9.6.14

correr faz bem ou faz mal?

Antigamente quase ninguém ligava nenhuma à corrida. Recordo-me da altura em que corria ocasionalmente, há coisa de dez anos, e poucas pessoas se cruzavam comigo no mesmo percurso onde hoje vejo dezenas de pessoas. Os tempos mudaram e cada vez mais existem pessoas que optam por correr na rua, multiplicando-se também o número de “ginásios” ao ar livre que permitem às pessoas conciliar a corrida com alguns exercícios.

Em pouco tempo, correr passou a ser uma moda. Com muitos adeptos. E, como qualquer moda, correr tem um perigo. Que passa por todas as pessoas pensarem que podem fazer o mesmo que os outros fazem. Tal e qual como quando foi moda usar calções de ganga curtos e todas as mulheres decidiram comprar e vestir essa peça de roupa apenas porque era moda e porque toda a gente usava. A corrida tem esse perigo que vem com todas as modas. Agora, daí a dizer que correr faz mal vai uma grande distância.

Mesmo assim, aceito que digam que correr faz mal. Tal como faz mal praticar crossfit. Tal como faz mal praticar aulas de grupo. Tal como faz mal jogar futebol. Tal como faz mal estar numa sala de musculação a levantar pesos. Tal como fazem mal um largo número de modalidades. E todas fazem mal desde que mal praticadas. Se a postura for errada, se o equipamento não for o correcto e por aí fora, irá fazer mal à pessoa. Por isso, correr faz mal a quem não sabe correr nem adaptar a corrida às suas necessidades.

Por exemplo, algumas pessoas com excesso de peso ficam sem praticar desporto durante muito tempo. Até que metem na cabeça que correr é a solução. E querem perder peso depressa. Como tal, e porque não aguentam (mas metem na cabeça que sim) correm (arrastam-se) durante largos minutos. O que é bastante perigoso. Porque o excesso de peso leva a uma sobrecarga das articulações (joelhos e tornozelos). O impacto da corrida vai sobrecarregar ainda mais as articulações que tendem a estar fragilizadas. O melhor é caminhar em vez de correr.

Outro exemplo é o calçado. Já vi pessoas a correr com sandálias ou com ténis que são adequados para tudo menos para correr. Outro erro que pode causar problemas graves. Leve e arejado devem ser opções a ter em conta. Mas é imprescindível que o calçado tenha um bom sistema de amortecimento de impacto. E existem opções muito baratas no mercado.

Uma indicação que me foi dada passa por evitar correr muito tempo em alcatrão pois pode ser prejudicial para as articulações. O ideal passa por também correr em mato/areia e tentar misturar os diferentes pisos no percurso. A areia/mato poderá ter a desvantagem de ser desnivelado o que exige uma precaução extra. Outra coisa a ter em conta é deixar as subidas para quando se está em forma.

A corrida não passa apenas por correr. Convém exercitar os músculos para que estejam preparados para o esforço da corrida. Os alongamentos também são importantes tal como saber ouvir o corpo e os sinais que nos dá quando precisa de descanso. Querer tudo num dia nunca dá bom resultado. As coisas necessitam de tempo. E perder peso, por exemplo, não é excepção.

É por coisas destas que defendo que correr não faz mal. Aquilo que faz mal é não saber correr. E isso aplica-se à maioria das actividades desportivas que as pessoas podem praticar. Saber o que se faz, saber aplicar o desporto às necessidades e capacidades do corpo é meio caminho andado para que tudo corra bem. Quer seja na corrida ou noutra modalidade qualquer.

14 comentários:

  1. É verdade. Correr não faz mal. O que faz mal é não saber dosear o esforço e acreditar em soluções milagrosas!
    Abraço

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    1. Acho que muitas pessoas não conseguem perceber o que é mau para si e que isso não tem de ser mau para todos.

      Abraço

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  2. Completamente de acordo, correr como qualquer atividade física tem de ser feita com moderação e cuidado..cada caso é um caso e pessoalmente conheço quem tenha começado a fazê-lo repentinamente e sem conhecimento e se tenha dado bem mal...!
    Beijinhos
    Maria

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    1. Conheço casos de pessoas que têm problemas graves nos joelhos por causa dos abusos.

      beijos

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  3. Tens muita razão no que aqui escreveste, vêem-se muitas mulheres e homens que abusam, porque acham que têm "pedal".
    Já corri, há muitos anos, mas nunca foi a modalidade que me seduziu.
    Percebi que a minha coluna não aguentava o impacto, deixei, passei a ir ao ginásio e, mesmo lá só faço o que penso ser adequado às minhas necessidades físicas.
    Adoro dançar e, como tal vou à zumba, a moda dos ginásios.
    Mas os meus joelhos sentem-se, logo , tento distribuir as atividades, pelos dias da semana.
    Em vez de ir três vezes por semana, vou duas, não salto, apenas me divirto.
    Caminho muito.
    Conheço o meu corpo, sei até onde posso ir e quando exagero, sinto o desconforto.
    Como tudo na vida, temos de ponderar nas nossas escolhas.
    Beijinho

