O coração de Miguel batia como nunca antes tinha batido. Aquele era o momento mais intenso da sua vida. Era a altura em que, pelo menos era nisso que acreditava, ia saber o que se passava com Alexandra e com a filha de ambos. O seu coração batia tanto que parecia querer saltar do peito, rasgando a t-shirt que lhe cobria o tronco. “Doutor, não aguento mais. Diga-me por favor o que se passa”, disse Miguel. “Acompanhe-me por favor. Vamos conversar numa zona mais privada”, respondeu o médico mantendo a postura séria com que se tinha aproximado de Miguel.
Passaram a porta e caminharam mais alguns passos. Não mais de vinte. Como se tratava de uma zona de acesso restrito, o médico entendeu que poderia contar o que se passava a Miguel em pleno corredor, onde a probabilidade de serem incomodados não era grande. “Podemos ficar aqui a conversar que não seremos incomodados. “Ainda não me apresentei. Chamo-me Marco Aurélio e tenho estado a acompanhar a sua mulher”, disse. Miguel deu-lhe um aperto de mão que serviu também para interromper as palavras do médico. “Doutor, diga-me o que se passa que não sei nada”, implorou Miguel.
“Não lhe vou mentir. Foi algo grave o que aconteceu à Alexandra”, começou por dizer. Ao ouvir aquelas palavras, Miguel evitava, a todo o custo, chorar à frente de Marco Aurélio. “A Alexandra tem uma doença que se chama Pré-Eclâmpsia e que se caracteriza pela pressão alta”, explicou o médico. “Como assim?”, questionou Miguel. “Ela fez os exames todos e nunca acusou nada”, acrescentou. “Compreendo a sua indignação mas é algo que não é fácil de detectar e que só se manifesta no segundo ou terceiro trimestre da gravidez”, disse o médico. “Mas a situação fica pior”, prosseguiu Marco Aurélio. “É que a doença da Alexandra avançou para Eclâmpsia, uma patologia muito grave durante a gestação e que provocou a tensão alta e que pode levar à morte da grávida e do bebé”, explicou Marco Aurélio, num momento em que Miguel já não controlava as lágrimas.
“Não percebo doutor. Fizemos os exames todos. Fomos muito cuidadosos com tudo. Não percebo como é que isto foi acontecer”, disse Miguel já lavado em lágrimas. A conversa já se prolongava há alguns minutos. O tempo suficiente para que Miguel tivesse a lucidez necessária para compreender a situação. Analisando as palavras que ia ouvindo, Miguel mentalizou-se de que estava a ser preparado para uma má notícia. Era só nisso que pensava naquele momento. “Já me explicou o que se passou mas continuo sem saber como está a minha mulher. Acredito que todo o cuidado que teve na explicação foi para me preparar para algo que não quero ouvir. Por isso, força. Diga o que tem a dizer”, soltou Miguel, tremendo por todos os lados. “A Alexandra está bem. A sua mulher já está estável mas terá de ser controlada ao longo das próximas horas e terá de permanecer alguns dias no hospital”, pode ficar descansado”, disse Marco Aurélio.
Apesar do alívio, Miguel continuava a chorar. Se a má notícia não era sobre Alexandra, teria de ser sobre Carolina. “E como está a bebé?”, perguntou a medo. “Há pouco não me deixou explicar tudo sobre a doença. A Eclâmpsia resolve-se com o parto. Em alguns casos pode levar à morte da grávida, o que não aconteceu e também do bebé”, explicou Marco Aurélio, sendo prontamente interrompido por Miguel. “Está a querer dizer-me que a minha filha morreu? É isso”, insistiu.
“Não! Estou a querer dizer-lhe, apesar de não parar de me interromper, que já é pai. Que a sua filha já nasceu”, disse Marco Aurélio esboçando o primeiro sorriso da conversa. “Como? Importa-se de repetir?”, pediu Miguel. “Já é pai. A sua filha já nasceu”, voltou a dizer o médico. “Já sou pai”, gritou Miguel. Naquele instante, as lágrimas deram lugar aos sorrisos, acabando por abraçar o médico que devolveu o abraço. “Já sou pai! Já sou pai! Já sou pai!”, gritava vezes sem conta.
“Miguel, lamento interromper a sua alegria mas tenho mais coisas para lhe dizer”, disse Marco Aurélio. “Como lhe disse, a Alexandra terá de ser acompanhada e a sua pressão terá de ser monitorizada durante as próximas 48 horas mas não é tudo. Os bebés que nascem nestas condições têm quatro a cinco vezes mais probabilidade de ter problemas no pós-parto”, alertou. “Mas está tudo bem?”, perguntou Miguel. “Neste momento sim mas temos de dar tempo ao tempo”, disse o médico. “Quer ir ver a sua filha?”, perguntou.
