8.1.16

(des)encontros (capítulo dezanove)


“João, quem está ali?”, perguntou Inês, incapaz de esconder o medo que sentia naquele momento. Toda ela tremia com receio da motivação de quem ali estava. Naqueles breves instantes, que pareciam horas, viajaram pela sua cabeça todas as histórias macabras que envolvem casais e que costumava encontrar estampadas nos jornais. João também estava assustado. Muito! Mas ao contrário de Inês fazia os possíveis para que aquilo que sentia não fosse perceptível para ela. Achava que era, ou eventualmente poderia ser, o único refúgio de Inês e isso impedia que mostrasse que estava assustado e receoso.

“Espera aqui que vou ver quem é”, disse João, enquanto afastava Inês com o seu braço direito, de modo a que ficasse segura. E apesar da simplicidade do gesto, a verdade é que tinha surtido efeito junto dela. Lentamente, mas tentando evidenciar confiança, avançou pela rua. Passo a passo. Ao estilo do que via nos filmes observou a rua com atenção de modo a encontrar algo em que pudesse pegar para usar em caso de um eventual confronto físico. Lá viu um pequeno ferro que agarrou e que escondeu atrás das costas, agarrando o mesmo como quem agarra um taco apenas com uma mão.

Continuou a percorrer a rua tentando mostrar confiança. “Quem está aí?”, perguntou, ficando sem resposta. “Quem está aí? Estou a falar contigo?”, insistiu recorrendo a um tom de voz mais elevado. Mas continuou sem resposta. Neste momento a confiança já era maior daquela em que ele próprio acreditava. Inês observava ao longe assustada. Assustada demais para dizer o que quer que fosse. Parecia uma menina assustada e encolhida no sofá de casa enquanto está a dar um filme de terror na televisão. Uma daquelas pessoas que apesar do receio não resiste a olhar para a televisão para saber o que irá acontecer. Assim estava Inês.

João acelerou o passo. Naquele momento a confiança era cada vez maior. “Não me estás a ouvir falar contigo?”, voltou a perguntar. “Estás aí a olhar para nós porquê?”, disse. “És daqueles que gosta de observar, é?”, disse, começando a andar ainda mais depressa e preparado para recorrer ao ferro que agarrava com a mão esquerda. Até que parou. Neste momento João era pouco mais do que um vulto para Inês, que ouviu o ferro cair. Nesse momento ficou ainda mais nervosa. De forma inesperada ouviu uma sonora gargalhada de João, que não conseguia parar de rir. Até já estava, ainda que não fosse perceptível para Inês, apoiado nos joelhos e a rir-se.

“Que foi? Que se passa?”, gritou Inês. “Não me deixes assim”, suspirou. João começou a correr na sua direcção. Sempre a rir. Algo que ela não compreendia. “Que foi? Que foi?”, insistiu. Até que João chegou perto de si. “Nem vais acreditar. Aquele vulto que continuas a ver ali ao fundo não é mais do que um daqueles bonecos que estão à porta dos restaurantes com a ementa. Não é mais do que isso”, disse, entre risos. “Mas aquela zona não tem luz nenhuma”, destacou Inês. “Não tem porque o restaurante está fechado. Só que, pelos vistos, deixam o boneco ali. E nós nem reparamos nele quando passámos por ele no outro lado da rua”, disse João, sendo incapaz de parar de rir. “Que momento delicioso”, acrescentou. Inês também já se ria. “É um bom momento porque não aconteceu nada”, disse. “Aposto que também estavas assustado”, referiu. “Eu?!?”, soltou João. “Nada disso! Estava pronto para tudo e ninguém te faria nada”, respondeu cheio de confiança, conseguindo esconder o medo que realmente sentiu.

“Ainda bem que não passou de um susto”, desabafou Inês. “Pensei naquelas histórias macabras que se ouvem e que têm casais como protagonistas. Estava mesmo cheia de medo”, disse. João aproximou-se, colocando as mãos nos ombros dela, deixando que as mesmas deslizassem pelos braços. “Achas mesmo que deixava que alguém te fizesse mal?”, disse num tom de voz mais baixo e colocado. “Quero acreditar que não”, referiu Inês. “Mas tenho de te contar uma coisa”, acrescentou João. “Vais assumir que estavas com medo?”, perguntou Inês. “Nada disso. Não tinha medo nenhum”, respondeu João com a mesma voz colocada. “Fui até ao início da rua apenas por um motivo. Para ser o primeiro a fugir”, disse. “Parvo!”, reagiu Inês não evitando uma sonora gargalhada. “A sério. Podia ser quem fosse mas não deixaria que te fizessem nada”, explicou João. “Devo confessar-te que este episódio deu-me vontade de dar um segundo capítulo à nossa história neste espaço”, disse João, puxando Inês para junto de si. Inês agarrou João, dando-lhe um caloroso beijo que deixou João à mercê do desejo. “Mas isto é a única coisa que levas de mim neste espaço”, gracejou Inês, agarrando a mão de João. “Vamos sair daqui e depressa”, disse.

11 comentários:

  1. Yeeehhhhhh.... que saudades do João! Muito fixe, ainda bem que não lhes aconteceu nada de mal! Depois de uma bela "rapidinha" nada melhor que uma boa gargalhada! :)
    Agora, Bruno, vê lá se arranjas um quartinho para os dois que eles estão a precisar!
    Obrigada
    Beijos

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Obrigado pela simpatia de sempre :)

      Pensei fazer algo mais dramático mas tive pena deles...

      Beijos

      Eliminar
    2. LOL... é curioso ver como nos apegamos a personagens fictícias e que sofremos por elas como se fossem reais!

      Eliminar
    3. Sabe muito bem ler isso. Obrigado! E haverá novidades em breve ;)

      Eliminar
  2. Já tinha saudades desta tua história :)

    ResponderEliminar
  3. Fui leitora fiel do "Is this love?". Quando li os primeiros episódios desta história não fiquei particularmente interessada, mas hoje li este e andei para trás curiosa, acabando por ler praticamente todos (não li os primeiros, não achei necessário). Não gosto da Sophia. Gosto da Inês, embora o seu comportamento não tenha nada a ver com o meu. Parece ser boa gente. Voto para que o João fique com a Inês, no fim.

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Obrigado pela sinceridade! A Sophia tem tudo para ser odiada por todos. Pobre coitada :)

      Eliminar
  4. Gostei deste bocadinho. Como ando por aqui há pouco tempo não li os anteriores que talvez venha ler um dia com mais vagar.
    Um abraço e bom domingo.

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Ainda bem que gostaste. Fico feliz por isso.

      Abraço e boa semana.

      Eliminar
  5. Já não andava nestas lides há um tempo... e... estes dois ultimos episódios deviam ter um adult content sign...
    muito bom...

    ResponderEliminar