Por norma associa-se a violência doméstica às mulheres, enquanto vítimas, e aos homens, no papel de agressores. Esta é a imagem que a sociedade retém de um tema bastante sensível. Até porque a mediatização do tema está associada a mulheres que são vítimas e também porque a maioria dos homens – e existem muitos – que são vítimas de violência física por parte das mulheres acabam por não apresentar queixa. E o motivo é simples: têm vergonha de reconhecer que são agredidos por mulheres. Encaram isso como sinal de fraqueza.
Não escondo que quando se fala de violência doméstica faço, numa primeira análise, o raciocínio que referi. Mas quando assim é recordo de imediato uma cena que assisti, em tempos, numa discoteca. Homem e mulher (provavelmente ex ou namorados) estão no bar. Nota-se que estão a discutir. O homem mantém-se calmo e a mulher bastante exaltada. Esta situação arrasta-se durante alguns minutos. O homem sempre calmo. A mulher sempre exaltada.
Apesar da insistência da mulher, ele parece preferir ignorar a sua presença. Até que a mulher dá-lhe um estalo. Não se ouviam palavras mas parecia que ele nada dizia enquanto ela discutia muito. O homem não tem qualquer reacção ao estalo. A mulher continua a discutir. E volta a dar-lhe um estalo. E aí o homem reage, dando um murro à mulher. E outro, até que são separados. Saíram da discoteca e algum tempo mais tarde quando saí estavam os dois, na presença de agentes da Polícia, à porta da discoteca. O homem permanecia calmo e ela berrava, com o olho negro.
Se não tivesse testemunhado a situação iria imediatamente pensar que a culpa era somente dele. Teria em conta as marcas no rosto dela e a postura de ambos. Mas vi aquela mulher “massacrar” aquele homem até que ele perdesse a paciência. Quase que parecia que tinha um qualquer objectivo que passava por aquele fim. Naquele caso têm os dois culpa. Tem ele porque, mesmo perdendo a paciência, não pode dar dois murros à mulher, e tem ela porque depois de violência verbal partiu para a violência física.
Abomino a violência doméstica. Aliás, abomino qualquer tipo de violência como sendo a solução para o que quer que seja. Mas quando o tema é a violência doméstica torna-se bastante complicado emitir uma opinião. Porque a sociedade ainda olha para as mulheres como vítimas, mesmo quando são agressoras e para os homens como culpados, mesmo quando são vítimas. E tentar explicar isto, salientando que são realidades existentes, mesmo em menor número, é uma tarefa quase impossível.
É verdade que existe violência doméstica da mulher sobre o homem. Porque é que a sociedade não aceita isso?
ResponderEliminarVejamos A sociedade é maioritariamente feminina. Basta olhar para as estatísticas para saber que existem mais mulheres que homens. Segundo a violência no homem, e muito mais intensa. Num ano em que 40 mulheres morrem às mãos dos homens, houve uma mulher que matou o marido.(Com a ajuda do amante) A violência da mulher sobre o homem raramente é física. Quase sempre é psicológica. Só deixa marcas na própria vitima, se não tiver testemunhos como pode prová-la? Por isso não apresentam queixa. Porque a mulher sabe que em confronto físico, dificilmente leva a melhor. No caso que referiu, provavelmente ele não teria marcas das bofetadas, ela tinha o olho roxo.
A sociedade é como o S. Tomé. Ver para crer.
Sem violência, um abraço e uma boa semana
Acho que há muitos mais homens vítimas do que aqueles que as pessoas julgam. Só que muitos têm vergonha de apresentar queixa ou contar a alguém. Porque acreditam que isso é sinal de fraqueza.
EliminarAbraço
Ui!... Este é um tema que dá pano para mangas! E fazes bem em aborda-lo, infelizmente está sempre presente na sociedade.
ResponderEliminarTrabalho numa área que também toca este flagelo e, se é verdade que são as mulheres as vítimas em maior número e com desfechos tantas vezes trágicos, também é verdade que homens, crianças e idosos também o são. É preciso não esquecer!
O exemplo que descreves não é inédito e aposto que foi ele, o homem, a ficar mal na fotografia... Por uma questão de usos e costumes, porque é o caso clássico.
Seja qual for o género da vítima, a idade, a relação de parentesco, é sempre violência, o horror da violência. E é a violência, sob qualquer forma, que todos nós, cidadãos responsáveis e comprometidos, devemos ajudar a denunciar, de modo a combater, até porque se trata de um crime público.
É um tema bastante sensível. As pessoas não se querem meter porque depois arranjam problemas e chatices que dispensam.
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