corridas. comparações. invejas. frustrações

Imagino a minha vida como uma corrida. Com cada dia a equivaler a uma etapa desta prova. E com cada momento do dia a corresponder a um segmento da etapa diária. Mas esta corrida é diferente de todas as outras. Porque nesta competição diária, que teve início em 24 de Maio de 1981, não existe mais ninguém. O único concorrente sou eu. A minha competição é comigo. Tenho o objectivo de ser mais rápido do que fui ontem. Quero preparar-me melhor hoje para a corrida de amanhã do que me preparei ontem. Quero estar mais forte. Quero chegar mais longe e correr uma distância maior. Quero vencer a pessoa que fui no dia anterior. Só eu é que importo, até porque não existe uma única pessoa que esteja a observar a corrida.

Quando não consigo ser melhor sou o único culpado disso. É porque falhei em algum momento. Ou porque não me preparei da melhor forma. E não existe ninguém para ficar com a culpa daquilo que considero o meu insucesso. Se tenho o mérito de todas as conquistas tenho igualmente a responsabilidade de todos os fracassos. E se não perco tempo a gabar-me quando considero ter sido bom também não perco horas em lamentações motivadas por momentos menos positivos da minha vida.

A postura que escolhi para a minha vida, e que aplico na vertente pessoal e profissional, impede que me compare com alguém. Que diga que sou melhor do que fulano ou inferior a sicrano. Impossibilita que me perca em competições ridículas que não me levam a lado nenhum e que não me dão qualquer vitória. Mais importante do que isso, impede que inveje a vida de alguém. Não me dá espaço para invejar o carro deste, a casa daquele e o emprego do outro. A ausência de tudo isto faz com que a minha existência não seja pautada por frustrações patéticas que só servem para prender a pessoa ao fundo do poço, impossibilitando que veja a luz e que arranje forma de escalar até sair do local escuro onde se encontra.

As pessoas invejam outras porque se sentem inferiores a quem invejam. Acham que não estão no mesmo patamar do alvo da sua inveja. Isto leva a que um dos poucos momentos de prazer das suas vidas seja alcançado quando aqueles que invejam atravessam um mau momento. É uma vitória que alimenta a sua existência. Porque apenas nesses momentos é que estão perto de perceber que nunca foram inferiores. Porque as pessoas são todas iguais. Umas podem ter mais dinheiro, outras podem ter um melhor emprego ou uma melhor casa mas as pessoas são todas iguais. 

E quanto mais invejam mais frustradas se sentem. E esta inveja e frustração impede que se preocupem com as coisas que realmente importam nas suas vidas. Quem é movido por estes sentimentos não quer ganhar corridas, deseja apenas ficar à frente de quem inveja. Mesmo que essa pessoa seja a última classificada e existam milhares de outros concorrentes. A vitória passa por dizer que se ganhou aquela pessoa que sempre foi vista como superior. Se as pessoas se preocupassem em correr sozinhas teriam uma vida muito mais feliz. Mais preenchida e com tantas conquistas que se vão perdendo pelo caminho.