que não gostou, mas que guarda para si. Acho isto inaceitável. Acho que, uma mulher com o seu poder, deve manifestar a opinião. Como tantas vezes fez em casos em que poderia ficar igualmente calada. E que, e muito bem, não o fez. Acrescento ainda que recebi, nas redes sociais, dezenas de mensagens de mulheres desiludidas com Cristina Ferreira. Neste domínio concluo que sou da opinião de que Cristina Ferreira é quem sai pior desta polémica.
Bruno de Carvalho
Bruno de Carvalho chega a este programa com a imagem bastante danificada. Algo que resultou da saída pouco polémica da presidência do Sporting. Com o nome associado a um dos episódios mais negros da história do futebol português. Bruno de Carvalho (e devo mencionar que já partilhei com diversos amigos a ideia que tinha do concorrente e que resultou de um trabalhos em que fiz com BdC) entra bem no programa. Com as pessoas rendidas ao que ia mostrando. Até que acontece isto.
Quero acreditar que Bruno de Carvalho irá perceber, ao rever tudo o que aconteceu, que errou. Esta é a ideia que tenho. Só que olho para as redes sociais do concorrente e percebo que não será bem assim. Já ofendeu Flávio Furtado e Ana Garcia Martins, a quem chama de Piporca. Já disse que o Big é manipulador. E isto mostra que não há qualquer arrependimento. Nem que seja de uma estratégia de jogo (algo referido bastantes vezes) que correu muito mal.
Acrescento que não defendo que Bruno de Carvalho seja fechado num quarto escuro, trancado e que a chave seja deitada fora. Nada disso! Acho apenas que errou. Com milhões a terem os olhos em si. E com comportamentos que muitas pessoas, como fica evidente em qualquer rede social, condenam.
Os meus “amigos”
Manifestei a minha opinião no blogue e também, com maior incidência, no Instagram. Nesta rede social deixei de ser seguido por “amigos” que têm uma opinião diferente da minha. Sem qualquer conversa, sem nada. Apenas decidiram partir. E isto é também um reflexo dos tempos em que vivemos. Como comecei por referir, esta é a minha opinião. Aceito todas. Mesmo aquela que vem de mulheres que acham que isto é tudo normal. Somos livres de acharmos o que quisermos. Agora, perder “amigos” com base em opiniões contraditórias é algo manifestamente exagerado.
Ana Garcia Martins e outros em cargos semelhantes
Ana Garcia Martins dá um dos bons exemplos nesta polémica. Manteve-se fiel aos seus princípios e teve a coragem de fazer algo que poucos fariam: fazer frente a Cristina Ferreira. Não que a apresentadora seja uma espécie de “bicho papão”, mas porque é a patroa. E alguém que acaba de defender uma opinião que em nada se relaciona com a da comentadora. Esta decisão levará a que, eventualmente, fique sem futuro no formato ou no canal. Mas A Pipoca Mais Doce manteve-se fiel aos seus princípios. Argumentou com a apresentadora a quem chegou a dizer que não parecia estarem juntas na luta contra a violência doméstica. Isto quando o caminho mais fácil seria o da “bajulação” camuflada para que tudo ficasse bem.
Porque sou pai
Deixo este ponto para o fim. Sou pai da Matilde, uma menina extraordinária de 19 meses. Uma menina que mudou a minha vida. Que me mudou enquanto homem (ainda que este aspecto nada tenha a ver com isso). E que fez de mim uma pessoa melhor. Assusta-me ver a minha filha crescer com algumas coisas que se passam neste mundo. Assusta-me a ideia de que venha a ter um namorado que a tente manipular. Que exerça pressão psicológica sobre si, sobre as suas decisões e que a queira controlar. Enquanto pai irei lutar diariamente contra isto. E este texto é um passo nessa direcção.
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