Hoje assinala-se o Dia do Jornalista, a profissão que escolhi, de que muito gosto e que, verdade seja dita, infelizmente já viveu dias melhores. Para assinalar este dia existe uma frase de George Orwell que define muito bem o que é o jornalismo. “Jornalismo é publicar aquilo que alguém não quer que se publique. Todo o resto é publicidade”. É uma das melhores definições que podem ser feitas pois o jornalismo, pelo menos a maioria que se faz, não é mais do que publicidade.
Um exemplo que ilustra bem estas palavras é o recente escândalo Panamá Papers. Resumindo, nenhuma das pessoas que aparece naquela extensa lista deseja que o seu nome seja publicado num qualquer jornal. Dar a conhecer quem consta naquela lista é jornalismo. Porque as pessoas têm o direito à informação. Jornalismo é isto. E tenho a certeza de que a maioria (ou mesmo todos) os jornalistas sonham com uma peça destas. Acredito que são notícias com a importância destas, e como tantos outros casos que têm chegado até ás salas de cinema, que fazem com que muitas pessoas sonhem seguir uma carreira no mundo do jornalismo.
Mas a verdade é que o que vai além daquilo que não querem que veja a luz do dia não é mais do que publicidade. E isto não tem mal nenhum. Uma boa entrevista que uma personalidade aceita dar porque lhe convém para algo não deixa de ser boa por ser publicidade. E publicidade no sentido em que o entrevistado está a promover algo na entrevista que aceita dar. Não se deixa de fazer bom jornalismo por ser “publicidade” mas o melhor continua a ser aquele que infelizmente poucas pessoas fazem. E refiro-me ao jornalismo de investigação, cada vez mais raro, que envolve muito trabalho e que até pode originar problemas aos jornalistas.
Muitas pessoas preocupam-se com determinados aspectos que envolvem a publicidade e o jornalismo mas se essas pessoas dedicarem algum tempo a analisar verdadeiramente o jornalismo facilmente vão perceber que quase tudo é publicidade. Se uma notícia agrada a alguém que faz parte da mesma é publicidade. Volto a dizer que esta publicidade não tem mal nenhum nem impede que se faça bom jornalismo e que as peças sejam boas e do interesse do leitor. Mas o jornalismo que dá “pica” a qualquer jornalista é aquele que é incómodo, seja em que área for. Mas esse é cada vez mais raro.
E no Dia do Jornalismo só posso desejar que esta área, que tem tanto de apaixonante como de desgastante, venha a ter dias melhores do que aqueles que agora se verificam. Espero que volte a ser aquele mundo que era quando entrei nele pela primeira vez ou, melhor ainda, que volte a ser aquilo que era quando nem sequer sonhava trabalhar nesta área.
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