Apercebi-me do caso Rayan na sexta-feira. Enquanto trabalhava deparei-me com a notícia de que um menino, de apenas cinco anos, estava preso dentro de um poço desde a noite de terça-feira. A notícia arrepiou-me de imediato. Estremeci quando vi o vídeo do pequeno Rayan a abanar a cabeça dentro do poço, depois de uma queda de 32 metros. A partir deste momento não consegui desligar-me do caso.
Deparei-me com muitas críticas relativas ao facto de a situação estar sempre a dar na televisão, mas creio que não faz grande sentido. Afinal, está um menino preso, mas com vida, num poço. E desenganem-se aqueles que pensam que estamos perante um fenómeno nacional. O mundo inteiro estava de olhos postos naquela criança. Todos a torcerem para que fosse resgatado o mais depressa possível e com saúde.
Foi assim com Rayan, tal como tinha sido com Julen. Ou, para quem está recordado, com os mineiros mexicanos que ficaram meses fechados numa mina. História que deu origem a um filme. Acho perfeitamente normal que as pessoas se agarrem a estas provas de superação. E que as sintam quase como suas, com alguém que conhecem. Situação que ganha uma dimensão muito maior quando o protagonista é uma criança e quem vê tem filhos.
Como disse, fiquei preso à história. Até porque ia lidando com notícias em tempo real que davam conta de que o resgate estava prestes a acontecer. Só que lá vinham os imprevistos. E foram tantos. Emocionei-me com a criança que pedia para entrar no poço para salvar o menino. Emocionei-me com o jovem que disse que não era homem se não o tentasse salvar. Porque acho que são sentimentos que se têm vindo a perder por aqui (e não me refiro exclusivamente a Portugal).
E de está quase em está quase passaram horas. Dei por mim, de madrugada e depois de uma noite de trabalho, a ver se o menino já tinha sido resgatado. Acordei a pensar em Rayan. E faltava sempre um pouco mais. Havia sempre um imprevisto. E por mais que o menino estivesse vivo, temia o pior. Ainda que fosse ouvindo coisas como “se fosse para morrer, já tinha morrido”. Foi já no trabalho que soube que Rayan tinha saído do poço sem vida. Quis abraçar e apertar a minha filha nesse momento. Foi daqueles momentos em que nos apercebemos de que vida é um sopro e que tudo muda em menos de nada.
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