18.5.17

a decisão de mandar abater um cão

Ao longo da minha vida tive um cão. Na realidade foram dois. Mas quanto tive o primeiro era muito pequeno. E o tempo que esteve connosco foi pouco para que ficassem grandes memórias. Com o Óscar tudo foi diferente. Foram muitos anos a viver com ele. Acompanhou-me no crescimento e no processo em que passei de adolescente a homem. E dele me “despedi” quando fui viver com a minha mulher.

Não quero discutir a forma como cada pessoa ama um animal. Eu amava o Oscar como se fosse um irmão. As pessoas não têm de ser todas como eu. Nem tenho de seguir as ideias das pessoas que não concordam com esta forma de amar. Nem isso importa. Ao longo dos seus anos de vida o Óscar pregou alguns sustos. Até porque tinha ataques epilépticos com alguma frequência. Mesmo medicado. Mas os sustos nunca foram muito intensos. Ou seja, nunca vivi com o receio de olhar para o meu irmãozinho num estado de vida que me deixasse sem saber o que fazer.

O Óscar ficou estranho numa altura em que os meus pais não estavam em casa e em que eu e a minha irmã tínhamos a missão de tomar conta dele. Isto porque nunca passou uma noite sozinho em casa. A minha irmã ligou-me porque tinha visto sangue em casa dos meus pais. Fui imediatamente para lá. Não gostei do que vi e fomos com ele para a veterinária. A meio do caminho parecia ter morrido. Sem saber o que fazer, dei por mim a abanar o Óscar. E a chamar por ele com todas as minhas forças. Vi que estava vivo e cheguei ao veterinário.

Foi imediatamente levado para dentro. A veterinária veio dizer que estava fraco. Mas deu a entender que tudo ficaria bem. Até que vem ter connosco e diz que ele não deve durar muito e que podíamos ir ter com ele. Assim foi e o Óscar morreu perto de mim. Mentia se dissesse que a dor acabou naquele momento. Não há um dia em que não me lembre dele. Em que não pense nele. E nos momentos que vivemos. A dor não desaparece. Muda apenas de formato. De intensidade. Mas nada disto, desta dor, faz com que me arrependa de ter tido um cão. Isso não faz sentido para mim.

Recordo este episódio porque num passado recente, duas pessoas que me são próximas tiveram que tomar a decisão de mandar (ou não) abater os seus cães. Decisão que felizmente nunca tive de tomar. É “fácil” estar do outro lado da barricada. Dizer coisas como “se está a sofrer e se já não vive em condições é melhor tomar essa decisão”. Mas não sou capaz de me colocar no lugar dessas pessoas. De dar o ok a uma decisão que seria incapaz de tomar.

Não consigo imaginar a dor de escolher o momento em que o nosso amigo deixa de viver. Por mais sentido que isso faça. Mesmo sabendo que já não se levanta, que não come e/ou muitas outras coisas. É uma decisão que seria incapaz de tomar. Ao saber destas duas histórias fico agradecido por não ter vivido algo semelhante. Agradeço que o infeliz adeus do Óscar tenha sido rápido, sem o prolongar de uma dor que ninguém deve viver.

4 comentários:

  1. Tenho uma labrador com 9 anos. Moramos juntos há 9 anos. Quando saí de casa dos meus pais para ir morar sozinha. Tenho sempre tanta vontade de a ver quando saio do emprego, quando chego a casa da rua, quando volto de um fim de semana ou de férias... há pouco uma blogger falou sobre a morte do seu labrador com 9 anos desde esse dia dou ainda mais atenção à minha princesa canina, porque moramos as duas juntas... nem quero pensar muito nessa situação :\

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    1. O melhor é mesmo não pensares. Aproveita todos os momentos.

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  2. Olá :)
    Infelizmente já passei por essa situação, e mais que uma vez.
    Para mim os animais sempre foram parte da família. Mais que isso: sempre ocuparam um lugar especial no coração, no sanctum sanctorum dos afectos, onde só o círculo mais íntimo daqueles a quem queremos bem tem lugar.
    Há anos adoptámos 3 gatos. Foram tratados como filhos e mesmo assim quando chegaram aos 6/7 anos de idade todos tiveram grandes problemas de saúde. O Ulisses após um internamento faleceu em casa, (aos domingos a clínica fecha, e tivemos que ir busca-lo). Ele no vet parecia melhor, foi um choque tremendo e o clique necessário, para no caso do Eros (e somente um ano depois, do Zeus), pedir total clareza e frontalidade, que me informassem com total rigor quando à situação, sobre se ainda havia esperança, algo a fazer, ou se estaríamos na situação em que não havendo nada mais a fazer pela recuperação do animal, este estaria numa situação sem qualidade de vida, a sofrer.
    Adoptei um lema que é se não posso salvá-los da doença, posso certamente protege-los de um ciclo de sofrimento sem sentido. E assim fiz. Tanto no caso do Eros como do Zeus, estive sempre com eles, a olhá-los nos olhos, a dar-lhes carinho. Chorei baba e ranho, sofri horrores, e anos depois ainda custa, mas defendo esta posição. Que amar também é tomar a decisão mais difícil, se isso significar não prolongar o sofrimento de um ser, dando-lhe um fim de vida compassivo.

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    1. Quanto mais relatos ouço sobre esta dramática situação, mais complicado se torna imaginar a mesma e ter que decidir algo.

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