19.4.16

quase um ano depois

Faltam poucos dias para fazer um ano que rasguei o tendão de Aquiles enquanto jogava futsal. Neste fim-de-semana o telemóvel tocou. Era uma chamada do Hospital Garcia de Orta, em Almada, onde fui operado e onde estive internado durante duas noites. Queriam saber a minha disponibilidade para ir ao hospital de modo a participar num estudo sobre pessoas que sofreram uma lesão com a gravidade da minha. Estudo que acabava por ser quase uma consulta.

Lá fui e assim que cheguei cruzei-me com o rapaz que tinha dividido quarto comigo. E que tinha mais azar do que eu pois conseguiu ser operado duas vezes à mesma lesão num espaço de três semanas depois de uma das suas muletas ter escorregado em casa, algo que motivou novo rasgão do tendão. Lá estivemos à conversa sobre aquilo que tinha acontecido ao longo destes meses, isto depois de já termos trocado algumas mensagens. A nós juntou-se um senhor mais velho e uma mulher, com quem não conversamos. E mais tarde outro dois homens.

Quanto ao estudo/consulta foi bom perceber que tudo corre bem e que tive “nota máxima” no teste que implicava movimentos com ambos os pés, de modo a perceber se estava tudo ok. Descobri também, e isto não é uma novidade para mim porque é algo que ainda se nota, tenho uma diferença nas pernas. Mais especificamente uma diferença de dois centímetros de um gémeo para o outro. O único aspecto menos positivo é a cicatrização sendo que me foi explicado que isso depende do organismo e não daquilo que possa fazer.

Em relação às conversas percebi que tive um comportamento completamente diferente em relação ao rapaz com quem dividi o quarto e em relação ao homem com quem também estive à conversa. Ambos revelaram que “desesperaram” pelo momento em que o pé voltou a pisar o chão. E ambos disseram que assim que esse momento chegou começaram logo a fazer a vida “normal”. Comigo não foi assim. Não foi fácil estar seis semanas sem colocar o pé no chão e com medo de que o mínimo descuido significasse nova operação. Mas não desesperei.

E quando o pé voltou ao chão não pensei fazer logo tudo. Até porque o medo ainda estava muito presente (e arrasta-se, muito mais diluído, até este momento) e só queria recuperar bem. Nunca quis começar a fazer tudo rápido, nunca quis saltar etapas. Foi sempre um passo de bebé de cada vez. Assumo, sem qualquer problema, que não sou a pessoa mais paciente do mundo. Estou longe disso. Mas neste caso tinha paciência para dar e vender. E acredito que recompensou pois se hoje corro sem qualquer dor e faço a minha vida normal sem qualquer dor é por causa da paciência que não me faltou.

Outro aspecto curioso é que ambos não ligaram à lesão. Ambos conduziram depois do que aconteceu e ambos andavam, ainda que apoiados no calcanhar. Acreditavam ser uma entorse e não mais do que isso. No meu caso desconfiei logo que era grave. Até porque entorses já tinha tido perto de (ou mais) de uma dezena. Lesões musculares também. E aquela sensação (dor intensa para eles) era desconhecida para mim. E mesmo não podendo dizer que tinha dores desconfiei logo que era grave, algo que confirmei quando me foi dito que tinha de ser operado.

E tem piada que tanto eu como o rapaz com quem didivi quarto temos o desejo de voltar a jogar futebol. Nem que seja para que a última vez não tenha sido aquela que terminou numa cama de hospital e num bloco operatório.

2 comentários:

  1. Ainda bem que tudo está no bom caminho. Lesões graves tem que ser bem tratadas, para que não fiquem sequelas para toda a vida. Tem que se ter paciência pois como dizia minha avó, "as cadelas apressadas parem os filhos cegos"
    Abraço

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    1. Esta é daquelas que ficam para a vida pois a pessoa não esquece o que aconteceu.

      Abraço

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