18.6.19

os pornográficos 120 milhões de joão félix

Ao que parece, João Félix será jogador do Atlético de Madrid nas próximas épocas. O clube espanhol prepara-se para depositar 120 milhões de euros na conta bancária do Benfica. Para quem não está por dentro destas coisas, este é um dos tipos de negócio possíveis com jogadores que têm cláusulas de rescisão nos contratos. Ou seja, o Benfica não quer vender. Sendo assim, o clube que deseja comprar tem de pagar, a pronto, o valor da cláusula de rescisão de contrato. Que neste caso está cifrada em 120 milhões. A este valor juntam-se, de acordo com a imprensa espanhola, mais 7 milhões de euros (livres de impostos) anuais para o jovem jogador português, de 19 anos.

Estas notícias circulam há alguns dias e desde então que existe uma onda de críticas. Porque é um valor pornográfico, porque nenhum jogador vale este valor, porque um miúdo de 19 anos não pode ter um ordenado destes e por aí fora. E isto acontece sempre que o tema é futebol. Já tinha sido assim com os 222 milhões de Neymar, com os 180 de Mbappé e com os 94 e mais recentemente 100 milhões de Cristiano Ronaldo. As pessoas tendem apenas a olhar para o futebol como um negócio feio, com valores muito acima da realidade da esmagadora população mundial.

Não tenho nada contra quem acha que os valores são altos. Mas nunca ouvi ninguém, especialmente aqueles que apontam o dedo ao futebol, criticar um actor que ganha, por exemplo, 24 milhões de euros para filmar uma longa-metragem. Ou um actor que recebe um milhão de euros por cada episódio que faz para uma série de televisão. Ou para uma modelo que ganha mais de 30 milhões ao ano a fazer o seu trabalho. Seguindo a lógica da crítica ao futebol, não são estes também valores exagerados para a realidade?

Quer seja no futebol, como noutra área qualquer (ao estilo daquelas que referi), o mercado dita os valores. Se o Atlético de Madrid considera que João Félix vale aquele valor, paga esse valor. Tal como os produtores de um filme entendem ser justo pagar muitos milhões para ter alguém num elenco. Ou uma marca para ter uma modelo na campanha. São as leis do jogo. E, algo que considero muito importante, é dinheiro que é privado. Quando o tema são ordenados e valores, preocupo-me muito mais com aquele que me diz respeito. Com aquele que entra e sai dos meus bolsos. Com os ordenados que tenho que pagar.

De resto, desportivamente falando e espero estar errado, creio que João Félix não faz a melhor opção a nível de futuro desportivo. Pois neste momento o Atlético é uma incógnita. Sei também que este não é o clube em que ambiciona jogar. E defendo que seria importante para si fazer uma época completa em Portugal, sendo acompanhado por um treinador como Bruno Lage, que potenciou o seu valor. Por outro lado, sei que é complicado resistir à tentação de fazer um contrato que garante dinheiro para várias gerações. Estamos a falar de 35 milhões de euros garantidos. Fora prémios e contratos publicitários.

E acredito que pela sua cabeça passe a possibilidade de ficar mais um ano em Portugal e ter uma má época. Ou ter uma lesão grave que impossibilite um negócio tão vantajoso para o clube e, acima de tudo, para si. Se juntar a isto as eventuais pressões de empresários e familiares, é normal que o negócio seja feito agora. Enquanto benfiquista, fico triste que se vá embora, mas feliz pelo negócio. Enquanto português, sinto orgulho em que um jovem de 19 anos entre para os lugares cimeiros da lista dos maiores negócios do futebol.

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