“Claro que sim e garanto-lhe já que a bebé não terá qualquer problema pois tenho a certeza de que tem a força da mãe”, referiu Miguel aparentando toda a força e certeza que as suas palavras demonstravam. Enquanto caminhava ao lado de Marco Aurélio, Miguel era consumido por um pensamento. “Escolhemos Carolina mas esse não será o teu nome. Vais ter outro nome e aposto que a tua mãe vai querer”, era aquilo em que ia pensando enquanto caminhava para o primeiro encontro com a sua filha.
:')
ResponderEliminarCaramba!... uma pessoa não pode ler estas coisas nos intervalos do trabalho...
Muito bem Bruno! Parabéns pela história... toca mesmo muito cá no fundo!
Ainda estou aqui a controlar-me para não chorar no trabalho... bolas!
Beijinhos
Z.
Saber que uma simples história consegue provocar emoções noutras pessoas é uma sensação boa demais. Não tenho mesmo palavras.
EliminarObrigado ;)
beijos
E agora comecem as apostas para o nome! Eu digo Esperança.
ResponderEliminarDesde que não lhe chamem Mimikas, como o garoto do Kapinha, está tudo safo :)
Bolas! Eu queria Mimikas ;)
EliminarDestes dois será um, Esperança ou vitória, ou estou enganada?
ResponderEliminarNem eu sei ;)
EliminarQue Nervos!!!!!!!!! quase que tenho um sopro no coração!! quero mais!!!
ResponderEliminarEstou mesmo a gostar da novela... continua assim ;)
Beijinho grande
Está cada vez mais próximo do fim e confesso que este final era um de dois possíveis. E já estou a pensar noutra história.
EliminarBeijos
Já estava a contar com isso, o final aproximasse, ainda bem que não mataste alguma das mulheres do Miguel, ele morria de pena e nós leitores também.... fico ansiosa pelo próximo capítulo e se calhar desfecho ;)
EliminarSobre a próxima história :D :D :D :D :D
PS: :D
Mas olha que poderia ter sido um final bem trágico mas achei que os três mereciam mais do que isso, sobretudo eles dois por tudo o que viveram.
EliminarObrigado pelas palavras.
Não lhe dês o nome Vitória, pelo amor da santa!!!! Isso é do mais piroso que pode existir!!!
ResponderEliminarNem eu sei que nome terá...
EliminarNum dia pelo facebook pões-me a rir numa sala de espera de um hospital completamente cheia, noutro dia pelo blog pôes-me a chorar numa estação de barcos igualmente cheia. (Acgo que temos que conversar sobre as vergonhas que me fazes passar :c ahah)
ResponderEliminarEsta situação é-me bastante conhecida e não raras vezes lido com o desespero do Miguel e, se por um lado é sufocante, por outro é muito gratificante.
Este foi o único capitulo que não me deixou em pulgas para ler o proximo. Mas não pela historia, nem pela escrita... só mesmo pelo facto que preciso "saborear" o nascimento da pequena (não quero arriscar o nome, mas conheço um caso igualzinho em que o nome foi alterado e posso supor que poderá ser o mesmo :))
Ganhei o dia. Saber que consigo provocar isso tudo não tem preço. Este capítulo foi um pouco mais complicado porque envolvia termos médicos e explicações que retiram alguma da emoção que pretendia que este momento tivesse.
EliminarPor outro lado, começa a ser complicado remexer a história deles com muito impacto. Ainda se juntam os três para me bater :)
Vai chamar-se Vitória ;)
ResponderEliminarSerá? ;)
EliminarPronto, aqui a chorona já se comoveu...
ResponderEliminarEstou com a Bárbara, não lhe chames Vitória, nem Lutadora ou coisa que o valha!
Fico feliz e emocionado com isso :)
EliminarVamos ver no que dá...
Não ia dar palpites sobre o nome, não ia, não ia... mas vou! :-) A criança ia chamar-se Carolina, mas agora vai ter outro nome por causa do que se passou, não é? Pode ser Felisberta das Dores, ou algo do género!... JUST KIDDING!!! Agora a sério, acho Esperança e Vitória nomes perfeitamente legítimos e as pessoas que estão contra estas sugestões se calhar nunca passaram por uma situação como a que descreveste na história, em que, depois do susto, se quer mesmo dar um nome que traduza o que se sente. Isto não quer dizer que não haja outro nome "forte" neste sentido, a mim é que não me ocorre nenhum - tirando, claro, Felisberta das Dores! ;-)
ResponderEliminarO que explicas é o espelho do que senti no momento em que decidi mudar o nome. Obrigado ;)
EliminarMaisssssssss! Quero maissssss!!!!
ResponderEliminarBelicha
Fico muito feliz por isso :)
EliminarJá disse que esta história mexe comigo, não já?
ResponderEliminarParabéns pela forma fantástica como tens escrito este conto!
É bom saber isso. Fico muito feliz.
EliminarMuito obrigado Roger.