16.3.17

fortuna. da ilusão à triste realidade (uma lição para os pais)

Atletas como Cristiano Ronaldo (apenas para dar um exemplo próximo) ajudam a criar a ilusão de que o mundo do desporto está cheio de dinheiro. Ou seja, as pessoas olham para todos os jogadores como alguém que tem um ordenado mensal milionário. Mas isto não passa de uma ilusão. De uma ideia errada. Porque se existem poucos jogadores com o talento do português, também existem poucos que conseguem os rendimentos de Cristiano Ronaldo.

Apesar de as coisas começarem a mudar, a maioria dos jogadores ainda vem de meios com algumas limitações. É raro o jogador de futebol (de classe mundial e não só) que não tem uma história triste ou trágica associada a si. São, por norma, pessoas com poucos estudos e que sempre viveram com pouco. Até ao momento em que passam a ganhar muito dinheiro, não sabendo gerir o mesmo.

E nem todos estão rodeados das pessoas correctas. Muitos jogadores estão rodeados de pessoas que só querem dinheiro. E que só têm interesse no atleta enquanto é rentável para si. De resto, são inundados com propostas de negócios da China nos quais acreditam mas que servem apenas para perder dinheiro. E existem diversos casos de jogadores – Jorge Cadete será o melhor exemplo – que ganharam pequenas fortunas com a carreira mas que acabaram por perder tudo.

Má gestão? Falta de “cabeça”? Provavelmente! Mas nem só. Existem lesões que colocam um ponto final na carreira de forma precoce. Doenças, fraudes e muitas outras coisas. Mas existe a ideia errada de que todos ganham fortunas. Tal como existe a ideia errada de que o dinheiro dura para sempre. E foi nesse sentido que Tarantini (o capitão da equipa do Rio Ave) criou o projecto A Minha Causa que tem por objectivo ensinar os jogadores a gerir a carreira, especialmente a vertente financeira da mesma. E os números dados a conhecer por Tarantini são assustadores. Por outro lado, são uma lição para quem ainda olha para o desporto (não apenas para o futebol) de forma errada.

- 80% dos jogadores que se retiram da NFL (melhor campeonato do mundo de futebol americano) ficam falidos nos primeiros três anos.

- 60% dos jogadores que se retiram da NBA (melhor campeonato do mundo de basquetebol) ficam falidos em cinco anos.

- 2 em cada 5 jogadores (Premier League – campeonato inglês, um dos melhores do mundo) apresentam sérias dificuldades financeiras num máximo de cinco anos após o final da carreira.

- 1 em cada 3 jogadores (Premier League – campeonato inglês, um dos melhores do mundo) divorciam-se nos primeiros 12 meses após o final da carreira.

Estes dados são bastante curiosos. Nem que seja pelos simples facto de que dizem respeito a atletas que ganham muito (mas mesmo muito) mais dinheiro do que os portugueses. Para se ter uma ideia, um clube da segunda divisão inglesa paga um ordenado melhor do que clubes como Braga ou Guimarães, que estão logo abaixo dos chamados três grandes portugueses (Benfica, Porto e Sporting).

Nos dias que correm muitos miúdos ainda correm atrás do sonho de ser jogador de futebol. E ainda bem que o fazem. E muitos pais incentivam este sonho dos filhos. E ainda bem que o fazem. Mas cometem o erro de tentar fazer de crianças de dez anos atletas profissionais. E muitos pais não se importam que os filhos não estudem. Não querem pensar num plano b para a eventualidade de algo correr mal. E muita coisa pode correr mal. E dou apenas um exemplo. Uma das maiores promessas do Borrusia Dortmund era um jovem de 18 anos que se lesionou com gravidade recentemente e foi obrigado a abandonar a carreira. O sonho de ser um grande jogador “morreu” numa jogada que o levou para uma mesa de operações.

Este projecto de Tarantini é muito interessante. Não apenas para os jogadores que estão rodeados das pessoas erradas. Não apenas para aqueles jogadores que se aproximam do final de carreira. Mas também para muitos pais que vivem cegos com a ideia forçada de que o filho terá de ser o próximo Cristiano Ronaldo.

4 comentários:

  1. infelizmente existem muitas histórias assim, o Fernando Mendes, Fábio Paim...
    Mas o sonho de conseguirem algo, tolda-lhes a realidade. O FM então foi demais, dizer que no Brasil em dois dias ter gasto tanto que nem tem ideia, é fácil perder o controlo assim.

    Tinha em boa consideração o Tarantini, não deve ser inédita mas é sempre de louvar tais iniciativas.

    "80% dos jogadores que se retiram da NFL (melhor campeonato do mundo de râguebi) ficam falidos nos primeiros três anos" é futebol americano e não rugby

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    1. As histórias são mesmo muitas. E só em Portugal existem dezenas de exemplos. O Tarantini parece ser um rapaz com cabeça. Nota-se isso quando joga e quando fala. E agora com o projecto.

      Quanto ao erro, foi mesmo uma estupidez :) Obrigado!

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  2. Olá :)
    O que referes não acontece somente no desporto mas basicamente com todas as profissões que geram um extraordinário rendimento mas que são de curta duração. Lembrei-me logo de algumas modelos, ou melhor top models, e de uma notícia já com bastantes anos que ligava algumas destas famosas figuras ao que falas, mas por bons motivos. Por ter sido há muito tempo já não me recordo quem eram as visadas, se a Elle Mcpherson, a Claudia Schiffer ou outras, que ainda durante a era áurea das suas carreiras decidiram investir em negócios que fossem um plano de carreira alternativo quando a vida de modelo chegasse ao fim.
    Os deportos e a moda são muito semelhantes nesse aspecto: os profissionais são muito novos, e quando têm a sorte de ascender ao patamar que lhes permite muito sucesso e muito dinheiro, precisam mais que nunca de mentores que os guiem no bom caminho, que os lembrem que é preciso amealhar e semear outras searas porque quando chegarem aos 30, 30 e picos, acabou-se.

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    1. Oi :)

      Talvez o futebol seja o caso mais mediático e aquele que as pessoas mais associam ao dinheiro fácil. Mas tens razão nos exemplos que dás e todas essas pessoas correm os mesmos riscos. E a verdade é que poucas têm cabeça.

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