o hotel que não aceita gays nem lésbicas

Existe um hotel português que decidiu colocar em prática uma política de admissão. E estes são os tipos de pessoas que não têm acesso ao hotel: adeptos de futebol, frequentadores e/ou adeptos de festivais de Verão, consumidores de estupefacientes e quaisquer substâncias psicotrópicas e ainda gays e lésbicas. Estas são as pessoas que não podem frequentar a Casa D'João Enes. E o dono já disse ao DN ser ele quem decide quem exclui do seu hotel.

Ainda bem que este hotel tem apenas dez quartos senão estaria sempre vazio. E acredito que seja muito frequentado por estrangeiros. E digo isto porque acredito que, para começar, 90% (ou mais) da população nacional é adepta de futebol. Aliás, este factor já me excluiu deste hotel. Acredito que exista também uma grande percentagem de pessoas que gostam de festivais de Verão. Mais uma vez, estou duplamente banido deste espaço. Sobram os consumidores de estupefacientes (acredito também que seja uma fatia considerável da sociedade) e ainda os homossexuais, motivo pelo qual este hotel passou a ser notícia.

Falo por mim mas não imagino ninguém a fazer reservas e a dizer coisas como: “sou do Benfica, gosto do Alive, fumo droga e, já agora, sou homossexual. Será que têm quarto para mim?”. Acho que são coisas privadas e que em nada interferem com o normal funcionamento de um hotel. Por exemplo, se gostar de basquetebol já posso ir ao hotel? Se não gostar de festivais de Verão mas de concertos de música clássica ou de metal sou um melhor ou pior hóspede? Se fumar tabaco em vez de fumar uma ganza sou pior? E se tiver relações heterossexuais no hotel sou melhor do que se tiver relações homossexuais? Por isso não percebo estas coisas. Existem tantos factores que podem fazer de uma pessoa um mau hóspede de hotel.

Por outro lado, enalteço a “coragem” de quem deixa claro estas coisas no site do hotel. É certo que ninguém liga aos adeptos de futebol, aos que fumam droga nem aos que vão a festivais de Verão, as pessoas só ligam aos homossexuais porque a grande polémica vem daí. Quando digo que enalteço a coragem é porque pelo menos as pessoas sabem ao que vão. Porque existem aqueles que se dizem muito “à frente” e muito “gay friendly” e depois conseguem ter uma mentalidade ainda pior do que aqueles que vetam o acesso a homossexuais. Isto não quer dizer que concorde com isto porque acho absurdo. Mas mesmo considerando absurdo tenho de salientar a coragem de dizer algo que muitos pensam e também fazem mas de forma camuflada.

De resto, a vida de todos nós é feita de discriminações. Nos empregos, no grupo de amigos, nas discotecas, em lojas e em quase tudo, até mesmo nos hotéis que têm outras políticas discriminatórias mas não tão polémicas como vetar o acesso a homossexuais. E o pior é que muitas destas discriminações diárias são camufladas. E quando são camufladas com outros argumentos acabam por passar entre as gotas de água sem que ninguém se aperceba delas. E tudo isto vai dar ao mesmo destino: às mentalidades! E ao lento processo de mudança das mesmas.

Os homossexuais vão continuar a ser uns bichos que para aí andam. As pessoas com tatuagens vão continuar a ser bandidos. As pessoas que fumam ocasionalmente um charro vão continuar a ser drogados da pior espécie. E podia passar horas nisto. E tudo isto é uma questão de mentalidades. Das ideias que ainda estão enraizadas em muitos meios, em muitas famílias e que são transmitidas de geração em geração como verdades que ninguém pode questionar. Enquanto estas não forem alteradas vão continuar a existir modos de pensar que não fazem sentido em pleno século XXI.