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    1. As pessoas têm de conhecer o seu corpo. Saber o que podem fazer e dosear o esforço consoante as suas necessidades.

      beijos

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  4. Gosto particularmente da comparação da moda das corridas com a moda dos calções curtos de ganga que toda gente pensa que pode usar :)
    Obrigada pelas dicas :)

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    1. É mais ou menos o mesmo. De um momento para o outro, todas as mulheres entenderam que podiam usar esses calções, mesmo que lhes fiquem mal.

      Com a corrida é o mesmo :)

      Obrigado eu.

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  5. é capaz de ser como o azeite e as sardinhas. dantes faziam mal, agora é o que se vê. tudo se quer feito com bom senso, que às vezes parece ser o que mais falta faz nos dias que correm!

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  6. O que é "antigamente"? Há 100 anos atrás?
    Faço corrida há mais de 20 anos, e depois do futebol, sempre foi, e de longe, a mais popular das actividades físicas.
    Não é por ter chegado aos "vips" que se tornou importante, relevante. Nem as pessoas "ligam mais" porque o ex-1º corre ou porque aparece uma qualquer corrida nas páginas da Caras.

    Correr faz tão bem ou mal quanto qualquer outra actividade física. O problema está no conceito da "superação pessoal", como se tívessemos de competir com nós próprios, e nos "programas" divulgados por peritos da treta, que nem levam em consideração idade, peso, ou fisionomia de um indivíduo.

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    1. Neste caso tens um zero a mais. Na minha zona, recuando dez euros, não existiam as condições que existiam hoje. Quem quisesse correr, tinha que o fazer na areia e na berma da estrada. Só uma parte do percurso é que estava feita. E mesmo nos tempos de calor estavam poucas pessoas na rua. Hoje, são largas dezenas que por ali andam a fazer desporto. Quando era puto, antes do futebol joguei ténis de mesa e depois pratiquei atletismo e não era assim tão popular pois era eu e mais cinco ou seis miúdos. Estou a falar da minha realidade. Não estou a dizer que era assim no país inteiro.

      E acho que não se tratam de vips. Hoje em dia toda a gente quer correr. Nem que seja porque o vizinho da frente também correr. Concordo contigo. Correr pode ser tão perigoso como outra actividade. Há que saber adaptar o esforço ao corpo.

      Não concordo contigo porque sou a favor da superação pessoal. Acho que cada pessoa deve superar aquilo que consegue fazer. E aqui falo por mim que não quero correr daqui a um ano da mesma forma que corro hoje. Tal como quando joguei futebol queria superar-me e ser sempre melhor do que no último jogo.

      Outra coisa completamente diferente (e bastante perigosa) é querer competir com os outros. Superar o que os outros fazem. Isso sim é mau. Porque cada pessoa tem um corpo diferente e um esquema de treinos que pode ser diferente. É por isso que concordo com a superação pessoal mas não com a competição com a pessoa que acabou de nos ultrapassar e nos deixou ofendidos porque corre mais depressa.

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    2. Não conheço a "sua" zona, mas posso dizer que corria ao fim do dia entre Alcantara e Caxias, e cruzava-me com tanta gente como hoje. Idem para o Jamor, fui cliente dos circuitos de manutenção ao fim de semana, e aquilo estava apinhado.
      Hoje há mais infra-estruturas? Certo, mas isso vale para todas as modalidades. Eu jogava futebol no cimento ou em saibro, hoje jogo em campos marcados de relva sintética. Chama-se evolução.
      Não concordo com a superação pessoal. Desporto é lazer, tem de haver o mínimo de competição, e uma sensação de evolução, mas daí a estabelecer objectivos (e eu pratiquei atletismo enquanto federado, e aí sim tinha metas a cumprir) vai um longo passo. A corrida (running, como dizem agora os entendidos) é acima de tudo encontrar o nosso ritmo, e mantê-lo. Pessoalmente, prefiro correr mais tempo, do que correr o mesmo tempo e mais depressa.

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    3. Jon D,

      Como disse, falei da minha zona (margem sul do Tejo) mas disse que isso não implicava que fosse assim em todo o país. Acho que o desporto é o que cada um quer fazer dele. Para ti é lazer, o que é bom. Para mim tem uma dose de superação pessoal, algo com que não concordas e que respeito. Mas acho que ambos estamos de acordo que em lazer ou em superação pessoal, cada um deve fazer o que o corpo deixa e aguenta.

      Como disse, só acho mal que as pessoas metam na cabeça que devem fazer tudo o que os outros fazem. Isso é que é errado.

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