26.3.15

quando a vida anda para trás

Gosto de olhar para a vida como um rio que corre o seu curso natural. Em condições normais (ou ideais) gosto de acreditar que a maior parte das pessoas tem oportunidade de brincar enquanto criança. De estudar. De evoluir ao longo da etapa de estudos. De frequentar um curso académico. De conseguir um primeiro emprego. E outro melhor do que o primeiro. E mais um melhor do que os anteriores. E por aí fora. Que encontra alguém que ame verdadeiramente. Que se junte a essa pessoa. Que as duas vidas passem a uma. E que dessa junção resulte uma família, independentemente do conceito de família de cada pessoa.

Tenho a noção de que esta não é uma realidade universal. Existem etapas que são negadas a muitas pessoas. E existem etapas que são ignoradas ou dispensadas por outras pessoas. Mesmo assim, e tendo em conta essas variantes, continuo a gostar de ver a vida como um rio que corre o seu curso natural. Isto no sentido de que gosto de ver a vida como uma evolução. Ou seja, os degraus que são pisados hoje estão num patamar mais elevado do que aqueles que foram pisados há um ano.

Esta evolução não impede que existam momentos em que a vida anda para trás. E este andar para trás diz respeito aqueles momentos por que todas as pessoas (pelo menos a sua maioria) passam. São aqueles momentos mais complicados que exigem escolhas ponderadas que estão associadas ao nível de vida. “Já não posso almoçar todos os dias fora. Almoço uma vez por semana e assim canalizo o dinheiro dos almoços para outras coisas”, é um exemplo. “Já não tomo o pequeno-almoço fora todos os dias e assim pouco x dinheiro por mês”, é outro exemplo. São aquelas medidas em que se pensa quando existe uma necessidade de poupança. Quando é necessário cortar em algo de modo a que o dinheiro se estenda para outras coisas mais importantes. Isto sempre de acordo com as prioridades de cada um.

Tomar este tipo de decisões é ver a vida andar para trás. É sentir a necessidade de travar algo. De regressar a um patamar inferior aquele em que se vive. Se assim não fosse, não se mudava. Mantinha-se o estilo de vida sem qualquer alteração. Mas uma coisa é fazer isto com dinheiro. É ter dinheiro no bolso, menos do que se tinha, e tomar a decisão sensata de fazer render ao máximo o dinheiro que se tem. Isto é dar um passo atrás mas sem perder o tal sentido de evolução natural de que falei. Outra coisa completamente diferente é ter os bolsos vazios. E arranjar forma de fazer esse vazio transformar-se em dinheiro.

Hoje falou-se disto ao almoço. Como se consegue? Não se consegue. Não se vive, sobrevive-se. Não se faz planos para um futuro que vá além de uma semana ou um mês. Acredita-se que o amanhã será melhor. Procura-se o maior número de refúgios possíveis para mente, desde família a amigos. Procura-se o refúgio numa gargalhada de modo a evitar uma lágrima. Não se pensa. Evita-se pensar. Não se fazem contas, contam-se piadas. E isto tudo numa espécie de loop interminável.

20 comentários:

  1. "Não se fazem contas, contam-se piadas."
    É tal e qual assim. O sentido de humor ajuda bastante na maior parte das dificuldades da vida. Posso ter os bolsos vazios, mas tenho desenvolvido um sentido de humor tremendo. E isso, garanto, dá-me anos de vida ☺

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    1. É arranjar todas as maneiras e mais algumas para que os problemas se afastem durante algum tempo.

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    2. Sem dúvida. Vale quase tudo.
      Se bem que eu tento ao máximo resolver logo de início todos os que só dependerem de mim de ser resolvidos. É sempre menos um ou outro que me ralam os pensamentos ;)

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    3. O pior é quando tens problemas por culpa de outros ;)

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    4. Na realidade, é dos que mais tenho.
      A minha aprendizagem e desenvolvimento pessoal tem sido, infelizmente, tentar não me absorver e preocupar tanto com os problemas que os outros arranjam e me arrastam para eles. É o mal de quem mostra empatia para com os outros. Há que contrariar.

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    5. Há que encontrar força para contrariar.

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  2. Infelizmente o dinheiro por vezes é o mais importante de tudo, mas se pensarmos em tudo que nos rodeia e virmos o que realmente importa (amigos, família...) a vida irá com certeza ir sempre para a frente!

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  3. Bruno, infelizmente conheço demasiado bem o que contas e sim a vida é um "loop interminável" de "amanhã será melhor!", " quando chegar a altura, logo se há-se arranjar" e o que mais entristece um coração é ouvir "não deveria ter voltado", "Estava tão bem, para agora não ter nada", "Foi a pior decisão que tomei!" e o mais desgostosa é não poder fazer nada para reverter a situação, pq parece que tudo e qualquer decisão q se toma para reverter, simplesmente encalha :(

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    1. E eu compreendo muito bem o teu comentário e aquilo que explicas... Mesmo muito bem.

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  4. E as depressões e desunião aumentam...

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  5. Eu acho que existem 2 formas de ver a situação actual. A realista, com a dose máxima de preocupação com o que temos, o que perdemos, o que vai ser o dia de amanhã e isso inevitavelmente vai nos levar a estados de frustação e ansiedade... Porém, convém existir preocupação qb porque senão ainda nos arriscamos às tais depressões que tanto abundam... ou então, tentamos alienarmo-nos da nuvem negra, aceitando que as coisas mudaram, e que teve que existir uma re-adaptação da vida que levávamos anteriormente e tentar viver o dia a dia com alguma serenidade e sabedoria para conseguirmos valorizar aquilo que de bom vamos tendo...família...saúde...amigos...dias bonitos... (parecem clichés e talvez sejam, mas é uma forma de encarar a mudança).

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    1. E quando as coisas mudam por culpa de outras pessoas e por culpa de coisas que não controlas mas que te mudam a vida?

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    2. Aceitar...
      Não há outra forma, se queremos continuar temos que aceitar... acho eu...
      Tens outra forma?

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  6. Támbem sou de opinião que há alturas na vida em que por mais que se lute a vida teima em dizer que não vale a pena.
    Há pessoas em que parece que a vida as estás sempre a deitar ao chão, por mais que se levantem e voltem à luta.
    Fala-se muito em termos de ser empreendedores e coisa e tal, mas até para isso é preciso ter meios e apoio.
    E apoio é o não há para todos.
    Dai a expressão " a vida para uns é mãe para outros é madrasta".

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  7. Infelizmente tens tanta razão e é a realidade de tanta gente...

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