13.8.15

(des)encontros (capítulo catorze)


Assim que a rapariga se voltou foi dissipada qualquer dúvida que ainda pudesse apoquentar João. Não existia qualquer dúvida de que era ela. Era a mulher que tinha arrebatado o seu coração em Portugal. De tal forma que era o protagonista de uma viagem com final desconhecido mas com o objectivo de a encontrar. Mas se não tinha qualquer dúvida de que era Sophia, existia algo estranho no seu olhar. Algo que João não conseguia decifrar. Uma reacção que não era perceptível para si.

"És a Sophia não és?", perguntou João. "Sim, esse é o meu nome. Posso ajuda-lo em algo?", devolveu Sophia, para espanto de João. "Sou o João. Não te recordas de mim?", insistiu. "Não! É verdade que me chamo Sophia mas não serei aquela que procura", explicou. "Mas...", disse João sem tempo de prosseguir a frase pois Sophia virou costas, juntando-se novamente às amigas. A tristeza apoderou-se de João. Ainda mais quando ouviu as amigas gozarem consigo e Sophia murmurar às amigas que devia ser um falhado qualquer à procura de uma pobre coitada.

Mas João não tinha dúvidas. Não era apenas o nome que unia aquela mulher ao motivo da sua viagem. Eram a mesma pessoa. Por momentos pensou abordar Sophia novamente. Acreditou que pudesse ser esquecimento. Acreditou que a noite pudesse ter sido marcante para si e não para ela. Mas quando se preparava para avançar em direcção a Sophia percebeu também que poderia estar a ser ignorado propositadamente. Ou que as duas amigas impedissem uma conversa normal entre ambos. O medo de ser ignorado uma segunda vez fez com que se afastasse. Lentamente, com a sensação de que o seu corpo tinha aumentado cerca de uma centena de quilos em breves segundos. E como se isso não bastasse ainda conseguia sentir diversas facadas no corpo. Estas eram as sensações com que se deslocava.

Assim que se cruzou com o primeiro empregado pegou num copo. Não reparou se era vinho branco. Ou tinto. Ou outra bebida qualquer. Pegou nele e bebeu tudo de uma vez. Estava num tal estado que já depois de beber conseguia ser perceber o que tinha bebido. Sabia apenas que não era água e que queria mais. Não interessava se saboreava ou identificava a bebida. Naquele momento a sensação de beber trazia-lhe o conforto de que necessitava. E que provavelmente, dadas as circunstâncias, só lhe poderia ser oferecido pelo álcool. E assim pegou no segundo copo, levando-o à boca. No momento em que se preparava para beber ouviu uma voz dizer o seu nome, enquanto lhe tocava no ombro. Voltou-se e viu Sophia. O que não impediu que bebesse mais um copo.

"Não devo ser o João que procuras", disse-lhe. "Não sejas assim. Desculpa ter fingido que não te conhecia mas são duas amigas do meu noivo. Elas não estiveram em Portugal e não sabem o que se passou. Se te falasse perto delas tinha muito para lhes explicar. E não me apetece isso. Indo ao assunto, até porque não tenho muito tempo que elas foram ao wc, o que fazes aqui?", perguntou Sophia. "Podia dizer-te que vim ao concerto e que por obra do destino acabei por me cruzar contigo por aqui. Mas estaria a mentir. Não consigo parar de pensar em ti desde aquela noite. E vim à tua procura sem ter a certeza de que te encontrava. Quando soube deste concerto, calculei que estivesses cá. E estavas", explicou João.

"À minha procura? Vieste de Portugal apenas por mim?", referiu com espanto. "Sim. Pela mulher que com um beijo me deixou num estado tal que sabia que não descansava enquanto não fizesse esta viagem. Mesmo desconhecendo o desfecho da mesma. Precisava mesmo desta viagem", disse. "Mas o que esperas de mim?", perguntou Sophia. "Queres que abandone tudo por uma noite e um beijo contigo?", insistiu. "Eu não quero nada disso. Queria apenas encontrar-te. Queria apenas ver a mulher que me beijou e que me disse que não estava muito feliz com a relação. Se bem me recordo até disseste que te sentias presa à relação e que tudo estava a avançar muito depressa", recordou João. "Aquilo que tenho para te dizer é que me deixaste com vontade de fazer esta viagem. Tal como tenho vontade de estar contigo. De te conhecer melhor. De tentar algo contigo. Era isto que te queria dizer", explicou.

"João...", suspirou Sophia. "Não sei o que te dizer. Foi uma noite de excessos. O álcool já falava por mim. E não vou trocar aquilo que tenho por ti. Não te conheço. Talvez tenha desabafado contigo por acreditar que nunca mais te via. Talvez seja só isso", referiu. Por mais vontade, e era muita, de chorar, João esforçou-se como nunca para não revelar a sua parte fraca. "Esta viagem merecia mais do que a desculpa do álcool. E já agora, costumas dizer a todas as pessoas que esperas nunca mais ver que nunca as esquecerás?", perguntou. "Já te disse que não estava bem em mim. Foi a situação, foi o ambiente. Foi tudo junto. Nunca imaginei que fizesses isto. Nem eu mereço isso", disse Sophia.

"Estamos de acordo na parte do não mereceres a viagem. Nem do outro lado da rua quanto mais a que fiz. A desilusão está muito próxima da mágoa e poderia dizer coisas de que até nem me arrependeria porque agora sou eu que acredito que nunca mais te vou ver. Mas não o vou fazer. Peço-te apenas que nunca mais faças isto a ninguém. Se não estás bem com a tua relação, não aproveites aqueles momentos de libertação, algo que aconteceu em Portugal, para magoares pessoas que nada têm a ver com a tua vida. E obrigado", referiu. "Obrigado?", perguntou Sophia. "Obrigado por me mostrares que precisava de fazer esta viagem por mim e não por ti. Obrigado por me ensinares, à bruta, que nem todas as histórias têm um final feliz. Que sejas feliz", disse, voltando costas a Sophia.

"João", chamou Sophia. João acabou por se voltar. "Só mais uma coisa. Tenho de me ir embora porque este desgraçado vai à procura de uma pobre coitada", gracejou, mostrando a Sophia que tinha ouvido as suas palavras às amigas. "Algo que só deverá acontecer quando chegar a Portugal. Porque a pobre coitada desta história eras tu. Adeus", disse, pegando em mais um copo de vinho que bebeu antes de se afastar de Sophia. "João! João! João! Espera", gritou Sophia.

8 comentários:

  1. Oh Sophia Sophia que merias dois pares de lambadas no focinho.... João... vá.... NEXT... a Inês???
    :)

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  2. E o 15??? Não nos vais deixar assim pois não???
    Continua, estou a gostar muito.

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    1. Muito obrigado pelo incentivo.

      Espero escrever o 15 esta semana.

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  3. Esqueci-me de me identificar na mensagem que te acabei de enviar

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  4. Está a ficar cada vez mais interessante :)

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