A morte de pessoas conhecidas é um fenómeno que me ultrapassa. Para começar, nunca irei perceber as pessoas que desejam a morte a alguém. Por exemplo, já perdi conta às pessoas que praticamente exigem a morte de Mário Soares. Parece que é algo que as irá deixar satisfeitas. Parece que é como ganhar um prémio numa qualquer lotaria.
Por outro lado, quando esse momento chegar (e que ainda demore pois não desejo a morte a ninguém), as pessoas que desejam a morte de Mário Soares – pelo menos boa parte delas – vão a correr para as redes sociais partilhar uma imagem do político com uma qualquer frase marcante ou com uma dedicatória a puxar ao sentimento.
Depois, também não compreendo aquelas pessoas que ficam indignadas quando alguém lamenta a morte de uma figura pública. Como acontece hoje com o falecimento inesperado de George Michael. As pessoas não querem aceitar que possam existir fãs do cantor que ficam tristes com a sua morte. Pessoas que entendem que ainda tinha muito para dar à música. Ou outro motivo qualquer. E isto atinge limites máximos de absurdo quando essas pessoas dizem coisas como: “com outras coisas não te preocupas tu”. Como se fossem essas pessoas a decidir as prioridades dos outros.
Mas o fenómeno que merece um estudo mais aprofundado diz respeito às pessoas que mudam de opinião como quem muda de cuecas. Pessoas que vão de um extremo ao outro em breves segundos. É mais ou menos o que expliquei em relação a Mário Soares e algo que pode ser melhor explicado com recurso a George Michael.
Até à primeira notícia da morte do cantor, George Michael não passava, para muitas pessoas, de um paneleiro de merda que era apanhado com homens em casas-de-banho públicas. Era uma espécie de alvo primordial dos comentários homofóbicos. Agora, que morreu, é um ídolo pop mundial. Agora chora-se a morte de um grande talento que ainda tinha tanto para dar à música.
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