Minutos depois de terem abandonado o beco, João e Inês passeavam pelas ruas de Dublin como um casal apaixonado que tinha escolhido aquela cidade como destino para umas férias românticas. De mão dada aproveitavam cada segundo como se fosse o último. E nenhum ousava falar sobre o verdadeiro significado daquele momento. Embora João pensasse que a qualquer momento aquela perfeição pudesse ser interrompida não queria dizer nada que levasse à conversa que acabariam por ter.
Inês pensava o mesmo. Neste assunto também estavam em sintonia. E não apenas na atracção física que os ligava. Os minutos iam passando. E continuavam a caminha de mãos dadas. Até que chegou o ponto em que João entendeu que o silêncio já se arrastava há demasiado tempo e que a conversa que podia vir a estragar tudo teria que acontecer mais cedo ou mais tarde. “Desculpa mas tenho que dizer isto”, disse João. “Isto o quê?”, perguntou Inês. “Sei que devemos viver o momento. Sei que devemos aproveitar o que temos sem perder tempo a pensar no que queremos ter mas qual o significado do que acabámos de viver?”, questionou.
“Disseste algo muito acertado. Devemos aproveitar o que temos. Não devemos perder tempo a imaginar cenários. Se começar a pensar no futuro vou estar a deixar de saborear este momento. E este momento inesperado está a saber bem demais para ser desaproveitado com previsões em relação ao meu futuro, ao teu futuro e ao nosso futuro. Até soa mal estar a dizer nosso”, explicou Inês com uma aparente seriedade até então desconhecida por João.
“Bem vistas as coisas até posso ser sincera contigo. Não existe futuro para nós. O nosso futuro começou a extinguir-se naquele beco e irá terminar com esta noite”, acrescentou. “Como assim?”, perguntou João, bastante admirado com o que acabara de ouvir. “Eu explico. Com o passar do tempo vais perceber que não sou a mulher que imaginas que seja neste momento. Só que nesse momento já vamos estar casados. Provavelmente até já teremos um ou dois filhos. Mais do que isso não. E nessa altura a nossa relação irá ser muito má. A comunicação entre nós irá ser praticamente inexistente. Vou começar a trair-te. E tu acabarás por descobrir os meus casos. O divórcio irá ser uma verdadeira guerra. Vais tentar fazer-me a vida negra e irei tentar que só vejas os teus filhos de quinze em quinze dias. E as crianças vão crescer com os pais sempre zangados. Por isso, e bem vistas as coisas, e até pelo bem das crianças, é melhor que as coisas fiquem por aqui. Assim, amanhã já não te lembras de mim nem eu de ti. E o futuro será mais risonho”, disse Inês.
Naquele momento o silêncio destacou-se. Inês mantinha olhava de forma séria para João, que por sua vez parecia ganhar coragem para falar. “Eu pensava que a minha viagem a Dublin estava a ser má. Depois, nas últimas horas, até acreditei que estivesse a ser melhor, que tivesse um significado, que estivesse destinado conhecer-te e quem sabe ter algo mais contigo. Afinal, neste momento já não tenho dúvidas de que nada podia correr pior nesta viagem”, disse, em tom de desabafo e com o olhar mais triste que alguma vez tinha feito.
“Mas não querias imaginar o futuro? Não foste tu quem quis saber qual o impacto daquele momento que vivemos no beco”, atirou Inês. “Fui mas...” começou a dizer sendo interrompido por Inês. “Não há mas nem meio mas. Quiseste o futuro. Ele acabou de passar na totalidade à tua frente. Está aí tudo aquilo em que penso neste momento. E é melhor ficar por aqui”, disparou, já com ar zangada. “Ok... Sendo assim boa noite”, disse João, voltando costas e começando a afastar-se num passo lento.
Até que sentiu a mão de Inês a agarrar o seu braço. “Estava a brincar contigo”, disse Inês já em lágrimas de tanto rir com a reacção de João. “Precisavas de ver a tua reacção”, acrescentou. “Isso não se faz. Especialmente depois de tudo o que já me aconteceu nesta viagem”, defendeu João. “Eu sei. Mas tinha visto esta piada recentemente nas redes sociais e achei que a podia colocar em prática contigo. Desculpa. A sério. Talvez tenha sido exagerado da minha parte”, disse, tentando dar um beijo a João para completar o pedido de desculpas. Mas João acabou por se afastar. “Não brincas assim comigo e depois pedes desculpa como se nada fosse. Agora foste longe de mais. E bem vistas as coisas o futuro é capaz de ser mesmo assim para o mau. Por isso é melhor cada um ir para seu lado”, atirou. Agora era Inês que estava triste. “Desculpa. Estava mesmo a brincar contigo. Sou mesmo assim e às vezes exagero um pouco. Mas não te queria magoar. Desculpa”, explicou. “As desculpas evitam-se”, atirou João.
O silêncio voltava a ser pesado. Inês olhava para João sem saber o que esperar. Até que João desatou numa gargalhada. “Devias ver a tua reacção. Muito bom!”, gracejou. “Parvo. Isso não se faz”, disse Inês. “O que esperavas depois do que me fizeste. Tinha de aproveitar este momento para me meter contigo. Era agora ou nunca. Até porque não vamos ter futuro”, brincou levando Inês a soltar uma gargalhada.
“Voltando ao futuro”, disse Inês. “Não é preciso falar disso. Eu é que sou assim e nunca irei mudar isso. Começo a imaginar umas coisas ao mesmo tempo que temo outras. E esta forma de ser tende a afastar as pessoas de mim a partir do momento em que ficam assustadas com algo. Daí ter receio de abordar isto contigo ao mesmo tempo em que não consigo evitar perguntar-te algo. Percebes ou é confuso?”, perguntou João. “Acho piada à tua falta de jeito a explicar estas coisas”, brincou. “Mas percebo bem o que pretendes dizer. Mas a verdade é que não sei se o nosso futuro vai além deste dia. E do momento em que a gente se separe. E acredito que também não saibas. Por mais coisas que possas imaginar. Até porque não sabemos muito bem o que esperar um do outro. Ou mesmo aquilo que realmente somos. O que te posso dizer é que este momento está a ser muito bom. E quero prolongá-lo ao máximo sem tentar perceber o que irá acontecer daqui a algumas horas”, explicou Inês.
Finalmente voltou!! Ainda no outro dia me tinha lembrado desta história! Para a próxima não demores tanto tempo!!!
ResponderEliminarObrigado :)
EliminarEspero que não!