Muitas pessoas associam o futebol aos milhões que Cristiano Ronaldo leva para casa ao final do ano. Para muitas pessoas este é o melhor exemplo do que é o futebol. Uma indústria de milhões. Quando não é assim. Está muito longe de ser assim. E além do dinheiro existe outro lado que poucas pessoas percebem. E que faz com que o mundo do futebol consiga ser muito ingrato.
Fiquei muito feliz por Salvio ter jogado bem e ter marcado um golo. No final do jogo partilhei uma imagem em que estava à conversa com o jogador argentino que, ironia do destino, voltou a sair lesionado ontem. E não o fiz para me gabar de ter estado com o jogador. Isso é algo que a minha profissão proporciona. Partilhei a imagem porque Salvio representa o outro lado que poucas pessoas conseguem imaginar e que raramente percebem.
Quando entrevistei Salvio estivemos a falar sobre futebol. Uma conversa entre um adepto benfiquista e um jogador do meu clube. E falámos também de lesões. Porque dias antes de o argentino se ter lesionado com gravidade também me tinha lesionado, tendo sido operado a uma ruptura total do tendão de Aquiles. Salvio quis saber como tinha acontecido e se tinha tido dores. Ficámos um pouco a conversar sobre tudo isto antes da entrevista.
Quando foi para gravar a conversa um dos temas foi o momento complicado que viveu. As lágrimas que chorou e que só a família vê. A dor de não estar apto para fazer aquilo que sabe. O desejo de voltar a estar ao nível que fez de si um jogador de categoria mundial. Tudo aquilo que ninguém vê. Pois a maioria das pessoas só vê os milhões que os jogadores levam para casa. É isto que serve de análise para tudo.
Nunca fui (mas quis ser) jogador profissional. Mas sei o que é sofrer uma lesão grave. Sei o que é ter medo de não voltar a ser igual. Por exemplo, não jogo futebol desde o dia em que me lesionei e que acabei na mesa de operações. Algo que acontece basicamente por medo. Sei o que é ter medo de que tudo aconteça novamente ao fazer algo tão simples como andar. Sei o que é passar largos meses em fisioterapia com receio de que nada volte a ser igual. Sei o que é reaprender a andar. Sei o que é ter (ainda hoje) uma perna diferente da outra. Sei muitas coisas que preferia nunca vir a saber.
Mas saber estas coisas faz com que perceba o tal lado que também ignorei durante muito tempo. Também achava que os jogadores estavam lá para jogar e não havia tempo para receios pois ganham muito para isso. Basicamente ignorava o lado humano de alguém que também é marido ou namorado, que é filho de alguém e que é pai de alguém. E isto é ingrato. Muito ingrato. Se ganham muito? Ganham aquilo que o mercado dita! Mas nenhum dinheiro do mundo compra ou apaga tudo aquilo por que Salvio passou. Por isso fiquei feliz com o seu golo. Ainda para mais depois de ter conhecido o lado que ninguém conhece quando o vê apenas a correr dentro do campo atrás de uma bola.
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